Publicada em 25/10/2011 às 00h02m
Jailton de Carvalho (jailtonc@bsb.oglobo.com.br)BRASÍLIA - Em novo depoimento à Polícia Federal, sem a presença de seus advogados, o policial militar João Dias Ferreira, ex-militante do PCdoB, informou que outras sete ONGs também vão denunciar o esquema de propina no Ministério do Esporte. Ao todo, o policial espera arregimentar representantes de 20 ONGs que teriam cometido fraudes no programa Segundo Tempo por sugestão de altos funcionários do ministério.
Eu já conversei com sete ONGs. Vamos conversar com outras
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- Eu já conversei com sete ONGs. Vamos conversar com outras. Ao todo, 20 donos de ONGs vão lá (na Polícia Federal) entregar tudo - disse João Dias ao GLOBO.
Segundo o PM, um grupo de servidores saía a campo em buscas de ONGs, oferecia convênios e, em contrapartida, exigia a contratação de algumas empresas aliadas da organização. Algumas empresas forneciam parte dos estoques de alimentos, equipamentos e uniformes. Outras cediam notas fiscais falsas. A partir dos contratos com empresas reais ou fictícias, parte do dinheiro dos convênios destinados a estimular a prática de esporte entre crianças do Distrito Federal retornava para o caixa de dirigentes do PCdoB. As verbas eram usadas para financiamento de campanhas eleitorais e enriquecimento ilegal.
No interrogatório, João Dias entregou ainda aos delegados Fernando de Sousa e Jackson Rimac os 14 áudios de duas comprometedoras conversas que teve com quatro dirigentes do ministério e com o ex-jogador Tony Mattos, supostamente um dos principais arrecadadores de dinheiro do PCdoB em Brasília. A denúncia mais grave foi dirigida a um ex-secretário nacional de Esporte Educacional do Ministério. Segundo João Dias, esse ex-secretário teria usado uma ordem de prisão falsa para tentar extorquir dele R$ 200 mil. João Dias entregou a cópia do suposto mandado de prisão que teria sido expedido em 13 de julho de 2007.
Em julho de 2007, o PM foi chamado para uma conversa com este ex-secretário, na sala dele, no segundo andar do prédio sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit).
Ordem de prisão pressionaria o PM
Segundo o policial, durante a conversa, o ex-secretário exibiu a ordem de prisão contra Eduardo Pereira Tomaz, coordenador das ONGs do policial, a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak) e Associação João Dias de Kung Fu e Fitness. O mandado "teria sido usado para pressionar o declarante ao recebimento de propina", disse Dias, conforme depoimento do policial ao qual O GLOBO teve acesso. Em tom de cumplicidade, o interlocutor teria dito que era preciso fazer algo para livrar Tomaz da prisão. A detenção dele poderia atingir duramente os negócios do policial.
- Ele deve ter feito alguma coisa errada sem você saber, João - disse o ex-secretário, conforme relato do policial.
João Dias disse que ficou atordoado diante do mandado de prisão supostamente assinado pelo juiz Nelson Ferreira Júnior. O ex-secretário teria pedido então R$ 200 mil. O dinheiro seria para pagar advogados. Mais tarde, o policial descobriu que a ordem de prisão era falsa. Naquele momento, auxiliares do ministro Orlando Silva estariam fazendo pressão para demover o policial de levar adiante as denúncias contra fraudes no Segundo Tempo.
O policial disse que não pagou a propina e, desde então, partiu para o confronto com militantes do PCdoB e dirigentes do ministério que, depois de convidarem-no a participar do programa Segundo Tempo, teriam resolvido transferir para ele responsabilidades sobre eventuais irregularidades nos convênios. O ex-secretário não foi localizado nesta segunda-feira pelo GLOBO.
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