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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Lula e o PFL



Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou da lei eleitoral que o ajudou a chegar ao poder, o PFL... opa!, o DEM discutiu punição a um vice-governador do partido que denunciou corrupção no governo da aliada Yeda Crusius (PSDB-RS).

Lula e o DEM deram contra-exemplos que, além de pegar muito mal para eles, contribuíram para sedimentar a incorreta opinião de que a política é uma atividade suja. Não é papel de presidente da República criticar a lei --ainda mais uma lei que teve o apoio do PT nos tempos de oposição.

No poder, Lula acha ruim as restrições a liberações de verbas e a assinaturas de convênios oficiais. Na oposição, ele e o PT viviam se queixando de supostos abusos dos manda-chuvas de então. Se Lula acha que a lei é hipócrita, que defenda que o seu partido apresente um projeto no Congresso para alterá-la. No entanto, seria conveniente fazer antes uma autocrítica.

O PT completou 28 anos. Uma das maiores contribuições do partido foi a cobrança por novos métodos na política que a civilizaram. Muitas vezes, essas cobranças foram puro moralismo barato. Muitas vezes, elevaram o padrão ético de toda a classe política.

No escândalo do mensalão, o PT jogou fora boa parte do seu patrimônio ético. Não é justo dizer que jogou completamente fora porque nem todos os petistas podem ser responsabilizados pelas desventuras dos dirigentes que caíram na gandaia com Marcos Valério. Mas é justo dizer que o partido perdeu o diferencial em relação às outras legendas.

Lula contribui para a decadência ética petista a cada momento em que passa a mão na cabeça de um Severino Cavalcanti ou de um aloprado. O presidente dá mau exemplo toda vez em que atribui o surgimento de suspeitas ou acusações de corrupção a uma campanha orquestrada para evitar que a ministra Dilma Rousseff se eleja em 2010.

Ora, José Aparecido e Denise Abreu, o aloprado do dossiê anti-FHC e a mulher-bomba do caso Varig, são velhos conhecidos de Dilma, do PT e da cozinha do Palácio do Planalto. Lula é mais inteligente do que essa teoria conspiratória de quinta, como diria ministra da Casa Civil.

É um pena. Lula faz um bom governo. São inegáveis os belos indicadores econômicos e a melhoria na vida dos mais pobres, com políticas sociais destinadas a quem realmente mais precisa. Até a discussão sobre a volta de uma ameaça inflacionária ganhou maior sofisticação no Brasil. Não existe mais aquela argumentação de que é bom crescer afrouxando um pouquinho o controle dos preços. Economistas de A a Z debatem medidas para tentar casar o máximo de crescimento possível com o máximo de inflação possível. Ninguém que deva ser levado a sério acha que o Banco Central eleva os juros porque é malvado, mas muita gente que merece ser levada a sério discorda do manejo da política monetária.

Isso tudo é bom. Mostra que o Brasil melhorou, o que também reflete a melhoria dos políticos. Por isso, é um tremendo passo atrás o presidente se comportar como se pudesse dizer o que bem entende sobre qualquer pessoa e qualquer assunto.

Em privado, Lula afirma que, se o advogado e compadre Roberto Teixeira usa o nome dele para obter ganhos jurídicos e empresariais, isso é problema de Teixeira e do cliente que acredita nele. Segundo Lula, ele está tranqüilo porque não teria beneficiado o amigo. Fica difícil sustentar esse discurso com aquela foto de Teixeira com os vendedores e os compradores da Varig no gabinete presidencial.

De volta aos oposicionistas do PFL... opa!, do DEM, é até engraçado ver a pose de seus deputados e senadores nas CPIs e depoimentos cabeludos no Congresso. Heráclito Fortes, senador pelo Piauí, enxergou um problemão danado nas pressões de Dilma sobre a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no caso Varig.

Mas ele foi o primeiro "democrata" a pedir a expulsão de um vice-governador do partido que tornou público um caso de corrupção no governo gaúcho. Afinal, o companheiro do seu partido não deveria entregar a rapadura de um aliado. A cúpula do DEM viu que pegaria mal e resolveu poupar Paulo Feijó, mas os dirigentes do partido o condenam. Dizem que ele criou uma crise ao gravar colegas de governo que mencionaram propinas. Reservadamente, afirmam que ele deveria ter ficado de boca fechada.

Dos partidos brasileiros, o DEM está hoje entre os mais cartoriais. Uma geração mais velha transmitiu o controle do partido a uma geração mais jovem. Foi negócio de pai para filho e de avô para neto. Essa espécie de legenda hereditária, que se propõe a ser uma direita moderna, antenada com temas ambientais e comportamentais, vez ou outra dá mostras de ser o velho PFL de guerra. Muda a pele, mas mantém o vício. Com uma oposição desse tipo, fica mesmo meio difícil reclamar de Lula e do PT.

Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.Também é comentarista do telejornal "RedeTVNews", no ar de segunda a sábado às 21h10.

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