Zé e Maria, suspensos no espaço e no tempo, entraram num lugar nebuloso e vago, espécie de fronteira entre o céu e a terra, sem contornos definidos. A única referência concreta era aquela campainha, dourada e reluzente, e o livro. Um livro que poderia conter uma pista para a sua busca. Recordados, porém, da morte do mandarim provocada pelo toque dessa outra campainha, pensaram: "E, se a agarrarmos, ela toca? Os dois hesitavam ainda, até que Maria disse: - Mas, repara, nós não queremos matar o mandarim para ficarmos ricos. Só queremos encontrar a autobiografia do Eça de Queiroz. E este livro deve ajudar-nos. - Tens razão. Então, sejamos corajosos! Porém, pelo sim pelo não, Zé poisou a mão sobre a campainha e, com cautela, ergueu-a. Não a fez soar mas, em contrapartida, Maria não conseguiu abrir o livro. Fechava-o um pequeno cadeado ferrugento, sem qualquer chave à vista. Detiveram-se. Depois, num assomo de coragem, Zé sacudiu a mão com força. Então, "um sino, de boca tão vasta como o mesmo céu, badalou, através do universo e, num tom" harmonioso, "foi acordar sóis... planetas" e espíritos vagueando algures... O cadeado tombou e o livro abriu-se. As páginas amarelecidas pelo tempo estavam cobertas de uma letra igual e corredia, com traços finos, sem borrões nem rasuras, como quem escreve ao correr da pena. Porém, antes de terem tempo de ler, as palavras, as frases ali desenhadas ondearam como cobras, tal como acontecera com Teodoro, ganharam vida e saltaram para fora do pergaminho, tomando corpo e forma. E, diante deles, surgiu um homem, magro e esguio, de pescoço comprido, cabeça pequena coberta por um chapéu alto de feltro por baixo do qual espreitava uma madeixa de cabelo preto. As faces eram pálidas e magras, o nariz adunco, tinha um monóculo bem entalado no olho direito como se dele fizesse parte e um bigode farto, também preto, caía-lhe sobre os lados da boca. Vestia uma boa sobrecasaca, escura, abotoada até ao pescoço onde sobressaía, entre colarinhos altos e brancos, uma gravata de seda. As mãos eram largas, os dedos muito finos; os braços eram compridos, bem como as pernas, magríssimas, que pareciam prestes a desconjuntar-se. Deram instintivamente um salto para trás: - Oh! É... o... o... diabo que apareceu ao Teodoro, em "O Mandarim!?! O homem sorriu e disse: - No meu tempo de vida, teria feito o sinal da cruz, ao ouvir invocar o diabo. Fui sempre muito supersticioso, acreditei nele e em fantasmas. Mas isso é outra história. - Não, não é! - disse Maria, percebendo quem tinha diante dela. - O senhor é Eça de Queiroz. A campainha fê-lo reviver, ao contrário do sucedido ao Mandarim! E o que queremos saber é a história da sua vida e se a escreveu. - Querem então conhecer a minha vida? - perguntou Eça (de facto, era ele que ali se encontrava). - Mas, conhecem "O Mandarim"... isso é que é importante! É bom saber que afinal não morri. E eu, que tinha tanto medo da morte!... - Diga-nos lá: escreveu ou não a sua história? - perguntou Zé, interessadíssimo. - "Eu não tenho história, sou como a República do Vale de Andorra!" Disse a um amigo que me fez o mesmo pedido. Não conhecem a história de Andorra, pois não? Vêem! A minha vida não é importante. Nasci, escrevi, tive filhos e morri. Nasci a... - 25 de Novembro de 1845! - atalhou Maria.- No mesmo dia, anos depois, nasci eu. - E o senhor morreu... Desculpe dizer isto, mas morreu... no dia 16 de Agosto de 1900; nesse dia, também como a Maria alguns anos depois, nasci eu - acrescentou Zé. - Curioso! É mesmo muito curioso, meninos! - Engraçado! Foi isso o que disse o nosso professor! - exclamaram os dois. - Tu chamas-te... Maria. E aqui o nosso amigo? - José! - José... Maria! O meu nome! - depois, murmurou pensativo: - E nasceram... ora... A terra recolheu e depois restituiu os átomos do meu corpo! Quem sabe se o meu fantasma vos assombrou no dia em que nasceram ou até se são eu próprio... - deu uma gargalhada - Tudo isto merece uma reflexãozita, uma cambalhota sobre mim mesmo - cumpriu à risca o que dizia e inclinou-se depois diante deles, num gesto teatral, como um actor à espera de aplausos. Zé e Maria aplaudiram, sem deixar, porém, de insistir: - E a sua autobiografia? O senhor escreveu-a ou não? Podemos levá-la? - Pschiu, meninos! Estou a pensar! - fez uma pausa que pareceu interminável e