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domingo, 5 de abril de 2009

Quero ser Tony Ramos



Feliz por ser como e satisfeito com seus ‘pneuzinhos a mais’

Camilla Gabriella



Rio - Ícone da telenovela brasileira, Tony Ramos dispensa apresentação. Aos 60 anos, ele se considera uma pessoa pragmática e aplica a matemática para explicar como leva a vida. “Aritmética é simples: dois mais dois é igual a quatro. É o que exerço na minha vida. Não complico para viver. Na Índia, vi como a matemática interfere no cotidiano deles”, diz o intérprete do indiano Opash em ‘Caminho das Índias’.

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Mesmo com o jeito simples, o veterano desperta o nervosismo em alguns atores novatos. Ele, no entanto, faz questão de ‘quebrar o gelo’ entre os colegas. “O Rodrigo (Lombardi) diz, brincando: ‘Que meda, Tony’. Jamais me coloquei em nenhum pedestal. Não acredito no ser humano que tenha soberba dentro de si. Na minha pessoa você não vai encontrar um exercício chamado vaidade burra, que torce para o insucesso de terceiros”, diz ele, que não se ilude. “Como diria o querido e saudoso Tom Jobim: ‘Sucesso no Brasil é ofensa pessoal’. Fazer sucesso é contingência natural do seu trabalho. Cada um na sua. Não encho o saco de ninguém. Mas também não encham o meu. Sou muito prático. Talvez seja por isso que os companheiros mais jovens vão se acalmando comigo e percebem que estou ali junto com eles errando e acertando”, reflete.

Católico, Tony é muito agradecido a Deus pelos acontecimentos em sua vida. “Não sou um homem do cotidiano da Igreja, até porque muitas vezes me pedem autógrafo dentro da igreja e não acho isso correto. Não é lugar para isso, nem para bater papo. Não é uma reunião social”. Para driblar o assédio, o ator vai em horários alternativos e, mesmo sem frequentar diariamente, não abre mão das orações. “Adoro entrar na igreja em horários incertos. Me dá paz de espírito. Faço minha oração às seis da tarde onde eu estiver. A fé que tenho é para mim”, diz ele, que nunca teve crise de idade. “É uma bênção de Deus estar trabalhando com a idade que tenho com saúde, acha que vou ter tempo para isso? É ruim!”.

Não é para menos. Acostumado com o sucesso na TV, Tony está tendo reconhecimento na telona com o longa ‘Se Eu Fosse Você 2’. O filme de Daniel Filho, assunto nas rodas de conversa, é um fenômeno, acumulando 5,3 milhões de espectadores. Porém, o ator reconhece que teve medo de filmar a sequência do longa. “Toda continuação é perigosa. A gente só entrou nisso porque tinha um grande roteiro”, conta. Logo ele estará novamente nos cinemas, ao lado de Dan Stulbach no filme ‘Tempos de Paz’, texto que já levaram ao teatro. “Já me perguntaram: ‘E se não fizer tanto sucesso?’ Digo que sempre pensei macro, nunca micro. Ficarei feliz do mesmo jeito. Não é blockbuster, mas ninguém vai sair da cadeira”, compara.

O assédio na rua por conta de ‘Se Eu Fosse Você 2’ é grande. Outro dia, parou no posto e o frentista se derramou em elogios à cena em que seu personagem, Claudio, discute os termos do divórcio da mulher (Gloria Pires) diante de um advogado. “Fico muito feliz com isso, eu o fiz sorrir. Não há dinheiro que pague”, conta Tony, já prevendo o sucesso do DVD. “O lançamento vai ser um acontecimento. Sou grato a Deus. É uma permissão maior me deixar a essa altura da minha vida profissional fazer um sucesso tão retumbante. Obviamente com a grande atriz que é a Gloria Pires”.

Tony é o tipo de ator avesso ao trânsito aparentemente esquizofrênico dos que ‘entram’ e ‘saem’ de seus personagens. “Tô fora (risos). Personagem fica na roupa dele, no camarim, não entra nem no meu carro. Comigo é tomar uma água com gás, lavar o rosto e ir para casa. Não vivo personagens. Eu os interpreto, mas não sou eles”, afirma Tony, que faz questão de levar vida normal.

Conhecido pelo bom humor, o ator diz que odeia gente que se acha superior, garante viver bem com seus ‘pneuzinhos’ e assume que acha o glamour da profissão papo-furado. “Sou um homem bem-resolvido comigo mesmo. Com meu corpo, meu jeito de ser. Não quero mexer em nada. Tenho uma vaidade saudável. Só quero manter minha saúde, curtir meus netos e continuar trabalhando, porque não vivo de brisa”.

