MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
A decisão dos EUA de vetar a venda de 20 aviões militares da Embraer, os Super Tucano, para a Venezuela, em 2005, levou a preocupações de segurança nacional por parte do Brasil. Os EUA têm poder de veto pois 50% dos componentes do avião são de origem americana.
De acordo com telegramas da Embaixada dos EUA em Brasília, o governo brasileiro declarou que não gostaria de ver a Venezuela de Hugo Chávez adquirindo aviões de tecnologia superior da Rússia ou de outro país.
O temor do Brasil era de que isso provocasse um "desequilíbrio de forças na América do Sul", segundo manifestação do então subsecretário-geral de cooperação do Itamaraty, Ruy Nogueira.
Outro argumento foi de que, como fabricantes, EUA e Brasil teriam poder para deixar os Super Tucano "no chão", se no futuro achassem que não era conveniente deixar Chávez operando o avião. Bastaria se negar a fazer manutenção ou a vender peças de reposição.
O negócio representaria uma venda de US$ 170 milhões para a Embraer.
O telegrama, obtido pelo site WikiLeaks e classificado como secreto, revela que o assunto foi tratado durante a visita do presidente George W. Bush a Brasília em 2005.
A Folha e outras seis publicações têm acesso ao material antes da sua divulgação no site do grupo (www.wikileaks.ch).
Na ocasião, Bush manifestou preocupação com a venda para a Venezuela e disse que o Congresso poderia se opor. Porém, Bush deu alguma esperança a Lula ao declarar que a decisão não estava tomada: "Temos de ser prudentes. Não precisamos tomar uma decisão aqui".
Logo após a visita de Bush, o então chanceler Celso Amorim enviou uma mensagem à secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, dizendo que a Embraer só iniciou a negociação com Chávez depois que os fornecedores americanos produziram garantias por escrito de que o governo americano não se oporia ao negócio.
A mensagem dizia ainda que o governo brasileiro "apreciaria imensamente" que os EUA mantivessem sua posição.
Amorim lembrou que o Super Tucano seria usado para missões domésticas, como defesa do espaço aéreo e combate ao narcotráfico.
Quase quatro anos depois, o veto à venda dos Super Tucano foi lembrado pelo embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel, como um exemplo de divergência entre Brasil e EUA na política de controle de exportação de equipamentos militares.
Em um telegrama de 22 de junho de 2009, Sobel escreve que, apesar de o governo brasileiro ter argumentado à época que a venda poderia dar a Brasília um maior poder de influência sobre Chávez, "é provável que o desejo do Brasil de vender o Super Tucano tenha sido motivado por pressões da Embraer para proteger empregos às vésperas das eleições de 2006".
Colaborou FERNANDO RODRIGUES, de Brasília
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