[Valid Atom 1.0]

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Homem Isca - Porque o Espancam e Lhe Devolvem o SILÊNCIO

Terrorismo real X Terrorismo psicológico

(Terrorismo real e terrorismo psicológico)

Escrevo às 4 da manhã. Exausto de um dia de ensaio puxado, repetitivo, às vezes frustrante, discussões técnicas, entrevistas, conversas com a equipe e o skype tocando… me encontro entre um ponto FINAL e outro, o de interrogação, assim como o personagem de “Bate Man”, ou “Bait Man” (homem Isca) que estréia em alguns dias.

Muito estranho como nós acabamos sempre no mesmo buraco que os textos que geramos para teatro. Ou será que é justamente o contrário? Pouco importa. A essa hora da madrugada, lutando pra conseguir algumas horas de sono e começar a nova batalha e me pergunto: Por que batalho, me “entrego” ou me confesso através da última fala do ator num palco de terra, caixas de vinho pelo chão, Bordeaux 1933 e Barolo 1945?

Tudo detonado. Nada mais no palco a não ser uma isca, de onde ele estava pendurado no início do espetáculo sendo espancado pela sua própria culpa ou incoerência por estar vivendo e vivenciando o susto de ter nas mãos garrafas de vinho com datas tão significativas e, no entanto, contendo sangue humano.

Assim estou agora. Sentado num hotel, comendo pudim de leite e berrando paro o mundo o que o meu “Bait Man” fala depois que cai num desfile de modas absurdo nos dias de CRASH ECONÔMICO, onde a imagem do EU vai ficar suspensa por um tempo ou entrará num surto psicótico.

Depois de torturado, ou se deixar torturar, pela nona vez num curto espaço de tempo, “Bait Man”, ensangüentado, encharcado de suor e vinho e terra, encara o público:

-“Proteção! Que proteção, porra nenhuma! Isso é o ESTADO entrando em nossas vidas como ESTUPRO! Não, não! Me recuso. Vou para a batalha com um Bordeaux na mão, divino como um ser humano divino, ou com um Barollo contendo sangue humano, porque assim nós somos! Assim sempre fomos.”

Nossa!

Meu desejo é o de atacar, entendem?

Por isso mesmo DEVOREI quatro milhões de metros cúbicos de CONCRETO. É, está tudo aqui dentro. Tudo!

E-N-G-O-L-I-D-O, entenderam? Esse concreto todo!

Aqui dentro. Junto com esse vinho humano.

Uma delícia!

Delícia! Poesia concreta, arte concreta, morte concreta! É, tudo aqui dentro do meu estômago.

E, assim, eu migro pelos mundos, como se fosse o SABÃO nas mãos de Poncio Pilatos ou uma esponja na sola de Mick Jagger. É isso.

Pronto: É o que tenho a dizer, Kurt Cobain!

Ah, aquela parte da tortura… e que ela vale a pena? Deus me livre! A gente diz tanta coisa, né?

Vive tanta coisa, né? Tanto afastamento, tanto silêncio…

SILÊNCIO!

Caramba!

Como a gente vive num tremendo SILÊNCIO que as pessoas nos devolvem… isto é, quando elas não nos POSSUEM, ou querem possuir, elas nos dão os ombros e o silêncio BRUTAL.

Como é BRUTAL o significado de tudo isso!

Como tem gente escondida dentro desse silêncio. É quase como nessas garrafas, mas sem o sangue. Hoje, NEM MAIS SANGUE HUMANO TEM.

POR ISSO ME ESPANCAM! AH, ENTENDI!

BRUTAL, o significado de tudo isso! Gente escondida dentro desse GIGANTESCO silêncio. E nessas garrafas? Todas as obras inacabadas da humanidade?

E os imbecis solitários as bebendo sem saber, nos bares e nos restaurantes, olhando o rótulo, sendo enganados por algum sommelier dando pinta, dizendo: “Bem, esse aqui tem um sabor arredondado e cheio, digamos, com o carvalho ainda no céu da boca, por assim dizer, e a fruta fresca levemente mordida pelo selênio, uma fruta ainda em estado de ‘crescimento’ e portanto algo híbrido, merlot, cabernet e… recém chegado da coleção de um milionário australiano…”

PORRA! Mal sabe ele que lá dentro pode se esconder a obra inacabada de um Franz Kafka ou de um Calderon de La Barca ou mesmo… Ai que desespero! Todo mundo bebendo literatura inacabada ou sangue de assassinos ou mártires e nós aqui, posando de…

Que Tortura! O Analfabetismo! Digo, essa nova forma de braile através da degustação de vinhos humanos. Não funciona! O leitor, digo, sei lá, ficará bêbado e não se lembrará do que leu, ou seja, bebeu!

Educação… pra quê? Ah, para que a gente tenha uma noção de “cultivo da memória” e de “memória da lembrança”, ou vice-versa. Gente! Quem está aí fora?

ÍCARO? ERA ISSO então? Ou Átila? Ou Homero? Ou o quê? O que é para eu aprender aqui? Sério?

Gente, agora é sério!

Rolhas? Sangue Royal? Virar uma Pintura VIVA de Francis Bacon desfilando para ser comprado pelo Damien Hirst e virar uma sátira de mim mesmo? NÃO! Não sou mais quem eu sou porque não estou mais pensando quem eu penso no que estou pensando e vocês nao estão vendo exatamente o que vocês ACHAM o que vocês estão vendo, então sugiro uma… PAUSA de… um mês. Ou então o aplauso que o Próspero pediu ou uma condenação que Prometeus pediu ou então o silêncio que foi concedido a Hamlet pelo Fortinbras porquê…

Porque…

Porque…

Porque…

Gerald Thomas

Dez, 2008

(O Vampiro de Curitiba na edição)


Gerald Thomas

Nascido em 1954, Gerald Thomas tem passado sua vida dividido entre os Estados Unidos, Inglaterra, Brasil e Alemanha...

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Nenhum comentário: