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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Orlando Silva, do PC do B. : O capital do camarada ministro

O Estado de S. Paulo - 26/10/2011


Em outros tempos se diria que "são desencontrados os rumores" sobre o destino do ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B. No fim de semana atrasado, um PM do Distrito Federal, João Dias Ferreira, seu correligionário, ongueiro e beneficiário de convênios suspeitos com a pasta, o acusou de participar de um esquema de cobrança de propina nos contratos do programa Segundo Tempo, para jovens carentes. Desde então, o ministro tem sido alvo de uma ou mais denúncias por dia, não apenas sobre favorecimento aos camaradas nos negócios esportivos, mas também de casos clamorosos de desídia. Ainda ontem, por exemplo, este jornal revelou que obras previstas em um convênio com a Prefeitura de Campos do Jordão, assinado em 2006 pelo ministro, praticamente continuam na estaca zero - mas já consumiram R$ 1,37 milhão dos cofres federais.
O desencontro de versões sobre o que a presidente Dilma Rousseff irá fazer com o único membro do PC do B no seu Gabinete exprime, na realidade, o fato singelo de que ela não sabe como sair de mais essa enrascada no viscoso cipoal da corrupção no governo. Na sexta-feira, Dilma convocou o ministro para uma conversa de horas - ao fim da qual assessores da presidente anunciaram que ela havia lhe dado o equivalente a um visto de permanência na administração. Seria, no entanto, uma permanência temporária, a julgar por um comentário atribuído a Dilma, em dado momento de sua estada em Manaus, ao lado do patrono Lula, na segunda-feira. Orlando Silva "não resistiria a uma denúncia nova", teria ela afirmado. Também o ex-presidente parece ter caído em um poço de dúvidas.
Depois de dar apoio ostensivo ao ministro que ficou no governo Dilma a seu pedido e de instar o PC do B a cerrar fileiras em torno dele, Lula teria confessado não ter mais "convicção de nada" e se queixado dos comunistas. "Só me contam o que (lhes) interessa. O que não interessa eu fico sabendo pelos jornais", desabafou, segundo uma fonte, numa involuntária homenagem à imprensa cuja leitura o fazia sentir azia. Ainda que o noticiário o convença de que o Esporte é uma arena de maracutaias, será a extremo contragosto que ele cessará de blindar o suspeito de tolerá-las, ou de promovê-las. Deixaria assim Dilma livre para fazer o que achar mais conveniente. Lula tem uma dívida de peso com o PC do B - e a presidente sabe disso. A legenda comunista ortodoxa foi a única, além do PT obviamente, a apoiar todas as tentativas de Lula de alcançar o Planalto.
Por ora, o PC do B é o capital de Orlando Silva. Para conservá-lo, escreveu uma carta aos seus hierarcas, citando o poeta comunista chileno Pablo Neruda. Ele disse certa vez que se sentia indestrutível porque "contigo, meu partido, não termino em mim mesmo". O ministro ressaltava assim a sua indestrutível identificação com a legenda que "jamais reviu os seus dogmas". A sigla da foice não poderia ceifar do poder um quadro que de tal modo proclama a sua firmeza ideológica - além de transformar as denúncias contra si em expressão de uma imaginária "luta de classes". Mas há também uma razão política real para o governo não comprar briga com o PC do B. O partido poderia partir para cima do antecessor de Orlando Silva, com quem os "malfeitos" na pasta teriam começado - o governador do DF, Agnelo Queiroz, que migrou para o PT.
Por sinal, os companheiros, enquanto se mantêm publicamente solidários ao ministro, fazem já os seus cálculos para a eventualidade de sua queda. Partindo da premissa de que o PC do B poderia ser aplacado com a indicação de outro camarada para o lugar de Orlando Silva, os petistas ventilam os nomes dos deputados Aldo Rebelo e Manuela D"Ávila e o do presidente da Embratur, Flávio Dino. Coincidentemente, todos eles têm planos próprios inconvenientes para o PT. Rebelo gostaria de voltar a dirigir a Câmara. Manuela quer ser prefeita de Porto Alegre. Dino, desafeto do amigão de Lula, José Sarney, ambiciona se eleger em São Luís. São essas coisas que contam para os políticos. A imprensa que se ocupe do que não lhes interessa.



