'Bellini e o demônio' é novo filme baseado em série de Tony Bellotto, músico dos Titãs.
Personagem principal aparece doentio e perturbado.
A repórter viajou a convite do Cine Fest Petrobras Brasil-NY
O centro sujo de São Paulo dá o tom ao filme "Bellini e o demônio", ainda inédito em circuito comercial e exibido nesta segunda-feira (11) no Cine Fest Petrobras Brasil-NY, nos Estados Unidos. Fábio Assunção volta a interpretar o detetive Remo Bellini, que aparece neste segundo filme perturbado e doentio.
Seqüência de "Bellini e a esfinge" (2001), o filme é inspirado na série literária de Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs, e traz um respiro ao cinema nacional, que tradicionalmente não ousa se aventurar por searas diferentes, como o terror, o suspense e o policial.
Na história, Bellini vive enfurnado em seu apartamento, barbudo, maltrapilho, sem comer e à base de remédios. Mas uma adolescente é morta, em um caso que parece ter relação com rituais satânicos, e ele se vê de volta à ativa, contratado para encontrar uma obra chamada "Livro da lei". A jornalista Gala (Rosanne Mulholland) também passa a investigar a história da jovem assassinada, e nesse percurso acaba se encontrando com o o detetive particular, seu antigo "affair".
O "Livro da lei" traria as palavras de Lúcifer, escritas pelo famoso ocultista Aleister Crowley, e consistiria numa invocação do anti-Cristo. De acordo com a lenda, quarto pessoas teriam de ser mortas durante a Lua Cheia para que o demônio assumisse sua nova forma. E é assim que a onda de assassinatos começa.
Aleister Crowley (1875-1947) é um personagem real, e as histórias que o cercam são cheias de misterios. Ele foi envolvido em seitas obscuras e teve muitos seguidores durante toda a vida. O "Livro da lei" foi de fato escrito por ele e e uma de suas obras mais famosas.
Tudo interessante o suficiente para estar em um bom filme, não fossem os problemas de estrutura e roteiro de "Bellini e o demônio". A história, por ser complexa e retratar os devaneios de seu protagonista, precisava de um cuidado mais especial. Muita coisa não fica clara, e o filme segue em frente, apesar de o espectador muitas vezes se perder. E quando a história começa a ficar envolvente, é lançada ao público uma conclusão que seria genial se tivesse conseguido ser bem executada.
A equipe de "Bellini e o demônio" enfrentou problemas durante a realização do longa. O diretor Marcelo Galvão entrou em conflito com o produtor Theodoro Fontes e se afastou do projeto - embora conste nos créditos como realizador do filme. Em entrevista ao G1 em junho deste ano, Galvão afirmou que "via o filme de outra forma" e que ele havia ficado "banal".
"Me senti traído. O filme foi para o festival de Los Angeles e ganhou o prêmio de melhor ator. Por quê? Por causa do trabalho de desconstrução que eu fiz com o Fábio Assunção, um trabalho longo. Não sei agora como está agora o filme, nem a equipe técnica sabe. Esse projeto não me trouxe nenhuma alegria."
Com lutas de verdade, ‘Rinha’ quer conquistar mercado internacional
Diretor Marcelo Galvão espera que longa viabilize seu próximo projeto.
'As lutas e o sangue são reais. Nada no filme é falso', garante o cineasta.
Além de reunir produções do cinema mundial em seu festival, Cannes também sedia exibições de filmes para o mercado. Ou seja, é o lugar onde produtores e distribuidores podem se encontrar para fazer negócios. De olho nesse movimento, o diretor Marcelo Galvão foi até lá para exibir “Rinha”, longa-metragem que promete causa polêmica.
Na história, uma festa de playboys é cenário para lutas sangrentas dentro de uma piscina vazia. A platéia se diverte apostando no vencedor. “É aquela festa que a gente sempre ouviu falar, mas nunca foi. Cheia de coisas exóticas, com massagem tailandesa e o garçom servindo cocaína na bandeja”, descreve o diretor. “Esses eventos de aposta existem, e isso não é novidade para ninguém. Não se trata de fazer crítica nem apologia, apenas está lá para você pensar a respeito.”
