Dyelle Menezes Do Contas Abertas |
Com
papel principal na crise que se instalou no Ministério do Esporte esta
semana, o programa Vivência e Iniciação Esportiva Educacional - Segundo
Tempo, carro chefe da Pasta, possui orçamento proporcional ao tamanho da
atenção que vem chamando na mídia. Desde 2004, o programa já
desembolsou R$ 782,3 milhões em ações que visam democratizar o acesso ao
esporte educacional de qualidade, como forma de inclusão social,
ocupando o tempo ocioso de crianças, adolescentes e jovens. Cerca de R$
270,6 milhões do total foram aplicados na modalidade “transferência de
renda a municípios”.
O Segundo Tempo já havia
sofrido denúncias de desvio de verbas e chegou a ser investigado.
Contudo, as acusações ganharam força depois que o policial militar João
Dias Ferreira, ex-militante do PC do B, reiterou no domingo (16) a
denúncia feita à revista Veja, além de ter proferido outros ataques ao
ministro.
Confira a tabela de aplicação desde 2004
Na segunda-feira (17), em
entrevista coletiva, Orlando Silva se defendeu das acusações. "Repudio
veementemente as falsidade publicadas no fim de semana... mentiras de
bandidos, que ganharam tanta repercussão", disse o ministro. "Vou
restabelecer minha honra. Uma empresa de comunicação publica isso, sem
provas. Não houve e não haverá provas. Protocolei pedido de
investigação. A segunda medida, eu propus que o Ministério Público
Federal apure cada uma das denuncias publicadas. A terceira medida:
quero apresentar minhas razões para contestar o que foi publicado pela
revista". Durante a semana, Orlando continuou tendo uma rotina de defesa
intensa. O ministro prestou depoimento na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal.
No blog pessoal, Ferreira
chegou a chamar Orlando de “bandido” e afirmou que apresentaria provas
concretas do esquema da corrupção no programa. Contudo até agora, nada
foi revelado. O militar comanda a Associação João Dias de Kung Fu e é
presidente da Federação Brasiliense da modalidade. Juntas, as entidades
receberam R$ 2,7 milhões em convênios com o Ministério do Esporte entre
2005 e 2011. Segundo Dias, o esquema existe desde a gestão de Agnelo
Queiroz, atual governador do Distrito Federal, quando Orlando era
secretário-executivo.
Neste sentido, vale
ressaltar que as entidades ligadas a João Dias, investigadas na operação
Shaolin que levou à prisão do policial, autor das denúncias, são
cobradas a devolver aos cofres públicos R$ 4 milhões. De acordo com a
investigação, não há comprovação do uso do dinheiro. Notas fiscais foram
falsificadas para justificar os gastos.
O policial militar
afirmou ainda que, em março de 2008, o ministro do Esporte propôs um
acordo para que não levasse a órgãos de controle e à imprensa denúncia
sobre irregularidades no Programa Segundo Tempo. Ferreira protestou, na
reunião que afirma ter tido, sobre a ação do ministério que apontou
irregularidades em dois convênios. Orlando Silva nega que algum encontro
com Ferreira tenha ocorrido em 2008. O ministro disse que só se
encontrou com ele em 2004 e 2005.
Outra denúncia
Uma reportagem exibida no
Fantástico deste domingo (16) revelou que uma das empresas contratadas
pela ONG Bola pra Frente, atualmente chamada de Pra Frente Brasil,
sediada na cidade de Jaguariúna (SP), cuja presidente é a ex-jogadora de
basquete Karina Valéria Rodrigues, que se elegeu vereadora em 2008,
também pelo PCdoB, pertence a um assessor da ex-atleta, Reinaldo
Morandi, que sem saber que estava sendo gravado, admitiu que trabalha
para a vereadora. Mas, ao ser entrevistado negou ser funcionário de
Karina.
