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sábado, 19 de março de 2011

Ti-Ti-Ti A educação sentimental



Quando escrevi aqui sobre a novela Ti-Ti-Ti algum tempo atrás, me surpreendi com os comentários indignados por eu estar elogiando uma novela e admitir publicamente o valor artístico e cultural dos folhetins eletrônicos brasileiros. Não foi uma viagem minha. Não é de hoje que nossas telenovelas se destacam mundo afora por sua qualidade técnica e artística.

Conseguimos aqui criar um produto híbrido do teatro, cinema e teledramaturgia moderna, muito mais sofisticado que as soap operas tradicionais (as cafonas novelas de qualquer lugar do mundo, inclusive – e principalmente – as norte-americanas), já que em nossas produções operam grandes escritores, diretores, atores, técnicos e produtores, muitos deles vindos do teatro e de outras formas consideradas mais nobres da dramaturgia e do fazer artístico. Basta ver o sucesso e a qualidade dos filmes realizados e produzidos pelo pessoal da TV para que se comprove a excelência desses profissionais.

Volto ao tema por ocasião do final da novela Ti-Ti-Ti, que por motivos óbvios acompanhei de perto, muito perto, e que se configurou num grande sucesso de público, como uma daquelas novelas que deixam marcas e saudades. Não bastasse a qualidade do texto original, de Cassiano Gabus Mendes, a adaptação de Maria Adelaide Amaral foi no mínimo primorosa e muito bem humorada, cheia de private jokes e associações auto-referentes e metalinguísticas.

A direção do Jorge Fernando também se mostrou brilhante ao conseguir equilibrar o escracho total com situações dramáticas mais realistas e complexas. As interpretações então, nem se fale, foi um show atrás do outro, numa demonstração ostensiva (e muitas vezes quase over) da qualidade e versatilidade de nossos atores. Li uma vez uma declaração de Caetano Veloso sobre as novelas serem algo como “a educação sentimental do povo brasileiro” e concordo com ele sobre essa função também didática e cívica e afetiva das telenovelas. O grande ganho de Ti-Ti-Ti para os costumes brasileiros foi a coragem de encarar o homossexualismo com naturalidade, tolerância e muita sensibilidade. Não é pouca coisa.

Por Tony Bellotto




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