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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SURGE UMA NOVA CATEGORIA: A “CASSAÇÃO TEMPORÁRIA”. ISSO FAZ SUPOR QUE EXISTA A “DESCASSAÇÃO”




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010 | 12:35

A Justiça no estágio em que está — e é preciso ler o post em que explico por que a decisão do juiz que quer cassar o mandato de Kassb contraria jurisprudência do TSE — encontra-se com uma imprensa também no… estágio em que está. A vítima, num sentido mais restrito, é o leitor; num mais geral, a verdade.

Numa coluna na Folha, Valdo Cruz antevê a morte do DEM em texto intitulado “Missa de Sétimo Dia”. Quantas vezes já vimos a imprensa matar políticos e partidos de véspera? Diz que a decisão da Justiça Eleitoral é uma revés para… Serra, claro. Acharam a sua tese tão boa que um trecho do artigo foi parar na primeira página. Pena terem escolhido a passagem menos notável. O melhor está na criação de uma categoria eleitoral e jurídica nova. Leiam:
“Muito provavelmente, Kassab terá melhor sorte do que Arruda. Mas a cassação temporária de seu mandato é mais um revés para um partido que corre o sério risco de definhar eleitoralmente”.

A nova categoria aí é a chamada “cassação temporária”; trata-se do político “cassado por enquanto”. A construção estrambótica se faz necessária pela simples e óbvia razão de que uma “cassação” de primeira instância cassação não é.

Na Folha, como em todos os jornais, até que um assassino não seja condenado em última instância, ele não é chamado de “assassino”. Nunca! Os manuais de redação o proíbem. Ele é, no máximo, um “acusado de”. Os assassinos gozam de cuidados no jornalismo que não se dispensam aos políticos, especialmente àqueles que não são da turma.

A “cassação temporária” pede também uma adequação da língua à realidade: além do verbo “cassar”, será preciso conjugar o verbo “descassar”, com a criação do adjetivo e do substantivo correspondentes. Hoje, os jornais mandam brasa: “Gilberto Kassab, cassado…” Se a decisão for revista, será fatal encontrar um novo caminho na linguagem: “Gilberto Kassab, prefeito descassado de São Paulo…”

Por que o absurdo se revela na linguagem? Porque estamos diante de um absurdo de fato. O juiz de primeira instância decidiu cassar Kassab, mas cassado ele não está. Não segundo a lei. Por enquanto, cassaram-no apenas o juiz Silveira e parte da imprensa — aquela parte que, aliás, nunca se conformou com a sua eleição.

Ah, sim: quanto ao prejuízo causado a José Serra, dizer o quê? Antes que se tenha uma pesquisa para prová-lo, tudo não passa de especulação ou expressão de uma vontade. Nunca ninguém especulou sobre eventuais prejuízos que o apoio de Lula a Sarney poderia trazer. Esse é o tipo de dúvida que só pode ser levantada com os adversários do PT.

Terão tempo os jornais de descobrir que existem também os leitores não-petistas? Não sei. Torço por isso, mas sou pessimista quanto a este particular.




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