O realizador apresentou "Singularidades de Uma Rapariga Loura" fora de concurso em Berlim
Manoel de Oliveira: "Não tenho mérito nenhum nos meus cem anos"
10.02.2009 - 09h46 Jorge Mourinha, em Berlim
Manoel de Oliveira é hoje homenageado pela organização do Festival de Berlim, que lhe atribuiu o prémio especial Berlinale Kamera pelo conjunto da sua carreira, entregue na estreia mundial, fora de competição, do seu novo filme, "Singularidades de Uma Rapariga Loura", que decorre esta noite na capital alemã.
Mas a adaptação de Eça de Queiroz pelo mestre centenário foi mostrada em antecipação à imprensa ao fim da tarde de ontem. Os 250 jornalistas que enchiam a sala receberam o filme (que dura apenas 64 minutos) com risos de reconhecimento, aplausos entusiastas e alguma perplexidade, consoante conhecessem a obra do cineasta ou a descobrissem pela primeira vez, e quase não houve abandonos.
Após a sessão, Manoel de Oliveira respondeu durante cerca de uma hora a perguntas entusiastas de jornalistas maioritariamente europeus, numa conferência de imprensa pouco concorrida devido ao horário tardio, sobreposto ao início das projecções da noite.
O cineasta, que admitiu "não ter mérito nenhum nos meus cem anos - é um capricho da natureza", explicou que a sua decisão de filmar Eça de Queiroz "já tardava".
Oliveira não tocou no diálogo original, que manteve intacto, mas actualizou a acção para os nossos dias. "A Lisboa do século XIX era completamente diferente e tornava-se caro e difícil reconstituí-la."
Admitindo que se trata de um filme sobre "valores essenciais que na modernidade se perderam", o cineasta apontou a actualidade da história - "a situação do Macário", o herói nominal da história, guarda-livros que ganha e perde uma fortuna, "é semelhante à situação dramática [que se vive hoje em dia]".
Também presentes na conferência de imprensa, os actores Catarina Wallenstein, Ricardo Trêpa (neto do realizador) e Filipe Vargas e os produtores François d'Artemare e Luis Miñarro elogiaram a visão de Oliveira.
François d'Artemare, que trabalha aqui pela segunda vez com o realizador após Cristóvão Colombo - O Enigma, realçou: "O filme já está montado na cabeça do Manoel. Ele tem uma capacidade de concentração e de trabalho únicas, fixa no início da rodagem uma linha e segue-a até ao fim. Já traz o trabalho de casa feito, e isso permite-lhe fazer dois, três, quatro filmes por ano."
Três filmes por ano
"Oxalá possa eu fazer até três filmes por ano como sugeriu o François," disse mais tarde Manoel de Oliveira, que confessou esperar ter o seu próximo filme pronto para Cannes, embora não tenha ainda certezas se isso será possível.
Ao longo da conferência de imprensa, o realizador citou cineastas com quem sente afinidades, como Luis Buñuel, Robert Bresson, "os mestres alemães como Fritz Lang, Murnau ou Lubitsch", ou Orson Welles, mas confessa não acompanhar o que se faz hoje em dia.
"Em casa tenho imensa falta de espaço e na vida tenho imenso falta de tempo, e não dou solução nem a um nem a outro. Mas há um realizador português de que gosto muito, o Pedro Costa, que tem um modo de filmar muito correcto. Uma vez, ele disse-me que eu filmava os ricos, ele filmava os pobres. Respondi-lhe que eu filmo as almas - e as almas tanto há nos ricos como nos pobres", afirmou o cineasta Manoel de Oliveira.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
O realizador apresentou "Singularidades de Uma Rapariga Loura"
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EÇA DE QUEIROZ,
José Maria Eça de Queiroz
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