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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Lula, o médico e o "sifu"

Lula é um gênio da comunicação, mas a marolinha logo poderá se virar contra ele

Leonardo Attuch
attuch@istoe.com.br


O presidente Lula é um gênio na arte da comunicação. Fala tão direto ao coração do povo que é capaz de resumir qualquer problema, da física quântica à crise do subprime imobiliário, a um papo de botequim sobre o último jogo do Corinthians. Vez por outra, ele se supera. Já se definiu como “o garanhão de Garanhuns”, disse que era filho de uma mãe, dona Lindu, que “nasceu analfabeta” e ainda previu que ele e George W. Bush encontrariam o “ponto G” para fechar um acordo comercial. Na semana passada, porém, ele chegou perto da perfeição na arte da retórica popular. Disse que um presidente, quando se depara com uma crise de grandes proporções, tem que se comportar como um médico diante de um doente terminal. O papel dele é vender esperança. “Ou você diria ao paciente: Ô, meu, sifu.”

Outros líderes, diante de grandes desafios, usariam expressões mais elaboradas. Winston Churchill, na Segunda Guerra Mundial, prometeu ao povo inglês “sangue, suor e lágrimas”. Franklin Delano Roosevelt, em plena Grande Depressão, disse aos americanos que a única coisa a temer “era o próprio medo”. Mas Lula é Lula. Deixa qualquer um no chinelo e, com seu jeitão de repentista, está montado em 70% de popularidade, dos brasileiros que o consideram um bom ou ótimo presidente. A elite letrada torcerá o nariz para o vocabulário chulo, para os modos politicamente incorretos, mas o problema da fala presidencial está menos no estilo – pois o Brasil não elegeu um Rui Barbosa – do que na mensagem implícita. A questão é: será que o estado de saúde do paciente, ou da economia, é mais grave do que imaginamos? Ou será que o médico Lula falou da crise apenas em termos abstratos?

Consta que o Palácio do Planalto já encomendou uma campanha publicitária para estimular o povão a continuar comprando. Mas a crise, que Lula definiu como “uma marolinha” que “jamais atravessaria o Atlântico”, pode estar descendo dos Estados Unidos ao Brasil por terra mesmo. Na semana passada, a Vale anunciou 1,3 mil demissões e 121 mil pessoas estão sendo colocadas em férias coletivas. Lula faria bem se, em vez de conduzir a crise no gogó, como um encantador de serpentes, condicionasse os bilhões que o governo tem liberado para várias empresas ao compromisso de que mantenham seus empregos no próximo ano. Se isso não for feito, logo, logo, seus 70% dwe popularidade poderão virar 30%. Neste caso, é possível que algum companheiro se vire para o presidente e diga: “Ô, meu, sifu.

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