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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Saudade dos especuladores

As notícias sucessivas sobre demissões em massa nas grandes empresas (agora a GM com dez mil no olho da rua) estão parecendo aquela piada da queda do avião num cemitério português: a busca por corpos nunca mais que acaba.

Os empresários – também conhecidos como coitadinhos profissionais – enxergaram a oportunidade de ouro para exercer sua principal habilidade: tomar dinheiro dos governos. Está mais fácil do que nunca. E nem precisa das habituais manobras políticas debaixo dos panos. É a crise. Viva a crise.

Num surto patético de neo-keynesianismo – a onda estatal salvadora contra a ruína do neoliberalismo – os governos foram chamados pela opinião pública a gastar. Liberou geral. Você, empresário, não fique aí parado. Divulgue também uns números pré-falimentares para candidatar-se às boquinhas dos BNDES da vida.

O mundo ainda vai ter saudade dos especuladores, os tubarões da maldita “economia virtual”. Eles montaram suas pirâmides temerárias, suas bolhas de riqueza, mas ali pelo menos entrou quem quis.

Com essa mentira da nova Grande Depressão, o seu dinheiro vai enriquecer os tubarões bonzinhos da “economia real” – só que você não será consultado. E lá vai trilhão, com a bênção alarmista da era Obama.

Nessa política de babá de empresário, o Japão ficou quase 20 anos estagnado. Está na hora de aparecer alguém com coragem para gritar um “deixa quebrar!”. Aí saberemos o tamanho real da crise.


Guilherme Fiuza

Guilherme FiuzaJornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também os livros 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil, e Amazônia, 20º Andar, a aventura real de uma mulher urbana na floresta tropical. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área. Este espaço é uma janela para os grandes temas da atualidade, com alguma informação e muita opinião

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