Morandi é um dos sócios
da principal fornecedora da ONG, a RNC Comércio de Produtos
Alimentícios, que funciona em Campinas. A empresa foi contratada pela
Pra Frente Brasil e recebeu mais de R$ 10 milhões entre 2007 e 2010. Em
janeiro de 2010, foi assinado um contrato entre a empresa e a ONG no
valor de R$ 4,47 milhões para fornecimento de kits lanche por 21 meses.
Outras duas empresas de
Pedreira também podem ter sido usadas para o desvio de recursos, segundo
o Ministério Público. A empresa Esporte e Ação, também contratada pela
ONG da ex-jogadora Karina, é suspeita de ser de fachada, conforme o MP.
Entre 2007 e 2010, a Esporte e Ação recebeu da ONG de Karina R$ 1,29
milhão para fornecimento de material esportivo. A dona da empresa é
Cleide do Nascimento Villalva. A família Villalva tem outra empresa, a
Marcelo Villalva - EPP, que também firmou contratos com a ONG de Karina.
A Marcelo Villalva - EPP recebeu, entre 2007 e 2010, R$ 2,74 milhões
para fornecer materiais esportivos e lanches.
A RNC fez quatro
pagamentos para a campanha, totalizando R$ 15,5 mil e a Marcelo Villalva
doou R$ 5 mil para a candidata. O dono da empresa RNC, Reinaldo
Morandi, disse que o setor jurídico da empresa vai se manifestar sobre o
caso. Marcelo Vilalva, dono da empresa Vilalva, negou que tenha doado
dinheiro para a campanha da vereadora.
Medidas
A Procuradoria da
República em Campinas vai investigar o convênio firmado entre o Programa
Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes, com a Pra Frente Brasil.
Segundo a própria ONG, a Pra Frente Brasil atende mais de 18 mil
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em 17
municípios do estado de São Paulo, desenvolvendo programas nas áreas de
esporte, saúde, educação, meio ambiente, cultura, arte e lazer.
Para o MPF (Ministério
Público Federal), há indícios de atos de improbidade administrativa
durante a execução do convênio, o que pode configurar enriquecimento
ilícito e prejuízos ao Erário Público. Os fatos vinham sendo antes
investigados pelo MPE (Ministério Público Estadual). A suspeita do MPE é
que pode ter ocorrido uma série de irregularidades envolvendo o
convênio entre o programa e a ONG para a implantação de 180 núcleos de
Esporte Educacional. A apuração inicial indicou que haver direcionamento
de procedimentos licitatórios para beneficiar empresas cujos donos
mantinham estreitas ligações de parentesco ou de trabalho com os
diretores da ONG.
Para conduzir as
investigações, o MPF solicitou à CGU (Controladoria-Geral da União)
cópias de relatórios de fiscalização realizada pelo órgão sobre a
execução de convênios federais firmados com a Pra Frente Brasil nos
últimos cinco anos. Também foi requisitado que a ONG envie cópia
integral dos processos administrativos de licitação ou dispensa de
licitação e dos contratos.
Em nota divulgada ontem e
publicada em sua página na internet, a presidente da organização, Rosa
Malvina da Silva, disse que não “há nenhum constrangimento” em dizer que
foram de fato firmados convênios com o Ministério do Esporte para o
desenvolvimento do Programa Segundo Tempo. “Contudo, deixamos claro que
nossa entidade nunca teve o mínimo de potencialidade em qualquer evento
lesivo aos cofres públicos, pois firmou os convênios e cumpriu
rigorosamente com suas obrigações realizando em seus exatos termos, as
condições e exigência dos programas pactuados, prestando as contas nas
devidas datas”, declarou por meio de nota.
Confiras as matérias produzidas pelo Contas Abertas sobre o assunto:
- Ministério do Esporte possui contrato com outras Ong’s vinculadas ao PC do B
- Crise no Esporte: as estranhas relações da família Petta
- Ministério do Esporte não analisou 1.493 convênios
- Campinas recebeu quase R$ 5 milhões do Ministério do Esporte
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terça-feira, 25 de outubro de 2011
Ministério do Esporte: Segundo Tempo já aplicou R$ 782,3 milhões desde 2004
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