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publicado 19:38 04 fevereiro '11
Foto de arquivo mostra as instalações da Al-Jazira no Cairo que agora foram destruídas Ahmed Khaled, EPA
A estação de televisão árabe Al-Jazira disse hoje que as suas instalações na capital do Egito foram incendiadas e destruídas por um “bandos de desordeiros”. O canal sediado no Qatar acusa o Governo de Hosni Mubarak, ou apoiantes do mesmo, de estarem por trás do ataque. Nos últimos dias, a imprensa internacional que cobre os acontecimentos no Cairo, tem vindo a alvo de sevícias e perseguições por parte de grupos pro-governamentais.
“As instalações [da Al-Jazira no Cairo] e o equipamento que se encontrava no seu interior arderam” disse a estação de TV em comunicado, “parece tratar-se da mais recente tentativa do regime egípcio para prejudicar a cobertura noticiosa da Al-Jazira no país”, acrescenta a nota.
Ataques em múltiplas frentesParalelamente a Al-Jazira revelou que o seu site na internet têm estado a ser alvo de uma campanha de ataques informáticos. Na madrugada de sexta-feira um rodapé promocional do seu site de língua árabe foi “eliminado” durante duas horas e substituído por um slogan em que se lia “Juntos pela queda do Egito”, e que por sua vez tinha um link dirigido a uma página que criticava a estação noticiosa.
No início da semana as autoridades tinham ordenado ao canal de notícias que suspendesse as operações no país, acusando-o, alegadamente, de estar a fazer uma cobertura falsa ou exagerada dos protestos antigovernamentais. Os escritórios da estação foram encerrados e o pessoal da mesma viu serem-lhe retiradas as permissões de trabalho e acreditações.
Al-Jazira recusou-se a pararApesar disso a Al-Jazira continua até agora a operar no Egito e pode ser vista por qualquer cidadão, através de outros canais de satélite. Além disso, emissão da TV também pode ser vista num ecrã gigante colocado na praça Tharir, onde se localiza o epicentro dos protestos contra o regime.
Quinta-feira a Al-Jazira revelou que três dos seus jornalistas tinham sido libertados, depois de terem sido detidos pela polícia quando cobriam as manifestações.
A cadeia de televisão goza de larga audiência em todo o mundo árabe e pode ser vista em todo o mundo através de transmissões satélite.
Violência dirigida contra jornalistasO ataque à Al-Jazira é um dos mais recentes exemplos da onda de violência, aparentemente orquestrada, que está a ser dirigida contra os jornalistas que cobrem a crise no Egito.
Muitos dos correspondentes estrangeiros que cobrem os incidentes foram alvo de ataques, incluindo o pessoal da BBC, CNN, e ABC e das Televisões francesas, turca e dinamarquesa.
Repórteres fotográficos relataram ter sido atacados por apoiantes do Presidente Mubarak quando cobriam os incidentes junto à praça Tahrir. Um repórter sueco foi esfaqueado e a televisão Checa anunciou que se vai retirar do Egito devido “à vaga sem precedentes de ataques contra jornalistas”.
Comportamento do regime egípcio condenado internacionalmenteEstes ataques têm feito chover críticas, a nível internacional, sobre o regime egípcio.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon condenou, em termos duros, os ataques à imprensa e o mesmo fizeram os governos da Alemanha e Dinamarca.
Em França a ministra dos negócios estrangeiros, Michele Alliot Marie condenou num comunicado os “incidentes inaceitáveis que comprometeram a segurança dos jornalistas” de órgãos noticiosos franceses, como os canais de TV TF1, France 2, BFM e France 24 e o jornal “Le Monde”. A responsável pela diplomacia gaulesa manifestou-se também preocupada com o destino de três jornalistas franceses e de um pesquisador, de que o Governo de Paris diz não ter noticias.
“Nunca se viu nada assim. Nem um único órgão noticioso no Egito escapou hoje à violência “afirmou Jean-Francois Juillard, que lidera o escritório de Paris da associação internacional de jornalistas “Repórteres sem Fronteiras” . “É totalmente impossível, neste momento, trabalhar como jornalista no Egito”, acrescentou.
Uma média de um ataque por horaA Comissão de Proteção aos Jornalistas, uma organização de observadores sediada em Nova Iorque afirma ter registado, em menos de 24 horas, 24 detenções de jornalistas, 21 assaltos violentos e cinco casos em que os profissionais viram o equipamento ser apreendido. Entre os que foram detidos contam-se os correspondentes do New York Times e do Washington Post .
Em Genebra a alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos classificou as detenções de jornalistas como “uma tentativa descarada de abafar as notícias”. Navi Pillay, afirmou que “os principais promotores do caos parecem ter sido os serviços de secretos e de segurança do Egito”.
Grupos de direitos humanos também estão sob fogoNem só os órgãos noticiosos têm sido atacados, também as agências humanitárias que trabalham no Egito relatam atos de violência contra os seus associados.
A Human Rights Watch afirma que um dos seus pesquisadores, Daniel Williams, estava desaparecido desde que foi detido na quinta-feira á noite, no Cairo, pelas forças de segurança egípcias.
Também a Amnistia Internacional disse que dois membros do seu pessoal estão desaparecidos, julgando-se que tenham sido detidos pela polícia militar, na sequência de um raide a um centro jurídico na capital egípcia.
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