depois disse: - Nunca gostei de partilhar nada íntimo. Muito menos com a choldra que por aí anda! Merecerão os meus segredos? O facto de terem chegado até aqui... Por artes mágicas ou científicas? A ciência progrediu muito, é óbvio! E a magia? E a imaginação? - Nós chegámos aqui porque um professor, o Dr. Coelho, nos mandou - confessou Maria, um pouco envergonhada. - Mas a verdade é que nos despertou a curiosidade e queremos agora saber tudo por nossa própria vontade! - Ela tem razão. Até começo a perceber para que serve estudar português: para saber explicar o que imaginamos! Como o senhor, com "O Mandarim". É muito giro! - E eu quero ler mais histórias que escreveu - afirmou Maria. - Estão a tentar-me... - De repente, ordenou: - Venham! Proponho-vos um desafio. Com um gesto, indicou-lhes o caminho. O espaço, até aí vago e impreciso, tomou contornos definidos. Estavam numa larga avenida, iluminada por um sol de verão. Repararam na placa com o nome: Avenue du Roule. - Que nome estranho! Onde estamos? - Nos arredores de Paris, em Neuilly, perto do "Bois de Boulogne" onde venho passear de bicicleta com os meus filhos... quando cá estou e tenho tempo, para além da escrita ou do trabalho de Cônsul... Mas não precipitemos o fim da história... - Perto do quê? Buéda quê? - perguntou Zé. - Bois de Boulogne, Bosque de Bolonha. - Alto! Não diga tanto nome que nos baralha - atalhou Zé. - Agora chega-nos muita coisa de outras maneiras e, directamente, em casa. Mas em inglês ou americano. - Então...e o francês? Já não estudam? Nem na escola? - Bem... estudamos... Mas inglês é mais habitual: jogos, filmes, música... - E os livros? Já acabaram? Ou mentiram-me sobre "O Mandarim"? - Não, mas eu prefiro as imagens. Os livros não facilitam tanto...- desculpou-se Zé. - Tolices! O que há de melhor que um bom livro para despertar a imaginação? - Eu, por acaso, gosto de ler - disse Maria - Pudera! Se tens a imagem à tua frente, o que crias tu com a própria cabeça? - Prontos! A gente achamos que tem razão - tentou emendar, Zé, ao vê-lo tão exaltado. Eça de Queiroz deu dois grandes pulos, quase a desconjuntar-se, e gritou: - Prontos?!? A gente achamos...?!? Cruzes, canhoto!!! Apanhei dois violentos pontapés na gramática! Isso é o quê? Português não é com certeza! - Está zangado e já não nos ajuda? - perguntou Zé, muito aflito. - Mais uma razão para nos dar a sua escrita... - Meu amigo, tens muito a aprender se queres levar a bom termo esta missão. E os dois terão de dar saltos, para trás e para a frente - avisou. Enquanto conversavam, percorriam uma passagem por debaixo de um prédio; chegaram a um portão e ao fundo de um caminho relvado, ladeado de árvores, havia duas casas iguais. Dirigiram-se para a da direita, com rés-do-chão alto e dois andares. Sempre guiados por Eça, subiram até ao último andar. Entraram no gabinete do escritor, impecavelmente arrumado. Saltavam à vista as estantes cheias de livros e uma original escrivaninha, muito alta, pejada de papéis, cobertos pela mesma letra que eles tinham visto no livro. Junto de outros papéis, ainda em branco, estava uma pena de pato e um tinteiro. Papel, pena e tinta pareciam esperar pela escrita fluente do escritor. - Flores!? - estranhou Zé, ao ver um grande vaso em cima de uma mesa. - Não passo sem elas. Inspiram-me! - riu Eça de Queiroz. - Não emenda o que escreve? - perguntou Maria, observando os manuscritos. - Eu?! Fui o tormento dos editores! Fiz obras com várias versões, capítulos novos, cenas re-escritas... Mas não percamos tempo. Repararam no calendário? Sobre a lareira, um calendário mostrava, a vermelho vivo: 1900, 16 de Agosto. - Trouxe-vos aqui hoje de propósito. Deram-me vida, por breves instantes, ao toque da campainha, graças à iniciativa do Dr. Coelho. Conseguirão fazê-lo de novo, por iniciativa própria? Tomem. Dou-vos este cofre de três fechaduras. Encontrem as chaves e terão a vossa... ou melhor, a minha história! Adeus, ou... até à vista! À medida que estas palavras iam sendo ditas, a figura esgrouviada do escritor esbatia-se, tornava-se transparente, até desaparecer completamente. Sozinhos na sala, diante do cofre de ferro com as três fechaduras poisado na escrivaninha e rodeados de manuscritos, ficaram pensativos. - Vamos explorar o resto da casa - sugeriu Zé. - Talvez encontremos uma