Não há nada de afetação em Tony Ramos. Mas o que o tira do sério? “Odeio soberba, olhar blasé. Uso muito a palavra que acho mais agressiva no meu vocabulário: mixo. A soberba é mixa. Se às vezes acho que sou de outro mundo, me refugio para respirar um pouco. Outra coisa irritante também é invasor de intimidade. Até para a casa dos meus filhos eu telefono antes de ir porque respeito a privacidade deles. Faço isso com eles e quero que façam comigo”, conta ele, casado há 40 anos com Lidiane, 57. “É um casamento de amor. Nós escrevemos essa história. Não vem escrita com bula”.

Personagem vai sofrer na novela

Nos próximos capítulos de 'Caminho das Índias', Opash, personagem de Tony Ramos, ficará encantado por Chiara (Vera Fischer). Mas não passa de uma simples atração, afinal, o patriarca autoritário nunca tinha visto uma mulher com pernas e o colo à mostra. Eles se conhecem quando Chiara vai com Duda (Tânia Khalill) à loja do indiano exigir que Raj (Rodrigo Lombardi) assuma o filho que Duda espera. Opash não consegue disfarçar a atração que sente por Chiara, que se diverte com o nervosismo dele diante da visão de suas belas pernas.

Contrariado com a história e decidido a salvar o casamento do filho com Maya (Juliana Paes), Opash assume a criança. Isso causará uma grande confusão, já que sua mulher, Indira (Eliane Giardini), fica louca com a suposta traição. Outro mistério ronda a família: Opash, na verdade, é filho de Shankar (Lima Duarte). Por pouco, Laksmi (Laura Cardoso) não revela a verdade a Chanti (Carolina Oliveira) e Maya em uma conversa. Ela se casou com o escolhido por sua família mesmo grávida de dois meses de Shankar.

“ Opash vai receber muita pancada da vida. Na Índia, gravamos cenas que só serão usadas a partir do capítulo 100, de tal forma que Gloria (Perez) está determinada na sua história. Ela tem consciência do que quer”, opina Tony.

‘Tony Ramos, se você fosse...’

...O PRESIDENTE DOS EUA

“Esse homem tem um grande poder no mundo, mas nem tudo ele vai resolver sozinho. Não ficamos aqui com ilusão. É uma democracia. Se eu fosse Barack Obama, baixaria um decreto absoluto, total, de acabar com intervenções e com guerras. Pode ser utópico demais, bobinho demais o que estou falando, mas realmente é cansativo a gente ver guerras.”

...O LULA

“Ai, meu Deus do céu... Tanta coisa para esse país... Mas se eu fosse o Lula por um dia, assinaria um decreto que, a partir daquele dia, as crianças de todo o país, indistintamente, teriam aulas das 7h30 às 16h30, ocupando seu dia com artes, o curso tradicional e esporte, sem sair da escola. Só sairia de banho tomado e um lanche no final da tarde, que era o projeto do grande professor Darcy Ribeiro.”

...UMA MULHER

“Minha filha, nunca tive crise de identidade! Nunca sonhei ser mulher. Mas se fosse, gostaria de ser ministra da Educação, para cumprir aquele decreto que pensei ser do presidente Lula, para fazer acontecer. Queria melhorar o salário dos professores, criar novos empregos na área de educação e colocaria as crianças com atividade completa. Acho que uma nação só se faz pela educação.”

...APRESENTADOR DO JORNAL NACIONAL

“Boa noite. Assinado no Brasil o decreto que coloca as crianças de todos os níveis, qualidades e rendas das 7h30 às 16h30 nas escolas. Elas vão ocupar escolas completas, com piscinas, áreas de esporte, bibliotecas itinerantes...”

...O ATOR OSCARITO

“Meu ídolo. Nunca sonhei ser Oscarito, porque ele é único.”

...O TÉCNICO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

Risos. “Todo mundo é técnico da seleção brasileira. Todo mundo quer ser, tem um palpite a dar. Mas se eu fosse, eu não tirava mais o Hernanes do time, ele é do São Paulo.”

...OSAMA BIN LADEN

“Tentaria um entendimento pela paz e não pelas armas.”

...O PAPA

“Convocaria a Igreja a uma discussão cada vez mais progressista sobre o Evangelho que nos é ensinado e sobre o novo mundo que está do nosso lado.”

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