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domingo, 1 de junho de 2008

Lula descarta proibir plantação de etanol na Amazônia

Em Roma, presidente diz que 'nenhum país tem autoridade moral' para falar sobre meio ambiente no Brasil

Lula e Marisa em Roma


Andre Dusek/AE

Lula e Marisa em Roma

Enviado especial da BBC Brasil a Roma - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 1, que "nenhum país tem autoridade moral" para falar sobre meio ambiente no Brasil e descartou qualquer medida para proibir a plantação de etanol na Amazônia. Ele disse que pediu, na semana passada, um estudo para o Inmetro comparando a emissão de gases de dois carros em condições semelhantes, só que um movido a etanol e outro a gasolina.

Segundo o presidente, o estudo concluiu que o carro a gasolina emite oito vezes e meia mais gases nocivos ao meio ambiente do que o automóvel movido a etanol.

"Se as pessoas querem levar a sério o Protocolo de Kyoto e o desaquecimento do planeta, o Brasil está dizendo: nós temos um combustível que seqüestra carbono quando plantamos e que não emite gás carbono quando liga o motor do carro. A partir daí, começaremos o debate. Nós entendemos que é a energia do futuro até que alguém apresente uma melhor."

Dentro da campanha internacional do governo em favor do etanol, Lula mostrou à imprensa o protótipo miniatura do que seria, segundo ele, "o primeiro carro verde do mundo". O projeto está sendo desenvolvido pelas empresas Braskem e Toyota.

Todas as partes de plástico do carro são feitas com material derivado da cana-de-açúcar, e não de petróleo.

Cana

Lula falou também que "todo mundo sabe" que o trabalho nas plantações de cana é duro e comparou a situação brasileira com a indústria da mineração da Europa no começo da era industrial.


"Eu adoro esse debate", disse Lula, em referência às críticas que o setor recebe.

"Todo mundo sabe que o trabalho na cana é duro. Como é duro o trabalho de um balconista que fica atendendo a gente atrás do balcãozinho das seis da manhã à meia-noite."

"Não é mais duro do que o trabalho em uma mina de carvão que foi a base de desenvolvimento da Europa. Pegue um facãozinho e passe um dia cortando cana e desça numa mina a noventa metros de profundidade para explodir dinamite, para você ver o que é melhor."

As condições de trabalho na indústria da cana foram criticadas nesta semana pela Anistia Internacional e pelo relator especial da ONU sobre o Direito ao Alimento, Olivier De Schutter. A Anistia destacou em relatório a libertação de trabalhadores que estavam em situações "análogas à escravidão" em plantações no Pará.

Lula disse que "o Brasil está pronto e apto a qualquer momento para acabar com o papel do cortador de cana".

"O problema não é acabar, é você saber onde vai colocar mais de um milhão de trabalhadores."

Ele disse que o governo está trabalhando em conjunto com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para elaborar um modelo de contrato de trabalho nacional que garanta condições mais favoráveis aos empregados da indústria da cana.


'Toda inteligência brasileira'


Lula está na Itália para participar de uma conferência da agência da ONU para Agricultura e Alimentos (FAO) sobre a crise provocada pelo aumento do preço mundial dos alimentos.

O etanol brasileiro - que vinha sendo elogiado antes da crise por servir supostamente como alternativa mais limpa aos combustíveis fósseis - é apontado por vários críticos como um dos fatores que pode contribuir para a alta dos preços, junto com outras formas de biocombustíveis.

Em entrevista coletiva a jornalistas na embaixada brasileira na Itália, Lula confirmou que discursará em defesa do etanol na abertura da conferência da FAO, na terça-feira.

Lula disse aos jornalistas que a campanha internacional do governo a favor do etanol brasileiro é "uma guerra necessária" para o Brasil, e que o país precisa juntar "toda a inteligência brasileira" para debater a questão.

"Nessa guerra comercial, nós não temos que ficar nervosos, e achar que o mundo acabou por isso. É uma guerra necessária, e o Brasil tem que ir para ela preparado", disse Lula.

"Eu disse ao (ministro do Desenvolvimento) Miguel Jorge que é preciso nós juntarmos toda a inteligência brasileira na área de biocombustíveis, para que a gente possa fazer um debate interno e externo altamente qualificado, que não tenha apenas a questão emocional ou ideológica, mas que tenha o resultado prático do conhecimento científico daquilo que nós precisamos para o Brasil."

O presidente disse que o governo convocará uma conferência internacional sobre biocombustíveis no Brasil entre 20 e 21 de novembro, reunindo chefes de Estado, cientistas e técnicos.


Adversários do etanol


O presidente disse que ONGs, fazendeiros europeus e a indústria automobilística da Europa estão entre os que fazem campanha contra o etanol.

"Estamos ainda para detectar quem são os responsáveis (pela campanha contra os biocombustíveis brasileiros). A primeira coisa é que eu acho que você tem, na Europa sobretudo, pressão de ONGs, da própria agricultura européia, que não quer abrir mão dos subsídios, e você tem pressão, quem sabe, até da indústria automotiva européia que não quer mudar a sua matriz, o seu motor", disse Lula.

"Essa difamação (contra o etanol) é de todo mundo, inclusive nossa no Brasil. Eu tenho dito a todo mundo no Brasil que cada vez que nós falarmos qualquer coisa agora, nós temos que saber como isso será utilizado contra nós na Organização Mundial do Comércio (OMC)."

"Na medida em que você começa a ser um artista principal, você começa também a ficar muito mais visado. As pessoas começam a te bater."

Lula também disse que quer tratar com os chefes de Estado sobre a alta do petróleo, que, segundo ele, seria um importante fator na crise do preço dos alimentos

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