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domingo, 12 de julho de 2009

Michael venceu



Seg, 29/06/09

Tem muita gente reclamando que a morte de Michael Jackson está provocando mais polêmicas do que devia. Morreu depois de ter agredido seu próprio organismo de todas as formas, tentando ser quem não era. É uma visão simplista.

A morte de Michael se tornará um mito maior do que a morte de Elvis. Não pela importância do ídolo, mas pelo legado do personagem.

Michael Jackson é descrito por quase todo mundo como um prisioneiro de seu delírio racial, um ser de plástico. Um reprimido que lutou de forma patética contra sua própria natureza. Eis um engano confortável.

O cantor, compositor e bailarino espetacular estava entre os mais humanos dos humanos. Só o humano sonha, só o muito humano leva a sério seu sonho.

Michael tinha sonhos arrepiantes, às vezes soturnos, sobre sua pessoa. Um garoto forjado no meio de conflitos familiares e sociais pesados, de onde brotou sua arte. A linda melancolia de sua voz nos primeiros hits era o choro não chorado em casa.

Todas as mutações de Michael Jackson foram sua investida cega contra a repressão sofrida. Nunca aceitou caber no papel miserável que o destino lhe reservou. De um jeito neurótico, mas corajoso, foi atrás da liberdade total – e a mudança de cor era uma alegoria dessa busca.

Para lutar contra as marcas da opressão na infância, não bastava ser dono do próprio nariz. Era preciso desenhar seu próprio nariz. E seus cabelos, e sua opção sexual, e sua Terra do Nunca, e seus passos de dança inigualáveis e eternos.

Do alto de seu sofrimento e glória, o andróide Michael Jackson era humano. Demasiadamente humano.

Rasgou todos os scripts da vida, escreveu cada linha de sua história. Louca história. Mas sua. Um final feliz, apesar de triste.





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