Corrupção

Com escândalo, Fifa e CBF pretendem isolar Orlando Silva

Envolvimento do ministro em caso de corrupção chegou a ser comemorado

O ministro do Esporte, Orlando Silva, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, na abertura do Seminário das Sedes da Copa do Mundo, no Hotel Grand Bittar, em Brasília - 22/2/2011 Orlando Silva e Ricardo Teixeira: escanteado pelo governo, presidente da CBF agora quer dar o troco (André Coelho/Agência O Globo)
Na Fifa, Orlando Silva é visto como um obstáculo aos interesses da entidade. Jerome Valcke já vinha evitando ter de negociar com ele
A Fifa e a CBF usam a crise que assola o Ministério dos Esportes por conta das suspeitas que pesam contra o ministro Orlando Silva para reconquistar o espaço que havia sido ocupado pelo governo na definição de leis da Copa do Mundo de 2014 - e, assim, impor suas exigências, que vinham sendo combatidas por setores do governo.
Na semana considerada como a mais crítica para a definição do Mundial no Brasil, o governo não foi sequer convidado a participar dos encontros em Zurique, que começam nesta segunda-feira. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ainda levará propostas que driblam a posição do governo. A situação fragilizada de Orlando Silva já abre espaço para que as ideias defendidas pelo Planalto enfrentem uma dura resistência.
Depois da publicação da reportagem de VEJA que envolve Orlando Silva numa suspeita de desvio de dinheiro, a cúpula da Fifa teme que o novo escândalo envolvendo o Ministério dos Esportes cause problemas para a definição de leis fundamentais para a Copa. A manobra da Fifa e da CBF, portanto, é a de isolar Orlando Silva e reduzir sua influência. Segundo fontes na Fifa, essa estratégia já começou a ser implementada.
Definições - Nesta semana, a Fifa anunciará as sedes da Copa, a agenda de jogos e mais detalhes sobre a Copa das Confederações. Apesar de toda a pressão política, o governo federal sequer foi convidado a participar das reuniões. Em Zurique, o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, já vinha evitando ter de negociar com o ministro. Agora, a tendência é de que seu peso nas decisões seja reduzido.
Valcke não entendeu até hoje porque o ministro apresentou um projeto da Lei Geral da Copa no início do ano e, meses depois, modificou a proposta. Na Fifa, Orlando Silva é visto como um obstáculo aos interesses da entidade. Não por acaso, a crise no ministério chegou a ser comemorada em Zurique. Na prática, medidas que foram sugeridas pelo ministério já começam a ser desafiadas.
Benefícios - Ao contrário do que o ministro indicou à presidente Dilma Rousseff, a Fifa não irá aprovar nove sedes para a Copa das Confederações de 2013. Fontes na entidade garantem que serão apenas cinco ou seis e que levar o torneio para Cuiabá ou Manaus encareceria ainda mais o evento. A Copa das Confederações jamais deu lucros para a Fifa e a meta agora é a de reduzir custos.
Na Fifa, o alto escalão acusava Orlando Silva de tentar ampliar o torneio, justamente para garantir benefícios financeiros e políticos a outras prefeituras. Outra posição defendida pelo governo e que passa a ser minada é a da meia-entrada para os ingressos da Copa do Mundo. Teixeira vai propor que essa exigência do governo seja limitada a apenas alguns jogos e setores do estádio.
Repercussão - Teixeira, que na última reunião entre a presidente Dilma e Valcke não foi chamado a participar, dá agora seu troco no governo. Em Zurique, a polêmica envolvendo o governo brasileiro chamou a atenção dos parceiros comerciais da Fifa. A entidade já recebeu consultas de seus patrocinadores, querendo saber de que forma as suspeitas no Brasil afetam seus planos.
26/10/2011
às 16:35 \ Direto ao Ponto

O despejo do ministro não basta. É preciso desativar a Casa da Moeda do PCdoB

Consumado neste fim de tarde, o despejo de Orlando Silva não basta. Se o companheiro que compra até tapioca com cartão corporativo for substituído por outro comunista do Brasil, será preservado o esquema que transformou o Ministério do Esporte na Casa da Moeda do PCdoB.  Ele é só o rosto mais conhecido na multidão de militantes envolvidos em patifarias que começaram com Agnelo Queiroz e assumiram dimensões delirantes com o demolidor do Segundo Tempo. Prosseguirão, com diferentes truques e formatos, caso a vaga no primeiro escalão seja preenchida por outro camarada.
Os Estados Unidos não têm um Ministério do Esporte. A maior potência olímpica do planeta tem uma política esportiva definida e consistente, que se fundamenta na descoberta e formação de atletas em colégios e universidades. O Brasil tem um Ministério do Esporte que só tem um partido e jamais esboçou uma política esportiva que mereça tal nome. A única diretriz conhecida é que confere prioridade absoluta ao esporte de alto rendimento. Nesse campo, os patrocínios são muito mais generosos e as parcerias, bastante lucrativas. Coerentemente, o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento é Ricardo Leyser.
Coordenador da comissão organizadora dos Jogos Pan-Americanos de 2007, foi ele o principal arquiteto do monumento à gastança contemplado pela medalha de ouro em salto do orçamento, superfaturamento de notas fiscais, licitações fraudulentas e convênios bandalhos. Estava em Guadalajara ao lado do ministro quando chegou a notícia de que a edição de VEJA reafirmaria que, para os farsantes, sábado costuma ser o mais cruel dos dias. Na segunda-feira, depois de qualificado de “bandido” por Orlando Silva, o PM João Dias Ferreira devolveu o insulto com uma nota que acabou por ampliar o prontuário de Leyser.
“E se tu não deves nada”, perguntou João Dias a Orlando Silva num trecho, “por que mandou seu secretário nacional Ricardo Leiser tentar me localizar na sexta-feira, quando soube da matéria, o que ele queria comigo? Fazer mais um daqueles acordos não cumpridos?” O único erro é o i no lugar do y de Leyser, que tentou escapar do flagrante com uma réplica irônica: “Como eu o procurei se estou em Guadalajara? Por teletransporte?”  A frase lhe custou uma internação no Sanatório Geral, justificada pela suspeita de que Leyser ainda não foi apresentado a um invento batizado de telefone.
Os leitores da coluna conhecem a figura desde outubro de 2009, recorda o post reproduzido na seção Vale Reprise com o título “O prefeito que governa de joelhos e o ‘senhor executivo” descoberto por Orlando Silva”. O “senhor executivo”, com aspas, é Ricardo Leyser. Um senhor delinquente, sem aspas.
LAST












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