pista. - Espera! Vamos ver bem tudo o que aqui está. Zé experimentou, sem resultado, abrir as gavetas da escrivaninha; depois, folheou os manuscritos: - Está aqui um que se chama "O Francesismo"! Fala daquilo que ele nos disse sobre a mania do francês em Portugal... Mas não tenho paciência para ler mais... - Pelo sim pelo não, guarda-o... Olha, Zé, um conto! Chama-se "O Tesouro". E tem a descrição de um cofre de ferro com três fechaduras. Vou ler. - Com esse nome, atrai-me! Deixa-me ler também - depois de um tempo atento de leitura, disse: - É bem giro, mas não encontrei nenhuma pista. - É uma história espectacular! E creio que tem uma pista, para o fim da nossa busca, Zé. Recorda-te dos jogos de computador: um passo em falso e morremos... Isso também aconteceu aos três irmãos gananciosos desta história. - Bem visto! Vamos guardá-lo. Mas... e para agora? Continuaram a busca. José olhou novamente para o calendário e tirou-o de cima da lareira. Porém, para estranheza dele, todas as páginas marcavam a mesma data. - Um compartimento secreto! - exclamou Maria. Habituada aos segredos das escrivaninhas antigas de casa da avó, abriu uma gaveta disfarçada nos relevos da madeira: - Encontrei outro manuscrito! Um conto: chama-se "O Defunto". Vamos ler! - É extraordinário! - ia comentando Zé, à medida que o lia. - Mas mete medo. Estamos em casa dele, no dia da sua morte... - É isso! - gritou Zé - Voltou à vida por causa do professor Coelho... Mas agora tomámos nós a iniciativa de ler as suas obras e... Hoje, é ele o defunto! Deve ter morrido nesta casa. Provavelmente, na cama e no quarto dele... "Ironia e humor", disse o Dr. Coelho. Claro! Agora já se dá ao luxo de gozar com a própria morte! - E trouxe-nos aqui para vermos o cadáver dele? Que horror! - exclamou Maria. - Parece um filme de terror! Boa! Anda, vamos procurá-lo, não sejas medricas. Zé correu para a porta da sala e desceu as escadas que conduziam ao andar de baixo. Já no corredor, aguardou que um homem, com vestes de padre, se afastasse, não fosse ser visto e impedido de avançar. Maria, logo atrás dele, fez o mesmo. Caminho livre, os dois esgueiraram-se por fim para dentro de um quarto cuja porta estava entreaberta. Eça de Queiroz, deitado na cama de olhos fechados, parecia morto. Como Maria receava... De súbito, porém, o escritor abriu um olho pisco - a rapariga deu um pulo assustadíssima - e ele riu-se. Zé, sem pestanejar, com o conto de "O Defunto" na mão, leu: - "Tu estás morto ou estás vivo?" Eça respondeu, como no seu conto: - "O homem encolheu os ombros com lentidão: Senhor, não sei... Quem sabe o que é a vida? Quem sabe o que é a morte?..." - "Que queres de mim?" - interrogou Maria, enchendo-se de coragem. - Aliás, de nós? - emendou depois, adaptando à situação o que lia por cima do ombro do amigo. - "Eu tenho de ir convosco... onde vós ides" - respondeu-lhe o morto-vivo. Endireitou-se sobre as pernas desengonçadas, deu-lhes as mãos e caminhou para a porta. Mas Zé e Maria repararam que, estranhamente, aquele mesmo corpo continuava deitado na cama. Era o seu fantasma que os acompanhava. À porta de casa, viram uma praça mal iluminada pela lua, que as nuvens de uma noite de Inverno ainda não escondiam. - "Praça de Almada" - leram à luz de um lampião. - Estamos na Póvoa do Varzim! Então, Zé consultou o calendário que trouxera com ele: - Mudou para 1845! Ele nasceu neste ano e aqui... - Eu nasci neste ano e aqui - frisou a fantasmagórica figura - Quem conta esta história sou eu, não se esqueçam! E não façam barulho. Escondam-se, depressa! Sentiram-se puxados para trás de uns arbustos. Bem a tempo: dois vultos saíam de uma casa, envoltos em capas compridas. Um deles transportava uma trouxinha embrulhada em mantas. Apressados, furtivos, entraram num coche que os aguardava. - Trate bem do meu menino, D. Ana Joaquina - ouviram os dois jovens: - Tão pequenino, o meu Zé Maria... Só com oito dias e tem de se separar da mãe e de mim! - Esteja descansado, Dr. Queiroz. Merecerei ter sido escolhida para madrinha de baptismo e ama do vosso filho. Vila do Conde não é muito longe daqui e a minha casa estará sempre aberta para vos receber. - E se eu vier a casar com D. Carolina d'Eça - sussurrou o Dr. José de Almeida Teixeira de Queiroz, pai do defunto agora tornado bebé - a vida... ou a sociedade... permitirá