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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Egito : Mubarak diz que está 'farto' do poder

Manifestantes no Cairo
Um mega-protesto está agendado para esta sexta-feira
O presidente egípcio Hosni Mubarak afirmou à emissora de televisão norte-americana ABC recear que caso abandone o poder neste momento o seu país possa resvalar para o caos.

Estas declarações surgem quando a situação permanece extremamente tensa, a poucas horas de um mega-protesto agendado para esta sexta-feira a seguir às tradicionais orações de sexta-feira.

Na sua primeira entrevista desde o início dos protestos, há mais de uma semana, Mubarak disse estar cansado de ser presidente mas que se preocupava com o seu país, que prometeu nunca abandonar.

O líder egípcio, no poder há 30 anos, voltou a insistir que não se iria recandidatar e que o seu filho, Gamal, não iria ser o seu sucessor.

Entrevista à ABC

A jornalista do canal ABC Christine Amanpour, relatou o encontro de 30 minutos que teve com Hosni Mubarak:

"Quando lhe perguntei sobre se ía abandonar o cargo ele respondeu: 'estou farto. Depois de 62 anos quero ir-me embora'. Quando lhe falei da violência contra os manifestantes na Praça da Libertação, ele disse 'fiquei muito descontente com isso. Não quero ver egípcios a lutar uns contra os outros'. Ele negou que o seu regime e os seus apoiantes fossem os responsáveis.

"Ele disse-me que o presidente Obama não lhe tinha pedido que saísse imediatamente. Disse ainda que apesar de pensar que Obama é um homem muito bom, lhe tinha dito que 'ele não percebe a cultura egípcia e o que aconteceria caso se demitisse agora'. Voltou a dizer que 'se me demitir agora, virá o caos e a Irmandade Muçulmana tomará o poder'"

A jornalista confirmou ainda ter visto o filho e a mulher de Mubarak no Palácio Presidencial, desmentindo assim rumores de que a família teria fugido para Londres ou para o Dubai.

Evacuação

Antes o recentemente nomeado vice-presidente de Mubarak, Omar Suleiman voltou a apelar aos manifestantes que deixassem a Praça Tahrir, dizendo que os apelos a reformas políticas iriam ser satisfeitas.

Os apelos de Suleiman foram ignorados pelos milhares que permenecem no centro nevrálgico do Cairo.

Registam-se ainda confrontos esporádicos entre apoiantes das facções pró e anti-governo, que têm obrigado o exército a intervir para os separarem.

Entretanto, as Nações Unidas começaram a evacuar o seu pessoal do Egipto devido à situação volátil e instável no terreno. Segundo a ONU as restrições no acesso à Internet estavam também a dificultar o trabalho da organização.

Cerca de 300 funcionários de agências culturais e humanitárias já partiram, em direcção ao Chipre, restando ainda um segundo contingente.

Intimidação

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban ki-Moon apelou à calma e afirmou que a transição de poder exigida pelos manifestantes deveria ter início já:

"Penso que é necessário uma mudança e a haver mudança, essa mudança deve acontecer já. É muito importante que esta transição tenha lugar de forma ordeira".

Disse o secretário-geral da ONU, que a exemplo dos governos aliados de Mubarak no Ocidente está, segundo os analistas, refém do evoluir dos acontecimentos no terreno e ainda reticente quanto às exigências dos manifestantes para o afastamento do presidente egípcio.

Os Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália e Espanha mostraram-se unidos porém nas críticas ao que dizem ser a inaceitável campanha de intimidação contra os jornalistas que cobrem os acontecimentos no Egipto, onde dezenas de repórteres estranngeiros foram detidos e alvo de agressões e visto o seu equipamento apreendido.

A secretária de estado norte-americana Hillary Clinton exigiu que os princípios democráticos e liberdades essenciais fosse respeitadas:

"Nós condenamos com veemência os ataques contra os repórteres que estão a cobrir os acontecimentos no Egipto.

"Trata-se de uma violação das normas que garantem a liberdade de imprensa e é inaceitável independentemente da situação. Condenamos ainda com veemência os ataques contra manifestantes pacíficos, activistas dos direitos humanos, estrangeiros e diplomatas"




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