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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Q.I. do quadril



Estudo comprova que a evolução da inteligência esteve associada, há milhões de anos, ao aumento da região pélvica da mulher

Tatiana de Mello

As antigas parteiras diziam: mulher com quadril largo é ideal para ter filhos saudáveis. Na semana passada a ciência avalizou em parte essa crendice popular – no quesito inteligência. A partir de ossos pélvicos encontrados na Etiópia, os pesquisadores observaram que as fêmeas da linhagem Homo erectus (nosso ancestral que viveu há mais de um milhão de anos) tinham ancas largas o suficiente para dar à luz bebês com cérebros bem maiores em relação às dimensões cerebrais dos recém-nascidos de gerações anteriores. A cavidade do “canal de nascimento das fêmeas Homo erectus” era muito mais ampla do que a das Australopithecus e demais antepassadas. Com essas evidências, os cientistas concluíram que a espécie humana chegou ao padrão médio atual de cérebro (volume de cerca de 1.400 cm3) porque a seleção natural da marcha evolutiva pressionou biologicamente as fêmeas a uma estrutura de cavidade pélvica mais larga. Possibilitou assim a gestação de fetos com crânios maiores e as condições de eles nascerem sem lesões, já que o conjunto ósseo da região pélvica também passou a permitir tal nascimento. Esse aumento do volume do cérebro, que só pôde ocorrer porque houve aumento da caixa craniana, está ligado à evolução da inteligência.

ARTE: EDI EDSON

“Proporcionalmente, a bacia da fêmea Homo erectus é até maior que a bacia dos humanos modernos”, diz o paleontólogo americano Scott Simpson. Antes dessa descoberta, os cientistas acreditavam que o cérebro do Erectus era menor, uma vez que as estimativas sempre foram feitas com base em um osso pélvico de um macho que tinha abertura 30% menor. “A nova notícia aponta claramente que subestimamos as características das outras espécies”, disse à ISTOÉ o biólogo paulista Marco Antonio Correa Varella. Para os cientistas em geral, o cérebro dos Homo erectus estava em um nível de desenvolvimento entre o dos chimpanzés e o nosso. Eles acreditam que foram pressões do ambiente que impulsionaram a espécie Homo a desenvolver um cérebro maior. Enquanto a evolução forçava o aumento da massa encefálica, as mulheres precisavam se adaptar fisiologicamente a esse fenômeno. A natureza, não por milagre, mas guiada pelo instinto de sobrevivência, promoveu tais “rearranjos” físicos. Além do aumento da massa encefálica, o próprio cérebro também mudou – houve crescimento da parte frontal responsável. É claro que a inteligência está ligada a diversos fatores, além das dimensões cerebrais, mas essa é basal (base material) – mesmo dando todas as condições emocionais e sociais a alguém que tenha volume insuficiente de massa encefálica, esse indivíduo terá déficits cognitivo, volitivo ou motor.

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