Encomendas da estatal abrem novas perspectivas de vagas
Leda Rosa
São Paulo
Embalada pelas encomendas da Petrobras, a indústria naval fluminense investe nas contratações e volta a ter importância no mercado de recursos humanos, atraindo rapazes e moças para o primeiro emprego com sólidas perspectivas.
A indústria naval voltou a ser um dos maiores balcões de emprego no Estado. Os estaleiros, aquecidos pelos sucessivos pedidos de embarcações e plataformas da Petrobras Transporte (Transpetro), estão de portas abertas para os trabalhadores, especialmente jovens recém-saídos de cursos profissionalizantes.
A demanda é tanta que algumas profissões já estão em falta. E, as perspectivas para os próximos anos são igualmente positivas, com criação de mais 11 mil empregos.
O Rio de Janeiro é o principal pólo da indústria naval brasileira, ramo que emprega 40 mil trabalhadores no país. De cada dez empregados diretamente pelo setor, sete estão em solo fluminense, formando uma população de 28 mil funcionários, concentrados em Niterói, Angra dos Reis e no Rio.
Dois novos pólos estão em implantação e devem alterar, em alguns anos, este cenário: no Nordeste, o estaleiro Atlântico Sul, em Suape (PE), e no Sul, o estaleiro Rio Grande, na cidade homônima (RS).
Com o resgate da capacidade produtiva dos estaleiros, capitaneada pela Transpetro a partir de 1998 – depois de 15 anos de sucateamento do parque naval – os postos de trabalho aumentam continuamente. Segundo a Fundação Cide, a recuperação do setor naval, que tinha uma representação irrisória na indústria do Estado do Rio de Janeiro, de 0,3% em 1998, passou para 2,8% em 2004. No período, o setor obteve uma expansão de 50% no valor da produção e de 558% no número de empregos.
Apenas em 2007, os estaleiros do Estado tinham em carteira 39 encomendas, de embarcações para a Petrobras, PDVSA (empresa estatal venezuelana de petróleo) e Log-In (empresa de logística da Vale). E no final de maio deste ano, o presidente Lula foi até o Estaleiro Mauá, em Niterói, o mais antigo do país, com 162 anos de existência, e anunciou a encomenda de novas 146 unidades de apoio à exploração e produção marítima de petróleo.
O Rio de Janeiro é um dos principais beneficiados pela retomada desta indústria. Em seus estaleiros será fabricada a metade das 26 embarcações de grande porte que irão renovar a frota da Transpetro. Segundo o governo federal, o pedido garante quatro anos de plena atividade aos estaleiros nacionais.
– O navio é o melhor produto para a perenidade da indústria naval. As plataformas chegam a contar com 8 mil trabalhadores no pico da construção, mas quando o trabalho termina, 90% do pessoal é demitido – diz Maurício Ramos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro e da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB),
Até meados de 2009, o meio sindical do Rio prevê crescimento de 75% da base, que hoje tem pouco mais de 4 mil trabalhadores cariocas, com a contratação de mais 3 mil empregados. As novas embarcações estão obrigadas a utilizar entre 70% e 80% de mão-de-obra e conteúdo nacional.
A medida reforça o mercado de trabalho indireto, representado pela indústria de componentes como maçanetas, vidros e mobiliário. Os pedidos da Petrobras somam um pacote com mais de 2 mil itens para diferentes setores da economia.
Para o presidente do Estaleiro Mauá, Domingos D'Arco, a indústria naval vive o momento mais importante dos últimos 20 anos.
– É a hora onde as oportunidades propiciadas pela abertura de novas fronteiras, como os reservatórios de óleo e gás no pré-sal, impõem uma resposta decidida por parte da indústria para atender aos desafios tecnológicos e econômicos. Nós, do Mauá, estamos nos preparando para atender às encomendas que virão.
Domingos D'Arco lembra que há investimentos na formação de mão-de-obra.
– Exemplo disso são os altos índices de aprovação das turmas de soldadores formadas dentro de nossa casa – diz, referindo-se ao Programa de Qualificação Profissional de Soldadores, iniciativa que atingiu percentual de aproveitamento de 93% na turma de 84 funcionários candidatos aos postos de soldador.
A função é uma das maiores lacunas do mercado naval. Outros profissionais em falta para os estaleiros fluminenses são caldeireiro, encanador e maçariqueiro. Essa escassez alavancou a carreira de Luiz Claudio Bitencourt, de 26 anos, funcionário do Mauá. Em 2001, ele entrou no estaleiro como ajudante e, três anos depois, aprendeu o novo ofício e completou o ensino fundamental. Logo conseguiu o cargo de maçariqueiro.
– A procura pela mão-de-obra qualificada é muito solicitada, a melhor coisa para quem quer entrar é fazer um curso profissionalizante – diz ele, que está terminando o ensino médio em uma unidade do Sesi dentro do estaleiro. – Há dois anos, quando entrei no Mauá, estava desempregado, numa condição muito ruim. Era noivo, mas não podia pensar em casar. Foi dentro da construção naval que minha vida mudou – diz ele, que, depois da carteira assinada, casou, comprou casa e é pai de duas crianças.
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