Presidente disse que não subirá em palanque onde houver mais de um candidato da base.
Das 26 capitais onde há disputa, apenas João Pessoa e Teresina não têm dois governistas.
Se prevalecer o que disse a respeito do apoio a candidatos nas eleições 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ficar praticamente afastado das campanhas nas capitais do país.
Importante cabo eleitoral na última eleição municipal em 2004, Lula disse em entrevista, há menos de um mês, que não subirá em palanques nas cidades onde houver mais de um candidato de partidos da base aliada do governo.
"Até por uma questão de manter o clima harmônico em Brasília, em todas as cidades que tiver mais que um candidato da base aliada, eu teoricamente não posso ir lá. Ficaria uma situação constrangedora. Quando terminar a eleição, ficaria uma clima de animosidade", disse o presidente.
A se confirmarem as pré-candidaturas atuais nas 26 capitais onde há disputa, o apoio do presidente ficaria restrito a apenas duas cidades: João Pessoa (PB) e Teresina (PI).
Na capital paraibana, o PT ainda não decidiu se lançará candidato próprio ou se vai somar forças à campanha de reeleição do prefeito Ricardo Coutinho, do PSB.
Em Teresina, a disputa pela prefeitura deve repetir o embate entre PT e PSDB das últimas eleições presidenciais. O prefeito Silvio Mendes (PSDB) deve enfrentar o deputado estadual petista Nazareno Fonteles.
Em todas as demais capitais, há pelo menos dois candidatos dos 14 partidos que dão sustentação a Lula (veja infográfico abaixo).
Com deputados, senadores e até ministros da base aliada cotados para disputar prefeituras em outubro, o apoio de Lula deve ser assunto da próxima reunião do presidente com seus ministros.
“Temos que respeitar que cada ministro tem sua base no seu estado, tem que ver como participará sem atrapalhar o bom momento que vivemos aqui no Senado e na Câmara”, disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, após a última reunião, na segunda (20).
A decisão do presidente é vista com desconfiança pelos pré-candidatos petistas e comemorada por outros dos partidos da base governista. Em comum, muitos afirmam que citarão o presidente ou algumas das principais políticas do governo em suas futuras campanhas no rádio e na TV em seus estados.
Um dos pré-candidatos do PT à Prefeitura de Salvador, o deputado federal Walter Pinheiro prevê “guerra” entre os postulantes.
“Salvador é uma cidade que recebeu da União, em 2007, R$ 1,4 bilhão. Todo mundo vai querer usar isso. Espero que dê para fazer um debate na sociedade mais qualitativo, mas a guerra vai existir”, diz.
“Tem que avisar ao presidente que, em vez de bursite, ele vai ter outro problema no pescoço de tanto papagaio de pirata querendo pousar no ombro dele”, brinca o deputado, que concorre com o colega Nelson Pellegrino pela indicação do PT.
Indicada pelo governista PSB para disputar a Prefeitura de Salvador, a deputada Lídice da Mata lamenta a possível ausência do presidente na campanha, “detentor dos maiores índices de aprovação”, mas considera a decisão “coerente”.
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“A eleição é um processo muito explosivo, que envolve muitas emoções, a cidade onde cada deputado nasceu. Cada candidato vai buscar se diferenciar”, afirma.
A opinião é compartilhada pela ex-deputada e pré-candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro Jandira Feghalli (PC do B). “Onde a base está dividida, tem que observar como se comportar. A cautela nesse momento é o mais correto para ele [Lula]. Nem sempre o candidato que dá a vitória para o seu campo é o do PT. É o que é importante para o povo”, afirma.
Assim como seus principais concorrentes anunciados até agora – como o senador Marcelo Crivella (PRB) e o deputado estadual Alessandro Molon (PT) – Jandira diz que pretende usar na sua campanha projetos em parceria com o governo Lula.
“Fazemos uso daquilo que a gente faz, daquilo que é a nossa história. Muitas coisas que o governo Lula faz tem a participação do PC do B”, justifica.
“O PC do B não é um partido qualquer. Desde 1989 apoiou a eleição [de Lula], mesmo quando ele não era superpopular e superbenquisto. Somos parte desse projeto, que não é do Partido dos Trabalhadores. Sou tão parte dele quanto é a candidata do PT da minha cidade. Nem maior nem menor”, afirma.
Maria do Rosário diverge. “O presidente pensa com as necessidade de governo e de atendimento da sua base. Cabe a nós mostrar que o Lula é do PT como nós. Os aspectos positivos do governo também têm que estar creditados ao PT”, disse.
Ela pondera, no entanto, que a disputa nas capitais terá um forte componente local. “Vou procurar trabalhar a identidade com o presidente, com seu governo, mas apresentar propostas a partir da realidade local. O Lula não vai ganhar a eleição para nós.” Sphere: Related Content
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