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sábado, 19 de março de 2011

Crianças em escola japonesa aguardam em silêncio retorno incerto dos pais


Toshihiko Aisawa

Garoto japonês percorre abrigos em Ishinomaki procurando a família

Ishinomaki, na Província de Miyagi, nordeste do Japão, praticamente não existe mais.

A cidade portuária, em que viviam cerca de 160 mil pessoas, foi varrida pelo tsunami da semana passada, e cerca de 10 mil moradores ainda continuam desaparecidos. Até agora, perto de 2 mil foram confirmados mortos.

Muitos sobreviventes estão alojados na Escola Primária Kama e é lá que estão 30 crianças japonesas, entre 8 e 12 anos, que esperam pacientemente, e em silêncio, os pais irem buscá-las, segundo mostrou uma reportagem da TV japonesa.

Até agora ninguém deu sinal de vida, e poucos na escola acreditam que esses pais aparecerão. Os professores dizem que algumas destas crianças sabem que seus pais estão entre os desaparecidos e que talvez nunca atravessem o portão da escola.

Mas ninguém diz nada. Não riem. Nem choram. Passam o dia lendo livros ou brincando com cartas, isolados no terceiro andar da escola.

O silêncio deles, segundo as pessoas que acompanham a história, é de cortar o coração e contrasta com o barulho que vem de fora, das outras crianças que gritam, correm e se divertem ao redor do refúgio.

Parentes e professores não deixam ninguém chegar perto. Temem que até o ruído da porta se abrindo possa dar falsas esperanças para estes estudantes.

Em busca da família

Outra história de separação que emocionou os japoneses foi do menino Toshihiko Aisawa, de 9 anos, também de Ishinomaki. Ele foi tema de reportagem na TV japonesa e também nos jornais locais.

Toshi, como era chamado pela família, percorre todos os abrigos da região, incansável. Uma placa escrita à mão traz os nomes dos pais, da avó e dos primos, que foram levados pelo tsunami.

“Meu pai veio buscar meus primos e eu na escola logo após o terremoto para que fugíssemos todos juntos”, contou o garoto ao jornal Asahi.

Dentro do carro, eles viram a onda chegar rápido. “Para a esquerda! Para a esquerda!”, gritávamos. “Mas chegamos num estacionamento sem saída e fomos levados pela onda.”

Toshi conta que conseguiu quebrar o vidro e sair do carro. Segurou o primo mais novo. “Mas a água era muito forte e tinha muita madeira. Acabei soltando a mão dele”, disse.

Ele contou ao jornal que ainda ouviu a voz da avó pedindo por socorro. “Mas aos poucos ela foi sumindo e não consegui ouvir mais nada.”

O garoto desmaiou e um homem que se refugiou numa árvore conseguiu salvá-lo. Desde então, Toshi percorre os mesmos abrigos, todos os dias, com a placa na mão. Ele tem esperanças de poder rever alguém da família.

Minuto de silêncio

Às 14 horas e 46 minutos de hoje, o Japão parou. A população fez um minuto de silêncio em memória das vítimas do terremoto e do tsunami que devastaram a costa nordeste do país há exatamente uma semana.

O clima ainda é de muita tristeza, e as equipes que trabalham na busca por corpos começam a suspender, aos poucos, o trabalho e vão se concentrar agora na reconstrução das cidades.

De acordo com a agência de notícias Kyodo News, as equipes de resgate já encontraram 26 mil sobreviventes nas regiões mais afetadas pelo desastre.

Segundo as autoridades japonesas, perto de meio milhão de pessoas estão em refúgios. O frio piora a situação, e médicos temem o aparecimento de doenças.

Nas cidades próximas a Tóquio, os blecautes programados continuam com o objetivo de racionar energia elétrica.







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