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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Tá frio, ministro


Qua, 29/10/08
por gmfiuza |

O governo brasileiro, como se sabe, andou minimizando a crise internacional. Como o otimismo já estava pegando mal, diante da crescente derrocada do mercado, Guido Mantega, nosso homem forte (sic), resolveu bater no peito e admitir que a tormenta será intensa e duradoura.

Fez isso exatamente no momento em que as bolsas voltaram a subir no mundo inteiro.

Está interessante essa brincadeira de esconde-esconde entre a autoridade e a crise. Talvez seja a hora de alguém começar a orientar Mantega na base do “Tá quente!”, “Tá frio!”, para ver se ele pára de se desencontrar dos problemas.

É uma crise que ninguém sabe direito qual é, nem onde vai dar. Mas uma coisa é certa: o mercado nunca esteve tão passional. Ou seja, é a hora dos líderes regerem as expectativas. Não de serem regidos por elas, como o ministro da Fazenda brasileiro.

As comparações com a crise de 29 nos Estados Unidos são patéticas. Naquela ocasião, o mercado financeiro, ainda de calças curtas, perdeu completamente o passo em relação às riquezas da economia. Os papéis voaram para muito longe da equivalência com os bens.

É impossível um descompasso desse nível nos dias de hoje. Por mais que o valor dos títulos seja arbitrário, há um cipoal de amarras entre o mercado financeiro e as riquezas produzidas. No mundo atual, não dá mais para os Estados Unidos dormirem ricos e acordarem com o pires na mão.

Os alertas de que poderia estar se iniciando uma nova Grande Depressão, que se arrastou por toda década de 30, podem ser alarmismo, ingenuidade ou ignorância.

A bolha imobiliária americana e as alavancas exageradas dos fundos de investimento baratinaram o sistema de crédito. A confiança foi momentaneamente para o brejo. A suposta “crise econômica” é, antes de tudo, uma crise de expectativas.

Num efeito dominó cheio de irracionalidade, em que se viram simples lojas de departamentos capando vendas a prazo antes de qualquer contração real do crédito, o componente psicológico é determinante. Aí entra o papel dos líderes.

Nos anos 30, Roosevelt não tinha só um plano. Tinha carisma. O New Deal, de certa forma, era ele.

No que depender do carisma e da presença de espírito de um Guido Mantega, a prosperidade (da crise) está garantida.



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  • Guilherme Fiuza

    Jornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também o livro 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área. Este espaço é uma janela para os grandes temas da atualidade, com alguma informação e muita opinião.




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