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domingo, 25 de maio de 2008

Especial: Guga foi o maior tenista do Brasil

REUTERS

SÃO PAULO - Vinte títulos em simples, oito em duplas, 43 semanas como líder do ranking mundial. Gustavo Kuerten obteve conquistas sem precedentes na história do tênis brasileiro e difíceis de serem superadas.

Nenhum outro tenista do país chega perto dos números de Guga. Entre os melhores, segundo dados da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), estão Thomaz Koch, com um título e o 24o lugar no ranking, em 1974, e Luiz Mattar, sete títulos e 29o como melhor colocação, em 1989.

Guga, que fora das quadras é surfista, músico e torcedor fanático do Avaí, conquistou seu primeiro título em 1997, e foi logo em um Grand Slam. Ele levantou a taça de Roland Garros aos 20 anos, derrotando surpreendentemente três ex-campeões --Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov e Sergi Bruguera.

Em 1998, Guga conquistou os campeonatos de Mallorca e Stuttgart, e no ano seguinte venceu em Roma e em Monte Carlo, todos no saibro, seu piso favorito.

O ano de 2000 foi marcante para o brasileiro. Foram cinco títulos em sete decisões, incluindo o bicampeonato em Roland Garros.

De novo Guga teve que passar por Kafelnikov e na final enfrentou o sueco Magnus Norman, um de seus principais rivais à época. O jogo foi acompanhado por muitos brasileiros, que chegaram a soltar fogos no Brasil após a vitória do catarinense, gesto comum para o futebol, mas inédito para o tênis.

No fim daquele ano, veio o ponto alto da carreira de Guga, que teve nas mudanças de visual do cabelo --de raspado a trancinhas-- uma das marcas registradas de sua carreira.

Na Masters Cup de Lisboa, o brasileiro venceu os norte-americanos Pete Sampras e Andre Agassi em partidas seguidas, conquistou o torneio e terminou o ano como o líder do ranking.

"Estou muito orgulhoso de mim mesmo e de ser brasileiro. Tenho certeza de que fiz um domingo feliz para todos e para mim. É o dia mais feliz da minha vida", disse Guga após aquele título. Na comemoração, ele fez uma homenagem à sua mãe, Alice, que assim como a avó Olga costumava acompanhar partidas do tenista, que sempre teve laços familiares muitos fortes.

Ainda em 2000, ele ajudou o Brasil a alcançar a semifinal da Copa Davis.

Em 2001, Guga foi ainda melhor, conquistando seis títulos em oito decisões, cinco deles no saibro, incluindo o tricampeonato de Roland Garros.

Após superar o espanhol Alex Corretja na decisão em Paris, Guga desenhou um grande coração na quadra e deitou-se dentro dele, além de escrever na camiseta "Eu amo Roland Garros" (em francês), para delírio da torcida que o empurrava a cada jogo aos gritos de "Allez Guga!".

DUAS CIRURGIAS

Guga aparecia em todos os torneios com destaque até passar pela primeira cirurgia, em fevereiro de 2002. O catarinense sentia fortes dores na região do quadril direito e resolveu se submeter a uma operação nos Estados Unidos.

Ele voltou a jogar dois meses depois e perdeu a invencibilidade de 17 jogos em Roland Garros ao ser eliminado na quarta rodada por Albert Costa, que se sagrou campeão mais tarde. Seu único título naquele ano foi no Brasil Open, ao vencer o argentino Guillermo Coria numa final emocionante, em que teve que salvar match point para ganhar.

Em 2003, Guga conquistou dois títulos, em Auckland e São Petesburgo, seu primeiro no carpete.

Ele voltou a ganhar um título no saibro após quase três anos em 2004, no Brasil Open, mas parecia estar sem ritmo, seus golpes não saíam como antes, a dor persistia. A segunda cirurgia era inevitável e ocorreu em setembro.

Desde então, Guga não mostrou nem resquício de seu melhor tênis e, em 2005, terminou fora dos 100 primeiros do ranking pela primeira vez desde 1995. Naquele ano, rompeu com o técnico Larri Passos após 15 anos de parceria.

Em 2006, Guga disputou apenas um torneio, e acabou sendo eliminado na estréia do Brasil Open. Jogou partidas de dupla na Copa Davis, mas uma série de contusões indicava que sua aposentadoria estava próxima. No ano passado foram apenas 12 jogos, com oito derrotas.

PARCERIA COM LARRI

Sem a presença do pai, Aldo Kuerten, que morreu em 1985, a figura paterna na vida do tenista foi representada durante muitos anos pelo técnico Larri Passos.

Os dois começaram a trabalhar juntos em 1990. Foram 15 anos de parceria, até o anúncio da separação, em 2005.

"Tudo o que eu fizer vai ter a mão do Larri, pois foi ele quem me descobriu e me fez jogador. E apesar de não termos mais um relacionamento profissional, o carinho e a amizade vão existir sempre, porque o Larri é como um pai para mim", declarou o catarinense em 2005.

Disciplinador, Larri formou com Guga uma dupla de sucesso. Todos os títulos do tenista foram conquistados com o técnico. Em setembro de 2006, Guga anunciou a retomada da parceira com o antigo treinador, que teve o desafio de comandar seu pupilo nos últimos torneios de sua carreira.

Na turnê de despedida, o brasileiro acumulou derrotas e homenagens e dizia estar curtindo os últimos momentos no circuito profissional de tênis.

No fim do ano passado, Guga ainda sofreu uma dura derrota fora das quadras: a morte de seu irmão mais novo, Guilherme, que tinha paralisia cerebral e microcefalia. O irmão foi a inspiração para o Instituto Guga Kuerten.

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