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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

#RIO : O peso econômico

Enviado por Míriam Leitão, Alvaro Gribel e Valéria Maniero

A tragédia humana será sempre maior, mais devastadora, presente em todas as mentes. Mas existe também a tragédia econômica. As áreas atingidas produzem quase todas as hortaliças consumidas no estado do Rio. Tem pólo metal mecânico, têxtil, de confecções e turismo. O Rio conta também as perdas materiais: refazer o destruído, e, quando puder, voltar a produzir.

O governo e as empresas estão ainda calculando quanto se perdeu e quanto tempo será preciso para a recuperação. A Firjan fez uma pesquisa: 62,2% de 278 empresas consultadas foram afetadas, pelo menos 20% delas com alagamento do parque produtivo; a falta de funcionários foi sentida por quase todas; 82% ficaram sem energia elétrica. O cenário na agricultura é também devastador.

Ângela Thompson, diretora do Sítio do Moinho, em Itaipava, estava ontem com sua equipe tomando pé da situação nos seus seis hectares de produção orgânica. Ela fornece o produto para restaurantes, supermercados, e faz entregas domiciliares. As entregas foram suspensas. Ontem, no fim do dia, a empresa avisou que retomará o fornecimento. Uma parte da produção de hortaliças e legumes, feita em área coberta e mais alta, foi salva:

— Alguns dos meus funcionários estão ilhados. Felizmente, não perdemos ninguém, mas alguns perderam tudo e não conseguem vir para o trabalho. Uma ponte para cá foi restabelecida, mas precariamente.

Há produtores em situação bem pior. Além de perder a produção, a camada de terra produtiva foi soterrada por pedras, por areias que saíram do fundo dos rios. Quem tem produto, tem dificuldade de colher e escoar por falta de pessoal e estradas.

Comprar verduras, legumes e frutas é um desafio. Quase nada se encontra, mas o impacto que os moradores do Rio sentem pesará pouco no índice. Tudo acaba diluído, na média. O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, disse que as coletas diárias de preços já mostravam saltos fortes antes das chuvas:

— Alguns tubérculos subiram muito no fim do ano passado, como batata-inglesa, chuchu e tomate. Tomate, por exemplo, teve salto de 30%. Não apenas no Rio; em Belo Horizonte, tubérculos tiveram alta de mais de 20%. Fruta também subiu. Quando forem coletados os aumentos atuais dos preços de hortaliças e verduras, o impacto, no índice, será pequeno porque eles representam apenas 0,16% do IPCA.

É uma catástrofe para quem produz; um peso para quem consome, mas no índice mal se verá. Se os produtos não forem encontrados, não entrarão no índice.

Mas nos supermercados com os quais conversamos, a informação é de que há altas de preços e desabastecimento.

— Cem por cento das nossas hortaliças vêm de lá. Alguns fornecedores tiveram menos prejuízos porque trabalham com estufas, mas a oferta caiu mais da metade e os preços subiram absurdamente, para nós entre 50% e 60%. Se não tivéssemos essas parcerias e fôssemos comprar na Ceasa, seria o triplo — diz o diretor do Prezunic Genival Beserra.

Ele acha que trazer de São Paulo ficaria mais caro, e poderia derrubar mais ainda os produtores da Região Serrana, que não teriam mercado para o pouco que conseguiram salvar da produção.

Alaídio Gonçalves, gerente-geral do Hortifruti, diz que 100% das hortaliças das suas 21 lojas vêm da Região Serrana. Ele também constata que o que está chegando está com preço bem mais alto. O Pão de Açúcar diz que trará de São Paulo, mas lá também choveu. O Zona Sul não quis falar.

Muitos precisarão de tempo para se recompor. André de Souza Avelar, da UFRJ, especialista em hidrologia e processos erosivos, disse que serão necessários seis meses para recompor o solo perdido e fazê-lo produtivo novamente. E será caro.

O secretário do Desenvolvimento, Julio Bueno, me disse que estão sendo criadas linhas de crédito para socorrer produtores. Mas o que é tão importante na mesa do Rio, que desapareceu das feiras e supermercados, tem um peso até pequeno quando comparado com outros setores produtivos:

— O Valor Adicionado pelo setor agropecuário nestas cidades — Areal, Bom Jardim, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro, Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto — é R$ 268 milhões. A indústria é R$ 2,1 bilhões e o setor de serviços é R$ 7 bilhões.

Tudo foi violentamente impactado. O setor de turismo se aflige não apenas pelo cancelamento de 100% das reservas nos hotéis, pelo abandono dos restaurantes, mas porque não sabe quando estará de novo em condições de atrair turistas. Em Friburgo, há um forte pólo metal mecânico onde se produz 25% da produção nacional de ferragens e fechaduras. Há produção de água mineral, uma indústria moveleira importante, material elétrico, plásticos, confecções. Tudo está de uma forma ou de outra afetado pela avalanche que passou sobre essa região.

O comércio das três cidades maiores, Petrópolis, Teresópolis e Friburgo, está com uma perda diária de R$ 8 milhões de faturamento, segundo a Fecomércio.

— O impacto é significativo e vai chegar ao mercado de trabalho, porque o momento é de os empresários fazerem as contas da expectativa da demanda — diz João Carlos Gomes, Superintendente de economia e pesquisa da Fecomércio.

Bueno diz que, ao contrário da ideia que se tem de área rica, a região Serrana tem IDH e arrecadação de impostos per capita menores do que os do estado. Até Petrópolis. Os empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho, são 161 mil. Segundo a Firjan, o prejuízo foi, só nas indústrias atingidas, de R$ 153 milhões.

— O cenário é de terra arrasada — disse Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan.

Será lento e doloroso o caminho da reconstrução econômica da Serra do Rio.




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