que ele nos seja restituído, sem escândalo nem vergonha. - e murmurou para si próprio: -Triste época! Cheia de desvarios e guerras civis, de antagonismos políticos entre liberais e absolutistas, entre liberais setembristas e cartistas, cabralistas!... Tantos ódios sem explicação entre famílias e amigos... Tantas paixões intensas... Enquanto a ama do recém-nascido e o Dr. Queiroz entravam na carruagem, os dois amigos correram a pendurar-se na parte de trás desta. Através da janela, viam o pequeno José Maria Eça de Queiroz, ao colo do pai, bocejar, fazer caretas e espernear como tantos outros bebés. O carro pôs-se em marcha para Vila do Conde. - Ah! A sua mãe era solteira quando o senhor nasceu - murmurou Maria. - Por isso nunca quis contar a sua vida? Tinha vergonha ou queria proteger a sua mãe? Porém, quando olhou em volta, o fantasma-Eça tinha desaparecido... Em poucos minutos, o carro acelerou... (levado pelo tempo?...) Páginas do calendário, que José guardava consigo, iam voando. Por fim a carruagem começou a abrandar. Era dia claro e Zé e Maria notaram que o Dr. Queiroz ia agora acompanhado por uma mulher mais jovem do que a anterior. Ao colo dele, já não estava o bebé, mas outro embrulho, envolto em papel colorido, com um grande laçarote azul. - Como o tempo passa, Carolina - escutaram. - O nosso Zé Maria faz hoje nove anos! O carro parou, por fim, junto de uma grande casa senhorial, de um só piso; o casal apeou-se e seguiu em direcção a ela. Com cuidado, os dois amigos saltaram para o chão e logo que os pais de Eça entraram em casa, encaminharam-se para lá. A correr para eles, viram então um menino de feições pálidas e magras, braços longos e pernas tragalhadanças que logo identificaram. - Tenho estado à vossa espera! -disse Zé Maria. - Escusam de fazer esse ar admirado. Avisei-os de que iriam dar saltos para trás e para a frente. No espaço e no tempo. Trouxe-vos aqui, a Verdemilho, perto de Aveiro, para saberem onde vivo agora. Desde que os meus pais casaram, tinha eu quatro anos, saí de Vila do Conde e vim para casa do meu avô paterno. Quero que conheçam umas pessoas importantes para mim. O português que falam é um pouco esquisito... Mas cuidado! Só podem ser vistos por elas. Não vou convosco porque a minha avó está a chamar-me - e correu para casa. De novo sós, hesitaram em como prosseguir. - Umas pessoas com um português esquisito?!... Quem serão? O que fazemos, Zé? - Espera! O que é que trouxemos de Neuilly? O calendário... Claro! Marca agora 25 de Novembro de 1854. Parabéns a ele e a ti, Maria. Vais nascer de hoje a cento e tal anos... - e prosseguiu: - "O Tesouro", "O Defunto", "O Francesismo"... - O manuscrito que não lemos - observou Maria. - Tens razão! Vamos ler. Oh! Repara no que aqui diz: ..." A minha mais remota recordação é de escutar, nos joelhos de um velho escudeiro preto, grande leitor da literatura de cordel..." Literatura de cordel? O que é? - A minha avó explicou-me que, dantes, um livro tinha as folhas ligadas por cordéis fininhos. Depois, o nome generalizou-se a livros de historietas - esclareceu Maria. - Ah! É isso. O escudeiro preto contava-lhe histórias de Carlos Magno e dos doze pares de França. E cá está o que ele nos disse: "Portugal é um país traduzido do Francês". - Um escudeiro preto? Provavelmente veio de França. É uma das pessoas com o português esquisito! Vamos procurá-lo. Vendo que a porta da frente estava fechada, bem como todas as janelas, contornaram o casarão com cautela. Ouviram, então, uma gargalhada alegre e tão contagiosa que eles próprios se riram. No pátio traseiro da casa, quem se ria olhou em direcção a eles. Apanhados em flagrante, temeram o pior. Porém, ela não fez menção de lhes bater, nem de os expulsar dali. Pelo contrário. Riu-se mais e exclamou: - Oi, moços! Me prêgaram um sustão! Se apréssem p'ra ouvir o meu Mateus contando estórias do Brásiu e de batalhas trávadas áqui contra D. Miguéu pelo vôvô do Zézinho. - Cuidado! - berrou Zé, de súbito, esgueirando-se para trás de um tanque. Sem tempo de se esconder, Maria foi atacada por um enorme cão de guarda. - Ui! - gritou ela, ao cair no chão. |
domingo, 27 de abril de 2008
«O Tesouro» e «O Defunto»
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José Maria Eça de Queiroz
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