No caso José Sarney, um fato chama especial atenção. Ou melhor: não chama, mas deveria chamar.
A movimentação frenética de Dilma Rousseff nos bastidores em defesa do presidente do Senado não tem paralelo. Nem Roseana faria tanto. A companheira de armas fez da defesa do filhote da ditadura sua grande causa.
Clamando por uma ideologia, Cazuza cantou que seus heróis morreram de overdose e seus inimigos estavam no poder. Não se sabe quem são os heróis de Dilma, fora José Dirceu. Mas seus inimigos estão no poder, e ela não abre mão deles.
Depois que a ideologia do PT acabou, o projeto Lula-Padre Cícero pariu Dilma em laboratório, e vai buscando para ela as raízes que pode. Dentre elas está a igreja de José Sarney, na qual hoje rezam, entre outros, Fernando Collor de Mello e Renan Calheiros – sócios da capitania hereditária do Senado.
Eis onde foi parar a modernidade progressista brasileira. Dilma Rousseff é a esquerda de direita, o encontro milagroso entre o amanhã e o anteontem.
Para quem quiser saber que projeto de país há por trás do Plano Dilma, a resposta está aqui, rápida e gratuita: nenhum. Nem o populismo terceiro-mundista pode ser tomado como a receita provável. É uma só a ideologia do pós-Lula para o poder: ficar lá. Do jeito que der.
Se não der para continuar no paraíso da gastança de dinheiro público com política monetária justinha, não tem problema. Podem até dar nova guinada neoliberal, se for preciso. O importante é manter o PMDB, os sindicatos, o Sarney e todos os donos dos cabides sob sua asa.
Depois da ditadura, o poder no Brasil passou quase dez anos como projeto de uma ação entre amigos – na Nova República de Sarney, e na Novíssima República de Collor. Parece que foi ontem.
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