Os dois estavam sendo procurados desde a semana passada, mas só ontem um advogado se apresentou para marcar os depoimentos
30 de setembro de 2010 | 0h 00
Rosa Costa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Só depois das eleições a Polícia Federal vai tomar o depoimento dos filhos da ex-ministra da Casa Civil da Presidência Erenice, Israel e Saulo Guerra, sobre as denúncias de tráfico de influência nos contratos de empresas com órgãos do governo federal.
Os dois estavam sendo procurados desde a semana passada, mas somente ontem, após a ameaça de serem conduzidos à força, com a autorização da Justiça, é que um advogado compareceu à PF para marcar os depoimentos. Israel e Saulo são acusados de intermediar negócios com empresas privadas mediante o pagamento da chamada "taxa de sucesso", no valor de 6%, destinada, não se sabe se em parte ou totalmente, a saldar compromissos políticos, conforme revelou o empresário Fábio Baracat.
O Estado mostrou na edição de sábado documentos que estão em poder da Polícia Federal confirmando que os dois receberam R$ 120 mil seis dias depois de a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) conceder permissão de voo à Master Top Linhas Aéreas (MTA). Os papéis mostram que eles e seus sócios também tentaram cobrar propina de R$ 50 mil em negociação para que a Infraero reduzisse uma multa de R$ 723 mil que havia sido imposta à MTA.
Silêncio. Já o ex-assessor da Casa Civil Vinícius Castro e sua mãe, Sônia Castro, se recusaram ontem a prestar informações à PF sobre o esquema de cobrança de propina nos contratos do governo. O advogado Emiliano Aguiar sinalizou que, no decorrer do inquérito, Vinícius e Sônia podem revelar fatos ainda desconhecidos das transações relacionadas à Casa Civil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Qualquer coisa que possa ser dita agora pode ser dita a qualquer momento", afirmou Aguiar, antes de deixar a Superintendência da PF. "Eles estão exercendo o direito de, neste momento, não trazer os fatos de que têm conhecimento, porque entendemos que estrategicamente não é interessante".
Outra opção apresentada pelo advogado é a de seus clientes só se manifestarem em juízo, no decorrer do processo. "Os fatos é que terão de ser avaliados, por enquanto o melhor é não falar", acentuou.
Argumento. "Eles estão convictos de que não fizeram nada errado, mas acham que neste momento inicial não é possível prestar informações que poderiam ser distorcidas", alegou. Sobre a possibilidade de os dois operarem mediante orientação de autoridades do governo, o advogado disse que, aí, caberia aos jornalistas avaliarem a situação.
"Eu não posso dizer sobre o imponderável, é vocês que têm de tirar as conclusões. Entendo que o exercício legítimo de permanecer em silêncio, não pode ter outra conotação além do exercício regular de um direito", afirmou Aguiar.
Vinícius e Sônia Castro foram intimados a depor como envolvidos em operações relacionadas à Empresa de Correios e Telégrafos e a Anac, onde Vinícius trabalhou antes de ser transferido para o Palácio do Planalto. Residente no interior de Minas Gerais, Sônia Castro aparece como sendo uma das donas da empresa Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, juntamente com Israel e Saulo, filhos da ex-ministra Erenice Guerra.
Abatidos pelo escândalo. As denúncias de irregularidades derrubaram Erenice, que ainda não foi substituída na Casa Civil da Presidência, além de Vinícius Castro e seu tio, o diretor de Operações dos Correios, Marco Antonio de Oliveira, e Stevan Knezevic, também citado nas denúncias de tráfico de influência nos contratos de empresas privadas com órgãos do governo federal.
Devolvido pela Casa Civil à Anac, seu órgão de origem, Knezevic foi intimado a depor na Polícia Federal amanhã à tarde.
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