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| Press Review Às portas do Paraíso |
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| À semelhança das majestosas chaminés do Paço Real e da silhueta altiva do Palácio da Pena, o secular Lawrence's, morada efémera de Byron, Beckford ou Eça de Queiroz, é um dos mais persistentes ex-líbris de Sintra. [...] Chegavam às primeiras casas de Sintra, havia já verduras na estrada a batia-lhes no rosto o primeiro sopro forte a fresco da serra. E, a passo, o breque foi penetrando sob as árvores do Ramalhão. Com a paz das grandes sombras, envolvia-os pouco a pouco uma lenta e embaladora sussurração de ramagens a como o difuso a vago murmúrio de águas correntes. Os muros estavam cobertos de heras a de musgos: através da folhagem, faiscavam longas flechas de sol. Um ar subtil a aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de leve; a naquele simples bocado de estrada, todo salpicado de manchas do sol, sentia-se já, sem se ver, a religiosa solenidade dos espessos arvoredos, a frescura distante das nascentes vivas, a tristeza que cai das penedias e o repouso fidalgo das quintas de Verão... Cruges respirava largamente, voluptuosamente. - A Lawrence onde é? Na serra? - perguntou ele, com a ideia repentina de ficar ali um mês naquele paraíso. [...] - in Os Maias, Eça de Queiroz ![]() |
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| ![]() Em 1949, o antigo Lawrence's foi tomado de trespasse pela checoslovaca Maria Janavcova. Recebeu então nova denominação, ressurgindo efemeramente como Estalagem dos Cavaleiros. Encerrado em 1961, conheceu o abandono durante três décadas. Sem telhado e de paredes esboroadas, esteve à beira da ruína, aparentemente condenado a um estertor inglório, ![]() |
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| Uma reconstituição fiel.![]() O projecto de recuperação do Lawrence's começou a esboçar-se em 1989. A aventura, marcada por atribulações várias, só conheceria desfecho dez anos volvidos e despendidos 400 mil contos repartidos em capitais próprios, subvenções do Fundo de Turismo e adiantamentos contraídos por empréstimo bancário. Desentendimentos com o empreiteiro inicialmente contratado e o alcance da intervenção, que obrigou à ampliação do edifício e a refazer na íntegra o miolo interno da construção, justificam a invulgar morosidade da empreitada. O projecto de recuperação, a cargo de Tiago Braddell, visou devolver à unidade centenária o esplendor, o conforto e o singular apelo retro dos seus tempos áureos. |
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| ![]() Antes de iniciar as obras, foram esmiuçados ao pormenor, durante um ano, todos os registos documentais, referentes ao hotel, constantes dos arquivos da Câmara. Na reconstrução a posterior guarnição do edifício procurou-se respeitar o mais possível os materiais, a compartimentação, o mobiliário, os acabamentos do retiro original. As madeiras são omnipresentes. A tijoleira, dita de terceira classe, procura assemelhar-se ao revestimento-padrão da época. E até as toalhas e guardanapos foram executados segundo os modelos originais. Inicialmente supervisionada por Maria Aura Troçolo, responsável pela paleta de cores a pelas orientações gerais do projecto, a intervenção decorativa viria a ser, por indisponibilidade da decoradora, assumida por Coreen Bos. Coube-lhe a escolha dos materiais, têxteis a motivos e ainda a selecção de muitos dos acessórios, adquiridos em feiras de antiguidades, na Europa. |
| Suite Lord Byron.![]() |