Galvão tem autoridade para falar no assunto. Lutador “desde moleque”, como ele mesmo diz, faz jiu-jitsu há 15 anos. “Aprendi várias artes marciais. Dei aula em uma academia em Nova York, dormia no tatame e, com o dinheiro que eu ganhei lá, paguei meu curso de cinema”, conta.
Mas a idéia de fazer “Rinha” surgiu pela dificuldade em conseguir financiar o que agora deve ser sua próxima produção, um longa de ficção protagonizado por três portadores de Síndrome de Down, intitulado “Colegas”. “Já foi aprovado na Ancine para a captação de R$ 3 milhões, mas está difícil. Aí pensei em criar um filme que fosse rentável para financiar esse um outro projeto. O ‘Rinha’ é um projeto menor, só tem uma locação, os atores [Leonardo Miggiorin, Maytê Piragibe, Paola Oliveira] não ganharam nada, trabalharam pela projeção. Além disso, é falado em inglês, porque aí amplio meu mercado.”
O diretor espera que o teor polêmico do longa atraia a atenção de distribuidores e espectadores. “As lutas são reais, nada no filme é falso. O sangue é de verdade, misturado com um pouco de groselha. Já fui a muitas lutas assim, na qual os lutadores não usam luvas e não há round. Hoje foram criadas regras para preservar a integridade física do atleta. Por mais bárbaro que possa parecer, é uma profissão. O cara entra no ringue, luta, se quebra, se cumprimenta e acabou.”
Para Galvão, a recepção em Cannes foi boa, e ele diz ter recebido propostas para distribuir o filme em países como Rússia e Taiwan. “Mas o filme ainda não está acabado. Quero mexer na trilha e no ritmo, estou com 2h13m, preciso diminuir um pouco. Vou trabalhar um pouco mais nele e aí quero mandá-lo para outros festivais, mas agora como concorrente. Isso dá outro peso para a produção”, analisa.
A estréia de “Rinha” no Brasil deve acontecer ainda neste ano, no Festival do Rio ou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para depois entrar em circuito comercial.
Para financiar “Rinha”, Galvão teve a idéia de abrir em sua produtora, a Gatacine, uma escola de cinema. Como o filme estava orçado em R$ 250 mil, ele lançou vagas a R$ 5 mil ao mês, esperando que o investimentos dos alunos ajudasse a bancar o longa.
“Tinha bastante gente querendo fazer o curso, mas poucos adeptos pagaram. Então, decidi que o curso seria de graça e chamei 12 garotos que nunca fizeram nada de cinema para trabalhar no longa e assinar como diretores-assistentes.”
Foi essa equipe que transformou “Rinha” em realidade. E agora, o trabalho da Escola de Cinema deve continuar. “Foi um projeto de sucesso. Quando terminamos, entreguei uma espécie de certificado, que era o cartaz do filme com o nome de cada um deles. Alguns continuam trabalhando aqui, outros indiquei para produtoras.”
Galvão assina também a direção de “Bellini e o demônio”, filme adaptado do livro homônimo de Tony Bellotto. Mas a produção lhe trouxe alguns maus momentos. “Fui chamado para avaliar o roteiro. Eu via o filme de outra forma, refiz o roteiro com a condição de dirigir. E foi um trabalho muito árduo, meus projetos são verdadeiros, não são superficiais. Fiz pesquisa, colocamos rituais reais no filme, sacrifícios, quimbanda. Foi muito visceral”, conta o cineasta.
Mas discórdias com o produtor Teodoro Fontes (que também participou do primeiro projeto da série, ‘Bellini e a esfinge’) acabou afastando-o do longa. “Para mim ficou banal. Me senti traído. O filme foi para o festival de Los Angeles e ganhou o prêmio de melhor ator. Por quê? Por causa do trabalho de desconstrução que eu fiz com o Fábio Assunção, um trabalho longo. Não sei agora como está agora o filme, nem a equipe técnica sabe. Esse projeto não me trouxe nenhuma alegria.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário