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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

#RIO O Haiti é ali - Sem acesso ao IML, famílias enterram corpos no quintal de casa na região serrana do RJ


Por Vinícius Queiróz Galvão, na Folha Online:

Seis dias depois da chuva que devastou cidades da região serrana do Rio, moradores de áreas isoladas estão enterrando parentes e amigos no quintal de casa. É assim em Santa Rita, uma região de sítios em Teresópolis que, depois de sucessivos deslizamentos que derrubaram pontes e estradas, transformou-se em pedaços de terra ilhados. Só é possível chegar à localidade de helicóptero ou através de trilhas pela mata, num percurso de oito horas ida e volta.

Com a impossibilidade de acesso do IML (Instituto Médico Legal) para recolher cadáveres, com a prioridade de resgatar pessoas com vida e com o estado avançado de decomposição, os corpos têm sido enterrados em covas rasas nas ruínas das casas. “Enterrei meus quatro vizinhos no quintal. Já estavam lá desde terça, ninguém suportava mais o mau cheiro”, diz o lavador de carros Edson Aquino, abrigado num estádio de Teresópolis.

“Quem não reconheceu os mortos deixou tudo para trás, por cima da terra. Em Santa Rita é só corpo e lama. Nunca pensei que tivesse de enterrar meus parentes em casa”, afirma a doméstica Suzana da Silva Oliveira. No IML de Teresópolis, parentes reclamam da demora na identificação dos corpos e da burocracia para liberá-los. Na entrada do instituto médico, uma cartolina improvisada dá a orientação aos familiares em dez pontos.

Depois do reconhecimento do corpo, é preciso preencher um ficha, que deve ser entregue a um papiloscopista. O IML então emite um documento que deve ser levado à Defensoria pública, que por sua vez emite um alvará para liberação do cadáver.

De lá, o parente tem de ir ao subsolo entregar o alvará à funerária para remoção do corpo. E, se não puder pagar todo esse processo, é preciso voltar à recepção. “É um desrespeito. Não se comovem com o nosso sofrimento. Perdi sete pessoas da família, imagina o vaivém para resolver toda essa papelada”, diz a doméstica Maria Cinira das Dores.

Com muitos corpos em decomposição, o reconhecimento só é feito por imagens. Os cadáveres são retirados dos caminhões frigoríficos e fotografados no meio da rua. A necropsia também é feita na calçada. Se não conseguir confirmar a identidade do morto por fotos, os parentes tiram sangue para fazer exames de DNA, depois comparados com amostras dos corpos. “Preenchi a ficha duas vezes porque perdem os documentos. Prometeram liberar o enterro na sexta de manhã, mas até agora [sábado, 15], nada”, disse o frentista Márcio dos Santos.

Houve tumulto e a confusão foi tanta que o juiz José Ricardo Aguiar, da 2ª Vara de Família, subiu no galpão anexo do IML para pedir calma aos familiares. A assessoria da Prefeitura de Teresópolis não tem conhecimento sobre enterros de corpos em quintais. De acordo com o assessoria, a Justiça local buscará confirmar a informação quando a situação se acalmar.

Por Reinaldo Azevedo

Prefeitura briga com Igreja e Cruz Vermelha por doações

Em Teresópolis, voluntários dizem que servidores impediram distribuição de donativos e o trabalho de médicos

18 de janeiro de 2011 | 0h 00

Bruno Boghossian e Roberta Pennafort - O Estado de S.Paulo

De um lado, donativos que chegam às toneladas de todo o País. De outro, a falta de entrosamento entre a prefeitura de Teresópolis e organizações que tentam fazê-los chegar de modo mais eficiente a quem precisa, como a Cruz Vermelha e a Igreja Católica, cuja iniciativa, dizem voluntários, está sofrendo obstrução pelo poder público. Até médicos foram impedidos de trabalhar.

Voluntários da Cruz Vermelha afirmaram ontem que funcionários da prefeitura tentaram impedir a saída de carregamentos do galpão montado pela organização internacional no centro. A prefeitura nega. "Está acontecendo uma briga de egos aqui em Teresópolis. A prefeitura determinou que nada pode ser entregue sem sua autorização", disse Jairo Gama, um dos cem voluntários da Cruz Vermelha.

Em uma reunião com a organização, a prefeitura afirmou que vai centralizar a entrega do material. A Cruz Vermelha, no entanto, diz ter condições de fazer um trabalho mais direcionado, já que dispõe de informações precisas sobre as necessidades de cada localidade. Apesar da intervenção da prefeitura, a Cruz Vermelha continuou fazendo entrega de material ontem - montou um ponto de distribuição em outro ponto da cidade. "O que a gente quer é evitar o desperdício. Por exemplo: não adianta entregar 30 quilos de arroz a uma pessoa de uma vez só", disse Luiz Alberto Sampaio, presidente da Cruz Vermelha no Rio.

O prefeito de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek, negou problemas de entendimento. "Uma operação como essa precisa de um comando centralizado. Está todo mundo cooperando. Não temos dificuldade com ninguém."

Também há relatos de que médicos que estão em Teresópolis para prestar atendimento gratuito à população foram impedidos por funcionários da prefeitura de sair da base da Cruz Vermelha. Isso ocorreu ontem de manhã. À tarde, na reunião, ficou definido que a Cruz Vermelha atuará no atendimento nas cinco localidades mais castigadas.

A prefeitura também está sendo acusada de impedir a distribuição de donativos por parte da Igreja Católica. Segundo o padre Paulo Botas, integrantes da comunidade católica que foram até o estádio Pedrão, usado como abrigo, ouviram de funcionários municipais que "nenhuma igreja católica de Teresópolis vai receber doações". A prefeitura desmente a informação.

"O prefeito é evangélico e não quer que a ajuda vá para os católicos", diz o padre. O padre Mario José Coutinho, decano da Diocese de Petrópolis, afirma que a situação é de boicote à Igreja Católica. "Isso é surreal, uma ofensa, uma vergonha. Transformaram uma questão humanitária em religiosa."

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