Por Gabriel Perissé em 31/10/2011 na edição 666
O site opuslibros.org
nasceu em 2002 para incomodar o Opus Dei. Um de seus objetivos é
divulgar o que acontece nos bastidores dessa instituição católica, em
contraste evidente com o discurso oficial, cheio de referências à
liberdade, ao amor e ao respeito pelo indivíduo. Mais precisamente, além
de inúmeros (e estarrecedores) depoimentos de ex-membros, Opuslibros
publica “documentos internos” da prelazia, aos quais o próprio Vaticano
não tem acesso.
Nesses documentos, encontramos um Opus Dei que controla de maneira obsessiva e doentia a vida e a consciência de seus membros. Podemos encontrar textos em que, ao contrário do que o Opus Dei propaga a seu próprio respeito, fica patente que a prática institucional cerceia a liberdade de seus membros com relação ao uso de seus salários, ao seu tempo, à atividade profissional, à relação com os familiares, a escolhas tão prosaicas como comprar uma roupa, ler um livro, navegar na web, ir ao cinema…
Quase dez anos depois, o Opus Dei resolveu atacar mais intensamente esse “opusleaks”, que traz à luz material suficiente para suscitar uma já tardia intervenção da Santa Sé (os motivos dessa intervenção estão nesse artigo). Aliás, tudo leva a crer que essa intervenção se avizinha (na velocidade da burocracia eclesiástica...), e a cúpula do Opus Dei está agora interessada em apagar pistas, mantendo intacta a fachada de instituição aberta, que dialoga com o mundo e, de modo especial, com os meios de comunicação.
Documentos que envergonham
Os advogados do Opus Dei querem que o Opuslibros retire do ar documentação que, como é evidente, envergonha os líderes, membros e simpatizantes da prelazia. Pois é documentação autêntica sobre comportamento que contradiz a propaganda oficial. Se fosse documentação adulterada pelos ex-membros, a instituição não argumentaria que tais documentos são propriedade sua e devem permanecer dentro das gavetas de seus dirigentes.
Se essa documentação não lhe causasse vergonha, o Opus Dei teria, ao contrário, orgulho da divulgação. O fato é que a iniciativa judicial virou notícia, e o jornal El País na edição de sábado(29/10), para oferecer mais subsídios, começa a difundir com maior poder de fogo o que o Opuslibros divulgava modestamente: cópiasde documentosda Obra que comprovam sua atuação como seita proselitista.
Não se trata de uma luta como a que o Opus Dei empreendeu contra o Código da Vinci faz alguns anos. Agora não é ficção, mas realidade institucional. Fica evidente, por exemplo, que a Obra proíbe seus membros de se confessarem com padres que não pertençam ao Opus Dei. O Vaticano não pode permitir tal regra, tal arbitrariedade. Fica evidente que a correspondência dos membros do Opus Dei sempre foi violada pelos diretores antes que chegasse aos destinatários. O Vaticano não pode ser conivente com essa conduta criminosa. Bento 16 terá inclusive de revisar certas questões jurídicas que os canonistas do Opus Dei manipulam com maestria. O Opus Dei não dá satisfação de suas regras internas nem ao papa nem aos bispos dos países onde atua.
Acesso à verdade
Carlos Alberto di Franco, membro do Opus Dei, formador de jornalistas e editores brasileiros, cultiva um discurso moralista contra a falta de clareza. Em seus artigos no Estado de S.Paulo defende a imprensa livre. Defende o pluralismo. Quer que aprendamos a denunciar os desmandos, a denunciar quem pratica a arte do engodo. Defende a apuração isenta. Para ele, devemos nos comprometer com a verdade. São palavras suas: “Os meios de comunicação existem para incomodar”. Devemos ter acesso à informação, ao conhecimento, à verdade.
Pois bem, apliquemos suas sábias palavras ao caso Opus Dei. Muitas pessoas, católicas ou não, têm interesse pela verdade que incomoda.
***
[Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br]
Nesses documentos, encontramos um Opus Dei que controla de maneira obsessiva e doentia a vida e a consciência de seus membros. Podemos encontrar textos em que, ao contrário do que o Opus Dei propaga a seu próprio respeito, fica patente que a prática institucional cerceia a liberdade de seus membros com relação ao uso de seus salários, ao seu tempo, à atividade profissional, à relação com os familiares, a escolhas tão prosaicas como comprar uma roupa, ler um livro, navegar na web, ir ao cinema…
Quase dez anos depois, o Opus Dei resolveu atacar mais intensamente esse “opusleaks”, que traz à luz material suficiente para suscitar uma já tardia intervenção da Santa Sé (os motivos dessa intervenção estão nesse artigo). Aliás, tudo leva a crer que essa intervenção se avizinha (na velocidade da burocracia eclesiástica...), e a cúpula do Opus Dei está agora interessada em apagar pistas, mantendo intacta a fachada de instituição aberta, que dialoga com o mundo e, de modo especial, com os meios de comunicação.
Documentos que envergonham
Os advogados do Opus Dei querem que o Opuslibros retire do ar documentação que, como é evidente, envergonha os líderes, membros e simpatizantes da prelazia. Pois é documentação autêntica sobre comportamento que contradiz a propaganda oficial. Se fosse documentação adulterada pelos ex-membros, a instituição não argumentaria que tais documentos são propriedade sua e devem permanecer dentro das gavetas de seus dirigentes.
Se essa documentação não lhe causasse vergonha, o Opus Dei teria, ao contrário, orgulho da divulgação. O fato é que a iniciativa judicial virou notícia, e o jornal El País na edição de sábado(29/10), para oferecer mais subsídios, começa a difundir com maior poder de fogo o que o Opuslibros divulgava modestamente: cópiasde documentosda Obra que comprovam sua atuação como seita proselitista.
Não se trata de uma luta como a que o Opus Dei empreendeu contra o Código da Vinci faz alguns anos. Agora não é ficção, mas realidade institucional. Fica evidente, por exemplo, que a Obra proíbe seus membros de se confessarem com padres que não pertençam ao Opus Dei. O Vaticano não pode permitir tal regra, tal arbitrariedade. Fica evidente que a correspondência dos membros do Opus Dei sempre foi violada pelos diretores antes que chegasse aos destinatários. O Vaticano não pode ser conivente com essa conduta criminosa. Bento 16 terá inclusive de revisar certas questões jurídicas que os canonistas do Opus Dei manipulam com maestria. O Opus Dei não dá satisfação de suas regras internas nem ao papa nem aos bispos dos países onde atua.
Acesso à verdade
Carlos Alberto di Franco, membro do Opus Dei, formador de jornalistas e editores brasileiros, cultiva um discurso moralista contra a falta de clareza. Em seus artigos no Estado de S.Paulo defende a imprensa livre. Defende o pluralismo. Quer que aprendamos a denunciar os desmandos, a denunciar quem pratica a arte do engodo. Defende a apuração isenta. Para ele, devemos nos comprometer com a verdade. São palavras suas: “Os meios de comunicação existem para incomodar”. Devemos ter acesso à informação, ao conhecimento, à verdade.
Pois bem, apliquemos suas sábias palavras ao caso Opus Dei. Muitas pessoas, católicas ou não, têm interesse pela verdade que incomoda.
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[Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br]
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