Premiê português renuncia após Parlamento rejeitar austeridade

Plantão | Publicada em 23/03/2011 às 21h21m

Reuters/Brasil Online

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Por Daniel Alvarenga e Axel Bugge

LISBOA (Reuters) - O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, renunciou na quarta-feira e disse que haverá consequências graves para o país depois que o Parlamento rejeitou as mais recentes medidas de austeridade propostas por seu governo, que é minoritário na Casa.

A decisão jogou o país na incerteza política após meses lutando contra as crescentes preocupações dos investidores sobre a sua capacidade de domar as finanças públicas e evitar seguir os exemplos de Grécia e Irlanda, que tiveram de pedir ajuda internacional.

"Essa crise política tem consequências muito graves para a confiança que Portugal precisa das instituições e dos mercados financeiros", afirmou Sócrates, que apresentou sua renúncia ao presidente Aníbal Cavaco da Silva.

O presidente disse em comunicado que terá reuniões com todos os partidos políticos na sexta-feira e que o governo manterá plenos poderes ao menos até lá. Isso significa que o governo de Sócrates permanecerá em vigor durante um encontro europeu em Bruxelas, que acontece quinta e sexta-feira.

O Social Democrata, principal partido de oposição do país e antes apoiador do projeto de austeridade, começou a falar sobre uma rápida eleição, acreditando que sua liderança nas pesquisas poderá levá-lo ao poder.

"Estou convencido de que o caminho que seguiremos, o caminho normal da democracia, é o caminho para dar um retorno ao povo português, de modo a escolher um novo governo, mais forte, com mais confiança para vencer a crise", afirmou o líder do Social Democrata, Pedro Passos Coelho. "E é isso que direi ao presidente."

A notícia levou o euro a ampliar as perdas contra o dólar. A moeda europeia operou em baixa ao longo de toda a sessão diante da cautela antes da votação no Parlamento e por notícias sobre um atraso no aumento do fundo de resgate da zona do euro.

As ações portuguesas recuaram, e os yields do bônus do país saltaram.

Todos os partidos de oposição votaram pela rejeição das medidas. O Parlamento possui 230 assentos, dos quais 97 pertencem aos socialistas.

O governo tinha esperança em obter apoio para seus planos de austeridade antes do encontro da União Europeia para reduzir a pressão do mercado sobre a dívida soberana de Portugal.

Os líderes europeus, porém, parecem prestes a decepcionar os investidores por atrasar qualquer aprovação de um fundo de resgate da zona do euro até junho.

As preocupações dos investidores podem aumentar a partir de agora, já que Portugal enfrentará ao menos várias semanas de incertezas políticas. Sócrates disse que permanecerá no poder em caráter interino.

"O país não ficará sem governo. O governo vai continuar a cumprir todos os seus deveres como um governo provisório", afirmou Sócrates.

A Constituição prevê que o país pode realizar eleições antecipadas ao menos 55 dias depois que o presidente convocar um pleito.

Nas duas últimas semanas, muitos protestos contra os planos de austeridade foram realizados, e na quarta-feira ferroviários entraram em greve para exigir melhores salários, provocando caos em Lisboa, uma vez que a população foi obrigada a ir trabalhar de carro.

(Reportagem adicional de Shrikesh Laxmidas, Elisabete Tavares, Andrei Khalip, Filipa Lima e Sérgio Gonçalves)

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