Por causa da delação premiada, Durval Barbosa vive hoje um inferno familiar. Ele está em guerra com a ex-mulher, Fabiani Barbosa, desde que detalhou em diversos depoimentos prestados durante os desdobramentos da Operação Caixa de Pandora como o dinheiro da corrupção custeou a vida privada do casal. As denúncias envolvem inclusive os negócios de Fabiani, dona da Dot Paper, uma papelaria de luxo frequentada pela elite da capital do país, no Centro Comercial Gilberto Salomão.
Além de denunciar o então governador José Roberto Arruda, deputados distritais e empresários, Durval admitiu em depoimentos que usou dinheiro desviado de contratos de informática do GDF para comprar grande parte de seu patrimônio pessoal. Bens teriam sido adquiridos em nome de laranjas, como um terreno na QL 10, do Lago Sul, ao lado da casa onde Fabiani vive hoje. De acordo com Durval, o lote adjacente à casa em que viveu até se separar, em 2009, foi comprado, em 2006, por R$ 2 milhões. A propriedade estava em nome de um testa de ferro.
Hoje a propriedade está bloqueada por determinação judicial, assim como vários imóveis que o Ministério Público acredita ser fruto do esquema de corrupção iniciado quando Durval presidiu a Codeplan. A residência da QL 10 foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) durante a Operação Megabyte, em 2008, assim como a Dot Paper e diversas empresas de informática envolvidas no esquema.
Ao contribuir na Operação Caixa de Pandora e entrar na delação premiada, Durval confirmou aos investigadores a suspeita de que muito dinheiro era canalizado para familiares de Fabiani, que supostamente funcionavam como laranjas do casal. Em um dos depoimentos, Durval contou que a casa da sogra, mãe de Fabiani, foi usada durante a campanha eleitoral de 2006 para esconder dinheiro sujo destinado a candidaturas. Durval disse ter chegado a guardar R$ 12 milhões em dinheiro na casa de parentes de Fabiani. O silêncio e a discrição foram recompensados com R$ 2,5 milhões que teriam sido entregues à família de Fabiani.
Nos depoimentos, Durval contou com detalhes como montou na 208 Sul a primeira loja Dot Paper. Segundo ele, a instalação do negócio só foi possível com uma ajuda de R$ 400 mil repassados pela Sapiens, empresa que prestou serviços de informática ao GDF e depois foi incluída na relação de investigadas na Operação Caixa de Pandora. Durval também relatou aos investigadores parcelas que pagou, com dinheiro desviado, aluguéis para a Dot Paper permanecer no Gilberto Salomão.
Com a guerra instalada entre o casal, há sete semanas Durval não vê os dois filhos que teve com Fabiani, uma garota de cinco anos e um menino de dois anos. A briga virou caso de polícia e está descrita em representações feitas pelo ex-secretário de Relações Institucionais nas delegacias do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), do Lago Sul e de Proteção à Criança e ao Adolescente. Durval fez ainda denúncias ao MP. O caso também está em sigilo numa Vara de Família.
Durval sustenta nas investigações que a ex-mulher inventa histórias de maus-tratos para afastá-lo dos filhos. Para ele, o motivo principal da desavença é financeiro. As confissões nos depoimentos envolvem interesses financeiros de Fabiani. Antes de se casar com Durval, ela não era a empresária de sucesso de hoje. A loja a projetou e Fabiani passou a frequentar colunas e eventos sociais.
O casal foi subindo de vida na medida em que os negócios de Durval no governo cresciam. A pedido de Fabiani, eles teriam se mudado de uma casa no condomínio Estância Jardim Botânico para a QL 10 do Lago Sul. O casamento acabou na mesma época em que Durval começou a prestar os primeiros depoimentos que deflagraram a Caixa de Pandora. Hoje, eles só conversam por meio dos advogados. A empresária, por sua vez, sustenta que o ex-marido maltrata os dois filhos. Por isso, entrou com pedido na Justiça para impedir a visita do pai às crianças. Durval tem reagido ao afastamento dos filhos e diz que está com a consciência tranquila e entregou tudo o que tinha ao Ministério Público. “Posso mostrar aos meus filhos quem eu sou e quem são os verdadeiros ladrões”, disse Durval a pessoas próximas na semana passada.
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