Edição 1 674
8/11/2000
Aviso aos novos prefeitos: as urnas
informam que o eleitor está julgando
por critérios técnicos
Uilson Paiva
José Paulo Lacerda/AE |
Fernando Henrique: nesta eleição municipal predominaram os assuntos locais, e não a política econômica do governo federal |
Esta é a quinta eleição municipal após o fim do regime militar. Nas duas primeiras (1985 e 1988), o país discutiu democracia. Nas duas seguintes (1992 e 1996), o tema predominante foi o combate à inflação. Agora não. "Desta vez, o debate foi municipal e travado em torno da pessoa do prefeito, e não das propostas dos demais candidatos", diz Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populi. "Prefeito que agradou se reelegeu, não importa o motivo. Os demais concorrentes só tinham chance se ele não estivesse agradando", conclui. De maneira geral, os prefeitos parecem ter sido julgados de maneira mais técnica que em tempos anteriores. Honestos e competentes mantiveram-se no cargo, ainda que não tenham feito tudo o que prometeram na campanha anterior. Ladrões e lambões, informam os especialistas, o Brasil mandou passear. Claro que há exceções, como o prefeito Roberto Magalhães, do Recife, um político de excelente currículo, que perdeu a eleição para o petista João Paulo. De qualquer forma, o julgamento administrativo da sucessão é uma novidade e tanto.
Como regra geral, os dados mostram que a sociedade aprova seus prefeitos. Segundo um levantamento feito pelo site www.riscopolitico.com.br, do cientista político Sérgio Abranches, 67% dos prefeitos que tentaram a reeleição nas grandes cidades conquistaram o segundo mandato. Consideradas apenas as capitais, o índice de sucesso foi de 75%. Mesmo com essa alta dose de reeleição, a composição política nacional sofreu um rearranjo. Quem foi às urnas guiou-se por uma leitura a respeito do passado de cada gestão, e não da situação política nacional como um todo. Ou seja, as eleições foram municipais em seu alcance, e não federais, como outras que ocorreram no passado, mesmo quando se elegiam prefeitos. Na avaliação de Sérgio Abranches, a eleição para presidente em 2002 "será determinada por outra conjuntura e por uma situação política diferente da atual". Se essa avaliação for correta, isso pode funcionar como um alívio para os partidos da base governista, que em muitos aspectos perderam terreno para as legendas de oposição, especialmente o PT.
Leonardo Colosso O discurso ideológico não convenceu: os sindicalistas Jair Meneguelli (foto), do PT, e Vicentinho perderam de lavada no ABC |
Sobre o resultado da eleição, há várias leituras possíveis. Numa visão quantitativa, que leva em conta os números nacionais como um todo, os partidos que dão sustentação ao governo de Fernando Henrique até que se saíram muito bem. Numa conta que despreza os partidos nanicos, as legendas governistas controlavam 85% de todas as prefeituras em 1996 e permanecem rigorosamente no mesmo patamar. Partidos de oposição a FHC dominavam há quatro anos – e dominam ainda hoje – apenas 15% das cidades. Há outra conta nacional cujo resultado é pró-governo: os partidos situacionistas representavam 74% do eleitorado há quatro anos e caíram só um pouco. Obtiveram 67% do total de votos. Por conseqüência, a oposição subiu de 26% para 33% dos votos.
Já numa visão mais complexa, em que se analisa não apenas a quantidade, mas a qualidade do voto, a oposição ganha terreno – e muito. Ela conseguiu redesenhar o mapa político formado pelas grandes cidades. Quando se analisa o eleitorado das 26 capitais, conclui-se que os partidos que se opõem a FHC tinham 37% dos votos em 1996. Agora, conseguiram 47%. Em 1996, os partidos oposicionistas detinham o poder em 32% das cidades com mais de 200 000 eleitores. Hoje, chefiam 49% desses municípios. Ou seja, praticamente empataram o jogo.
