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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Rapariga de 16 anos morre vítima de Creutzfeldt-Jakob


Segundo óbito em Portugal causado por nova variante da doença que ataca pessoas jovens


PEDRO OLAVO SIMÕES E ALEXANDRA LOPES

Sara já não reconhecia ninguém. Em 2007, o diagnóstico roubou a esperança. Morreu ontem e é a segunda vítima, em Portugal, da variante da doença de Creutzfeldt-Jakob que o vulgo associa às vacas loucas. Tinha 16 anos.

Tecnicamente, a causa da morte é, apenas, uma forte probabilidade, pois esta doença incurável e fatal não pode ser diagnosticada com toda a certeza em vida (ver caixa). Mas isso seria um detalhe pouco importante para aquela família de Bairros, Vila Nova de Famalicão, que cedo entendeu que a "menina alegre e estudiosa, que gostava muito de música" - palavras do pai, David Pereira - caminhava para um fim precoce e cruel. O consumo de carne de vaca contaminada terá sido, tudo o indica, a causa da doença, o que se confirmará se esta for a nova variante que ataca pessoas jovens e que, há menos de dois anos, vitimou um rapaz das redondezas.

Em comunicado, o director-geral da Saúde, Francisco George, anunciou a morte da rapariga, que vinha sendo acompanhada desde há dois anos. Explicando que "estão a ser observadas todas as normas nacionais e europeias previstas para estas situações", esclarece ainda que "este é o segundo óbito registado em Portugal com diagnóstico de Creutzfeldt-Jakob, não havendo outros casos notificados até à presente data" (trata-se de uma doença de notificação obrigatória).

Na freguesia de Bairro, o drama nada teve a ver com estatísticas e, embora o desenlace fosse esperado, pôs em choque todos os que eram próximos de Sara Patrícia. Foi pela manhã, quando lhe davam banho, que as técnicas da Segurança Social que a acompanhavam notaram algo de anormal: a rapariga entrou em paragem cardio-respiratória e as tentativas de reanimação, feitas por bombeiros e pelo INEM, nada adiantaram.

No quarto onde permaneceu acamada e onde morreu, posters nas paredes lembram o gosto que Sara tinha pela música e pela vida. Aos 14 anos começou a sentir-se mal e a ter dificuldades de locomoção. Uma primeira consulta médica nada detectou, um primeiro internamento em Famalicão também não, e só no Hospital de S. Marcos (Braga), onde esteve "três ou quatro meses", se percebeu o que realmente estava a acontecer. Não voltou à escola em Riba de Ave, onde frequentava o 8.º ano, e só andou cerca de um mês pela casa em cadeira de rodas, ficando na cama desde então. Para lhe dar apoio em permanência, os pais tiveram de ficar de baixa, contando com apoios de particulares para superar as dificuldades acrescidas.

Esta nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob tem, como se disse, a particularidade de atacar pessoas mais jovens, em contraste com a variante tradicional da doença. Embora a doença permaneça pouco clara quanto à forma como é contraída (é certo, porém, que não se transmite de pessoa a pessoa), esta nova variante parece claramente associada ao consumo de carne de bovinos contaminados com BSE (encefalopatia espongiforme bovina), conhecida por "doença das vacas loucas". Perda da capacidade intelectual, cansaço ou espasmos musculares são alguns sinais desta doença que afecta o cérebro e que, à luz do conhecimento presente, é mortal e incurável.

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