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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ameaças, agressões e constrangimentos afligem jornalistas brasileiros





Clarinha Glock, URR-Brasil

Nos dois últimos meses, foram registrados incidentes preocupantes na cobertura jornalística em vários pontos do Brasil.

O caso mais recente aconteceu em Minas Gerais. No dia 8 de outubro de 2009, uma equipe de reportagem do jornal O Tempo foi intimidada por agentes de segurança na Assembleia Legislativa daquele Estado.

O jornalista Ezequiel Fagundes e o fotógrafo Charles Silva Duarte estavam no local para fazer uma reportagem sobre o abandono de móveis que estavam estragando no estacionamento do prédio público.

Foram cercados por seis agentes da polícia legislativa, que exigiram o cartão de memória da máquina fotográfica. Fagundes conseguiu sair com o cartão, mas foi cercado dentro de seu veículo. Duarte foi detido, entregou a bolsa com os equipamentos, e só foi liberado depois de ter ligado para o jornal. Em nota à imprensa, a direção da Assembleia Legislativa informou que ia apurar o incidente.

No dia 5 de outubro, o jornalista Wellington Raulino, dono da TV Integração, localizada na cidade de Benedito Leite, no Maranhão, denunciou ter sido agredido por quatro homens.

Segundo contou Raulino, ele estava entrando em uma balsa para atravessar o Rio Paranaíba quando foi surpreendido pelos agressores que tinham pedaços de pau, uma arma e facas. Entre eles, conforme Raulino, estaria o irmão do prefeito de Uruçuí, cidade no Piauí. A agressão seria uma represália às reportagens feita pelo jornalista sobre irregularidades na administração de Uruçuí. “Ele (o prefeito) ficou irritado por uma denúncia que fiz sobre uma empresa fantasma que alugava carros para a prefeitura”, contou Raulino ao site Comunique-se. As matérias foram exibidas no dia 3 de outubro, em frente à Câmara Municipal, já que a TV Integração está fora do ar desde junho devido a um incêndio que destruiu seus equipamentos.

Em 30 de setembro, a repórter Renata Cafardo, do jornal O Estado de S.Paulo, de São Paulo, recebeu um telefonema de uma pessoa que lhe propôs, em um encontro posterior, vender-lhe uma cópia das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A prova seria realizada por 4.1 milhão de estudantes em todo o país no final de semana seguinte. O jornal divulgou o vazamento das questões, o que gerou o cancelamento do ENEM e abriu uma série de investigações. Após a divulgação da matéria, a repórter que fez a denúncia registrou queixa junto ao Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo informando que foi ameaçada por telefone.

Procurada pela SIP, não deu entrevista sobre o assunto. No seu blog (http://blog.estadao.com.br/blog/renata/?title=bastidores_do_vazamento_do_enem&more=1&c=1&tb=1&pb=1http://blog.estadao.com.br/blog/renata/?title=bastidores_do_vazamento_do_enem&more=1&c=1&tb=1&pb=1), ela revelou os bastidores da reportagem.

No dia 29 de setembro, a polícia de Arapongas, no Paraná, prendeu dois jovens suspeitos de terem disparado 10 tiros, na noite anterior, contra o apresentador de televisão Devanil Reginaldo da Silva, conhecido como Cobra. Um dos adolescentes declarou à polícia que viu o carro de Cobra na rua e decidiu atirar porque o apresentador critica bandidos na televisão e no rádio. Silva foi ferido no quadril, por uma das balas, quando estava dentro de seu carro. O veículo é facilmente identificável, porque traz fotos do apresentador nas laterais e o nome do programa que apresenta, Cobra Repórter 190, no pára-brisa traseiro.

Silva havia recém entrado com o carro na garagem de casa quando ouviu uma freada brusca. Pelo retrovisor percebeu que havia pessoas armadas mirando em sua direção. Abaixou-se até que cessasse a chuva de balas.

O programa de Cobra vai ao ar pela CNT TV, das 13h às 14h, há cerca de nove meses, abrangendo 60 cidades do norte do Paraná e sul de São Paulo. Mas ele já era conhecido na região por suas matérias policiais devido a dois programas de rádio mais antigos – um deles na AM Cultura, das 6h às 8h, e outro na Rádio Líder FM, das 11h às 12h. Carismático e católico dedicado ao assistencialismo, Silva está bem fisicamente, entretanto ficou emocionalmente abalado, disse o amigo José Soares Netto. Em entrevista ao site Bonde (www.bonde.com.br), logo após o atentado, informou que não pretende deixar de fazer reportagens policiais.

No dia 28 de setembro, o repórter Rafael Dias, do Diário de Pernambuco, recebeu um soco no rosto quando estava na portaria do jornal, em Recife, Pernambuco. Dias foi levado ao hospital, mas não teve ferimentos graves. Os rapazes que o agrediram se identificaram como filhos do vereador Luiz Vidal, que havia morrido no sábado anterior. Eles haviam pedido ao porteiro que chamasse o repórter. Dias havia escrito um artigo falando do enterro e da causa da morte. Conforme explicou em entrevista ao Diário de Pernambuco Ramos Queiroz, ex-chefe de gabinete do vereador e assessor, os familiares consideraram que o texto escrito por Dias denegria a imagem de Vidal.

No dia 17 de setembro, o jornal O Dia noticiou que dois cinegrafistas – um da TV Bandeirantes e outro da Rede Record – ficaram feridos durante uma troca de tiros entre a polícia e os bandidos no Morro do Juramento, zona norte do Rio de Janeiro. O tiroteio aconteceu durante uma operação da Polícia Militar (PM) na qual pelo menos quatro pessoas morreram.

Segundo a PM informou aos órgãos de comunicação, os estilhaços que atingiram os cinegrafistas teriam sido de um tiro disparado por traficantes. Entretanto, testemunhas disseram aos repórteres da TV Globo que a bala saiu do fuzil de um policial.

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