As brincadeiras com os "bixos" não é exclusividade do Brasil. Veja como é em outros países e como os governos lidam com os exageros e abusos
por Fábio Calvetti | 15/02/2011 14h 52
Muitos pensam que só no Brasil o trote é considerado um evento que pode terminar em violência ou abuso. Um engano. Executado há mais de setecentos anos, o trote surgiu na era medieval e permanece espalhado pelo mundo até hoje. Foi apenas a partir do século 20 que o trote passou a receber limites e punições para quem os comete.
- Confira o relato do repórter do GUIA DO ESTUDANTE que se infiltrou no trote na da Unicamp
Por aqui, no verão, com o início do ano letivo, é clássico ver os "bixos" com a cara pintada e os cabelos raspados pedindo dinheiro na rua. Alguns países, como a França, já avançaram muito na legislação e também na educação de seus alunos. Outros, como o Chile, possuem um trote bem similar ao Brasil. Conheça como são as tradições de trote em vários lugares do mundo:
Suécia
O "nollning", o trote sueco, é sempre um sucesso. O motivo é simples: o rito de iniciação dos nórdicos inclui algo raro: nudez. Tudo por causa de um jogo chamado "klädstreck" ou "fila de roupas". Vários times de bichos se enfrentam neste jogo no qual o objetivo é fazer a mais longa fila de roupas pelo chão. É comum novos alunos homens ficarem de cuecas ou completamente pelados enquanto as mulheres terminam apenas de calcinha e sutiã (com algumas exceções de garotas que topam tirar tudo).
Espanha
Chamado de "novatada", o trote na Espanha ocorre apenas em universidades grandes ou tradicionais e raramente é violento. "É ótimo, pelo menos se você tiver a mente um pouco aberta e entrar com a intenção de se divertir", conta o espanhol Carlos Parafita Gonzalez, estudante de Enfermagem que teve de se vestir de mulher no shopping e também passar a noite cantando serenatas. "Os novatos têm que cantar na janela das garotas e fazer striptease para elas", lembra Gonzalez.
- Primeiro trote registrado no Brasil terminou em morte
França
Não pense que os franceses são requintados e de bom gosto também na universidade. Após vários casos de violência e até de mortes, o trote, conhecido como bizutage, foi proibido por lei em 1998. "Antes era muito pesado. Principalmente com os estudantes de medicina. Depois da morte de um aluno ficou proibido", conta o francês Olivier Lutaud. Hoje a punição para quem comete trotes na França é de seis meses de prisão ou o pagamento de uma multa de 7.600 euros. Ou seja, ninguém mais pode amarrar calouros na Torre Eiffel.
Portugal
A universidade de Coimbra, a mais antiga em Portugal, registra casos de trotes no século 16, na era medieval. Trote, não. Na terrinha, o termo correto é "praxe" e corresponde não só à primeira semana, mas ao ano inteiro de aulas. No fim do século 18, havia o canelão, prática em que os veteranos davam caneladas nos calouros ao entrarem na universidade. Os rituais eram tão violentos que até o escritor Eça de Queiroz chegou a assinar um manifesto "anti-praxe". No século 20, governo e alunos uniram-se para diminuir as agressões e humilhações.
Entre as universidades mais tradicionais, existe um código para a praxe que deve ser seguido pelos "bixos" e veteranos. Cheio de bom humor e piadas, o código traz pérolas como essa, da universidade do Algarve: "o calouro só tem um direito, podendo por vezes respirar, quando autorizado".
Canadá
Apesar de ser um país reconhecido pela educação e os baixos índices de criminalidade, os trotes no Canadá são marcados por abuso de álcool e violência contra estudantes. Chamado de "frosh week", muitos estados criaram leis proibindo esse tipo de trote. A universidade de Dalhousie chegou a criar um sistema "tolerância zero": lá é proibido o consumo de bebidas alcoolicas nas repúblicas de estudantes e rondas com policiais da universidade são feitas para evitar o consumo.
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