Tais informações são especialmente úteis para a safra de novos prefeitos que assumem seus cargos a partir de 1º de janeiro. O eleitor ouviu suas promessas, achou que eram razoáveis e agora vai cobrar. Os números mostram que o brasileiro não concordou em debater, em esfera municipal, a política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Dificilmente se irá aceitar uma desculpa federal para justificar eventual fracasso local", diz Marcos Coimbra, do Vox Populi. Um exemplo desse descasamento entre o mundo federal e o universo das coisas municipais são as cidades de Vitória e Porto Alegre. Nas pesquisas de opinião sobre assuntos federais, as duas demonstram possuir impressões semelhantes. Ou seja, são mais ou menos parecidas nesse sentido. Ainda assim, a capital do Espírito Santo reelegeu um tucano (Luiz Paulo Vellozo Lucas) e a capital gaúcha elegeu um petista (Tarso Genro) para suceder a outro petista. Será que o capixaba optou por Vellozo Lucas porque está com Pedro Malan e não abre? Ou o gaúcho que votou em Tarso Genro é do contra? Nada disso, informa Sérgio Abranches. Ambos optaram pelo continuísmo municipal. Afinal, estava valendo a pena.
As forças políticas hegemônicas nas cidades do interior ocupam dois terços das cadeiras do Congresso Nacional e é no Parlamento que se decidem as grandes questões do país. Sob esse aspecto, os partidos da base governista continuam do mesmo jeito. Por outro lado, as metrópoles abrigam quase 40% da população total, 55% da renda e 70% da massa de salários. Praticamente todas as grandes empresas têm sede em metrópoles. Segundo o IBGE, a receita das cidades brasileiras com mais de 200 000 habitantes chegará a 19 bilhões de reais em 2001. A oposição vai administrar 73% desse bolo. Por essa ótica, a turma da oposição deu de lavada.
A partir de 1º de janeiro, o PT toma o lugar do PFL como o partido responsável por governar o maior número de pessoas nos municípios brasileiros. Os 187 prefeitos petistas eleitos agora irão ter sob sua administração um contingente de 29,1 milhões de pessoas. Isso corresponde a 17,4% de toda a população do país. A base de cálculo é feita sobre o recém-divulgado número de 167 milhões de habitantes apurado pelo Censo 2000 do IBGE. É um salto impressionante. Em 1996, com 110 prefeituras, o PT havia ganho o direito de governar para 6,7 milhões de pessoas na esfera municipal. Isso significa que, sob a ótica das eleições municipais, a legenda quadruplicou sua responsabilidade e visibilidade. Em segundo lugar ficou o PMDB. O partido governava para 25,2 milhões de pessoas e passará a responder agora por 26,8 milhões. Esse número significa 16% do povo brasileiro. O PSDB continuou estacionado com praticamente o mesmo número de cidadãos governados. Respondia por 25,5 milhões e agora teve ínfima variação para 25,4 milhões.
Os pefelistas haviam saído das urnas em 1996 com mandatos para administrar 25,6 milhões de pessoas. Agora, perderam 9,4% dos cidadãos e ficaram com 23,2 milhões, caindo para quarto no ranking da representação. Quem efetivamente perdeu foi o PPB. Em 1996, o partido passou a governar 25,2 milhões de brasileiros. Com a derrota de Paulo Maluf em São Paulo e o péssimo desempenho no interior paulista, os pepebistas viram esse universo desabar para menos da metade: 10,2 milhões. São números que impressionam, a ponto de o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, recorrer a uma análise um tanto catastrófica: "Se a base do governo não estiver unida, é possível que venhamos a perder a eleição para a oposição em 2002". Pode ser, pode não ser. Depende, talvez, quem sabe.
Com reportagem de Lourenço Flores e Márcio Pacelli,
de Brasília, e Rodrigo Vergara e Cristine Prestes, de São Paulo
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