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terça-feira, 7 de abril de 2009

Bancos no País cobram juro até 10 vezes maior que no exterior


Estudo do Ipea mostra que HSBC, por exemplo, cobrava taxa de 63,42% no Brasil e de 6,60% no Reino Unido

Agência Estado


BRASÍLIA - A taxa de juro real anual cobrada por um banco no Brasil pode ser até 10 vezes maior do que a praticada pela mesma instituição no exterior, de acordo com levantamento Transformações na indústria bancária no Brasil e suas implicações no cenário da crise atual, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para se ter uma ideia, o juro cobrado na primeira semana de abril deste ano pelo HSBC no Brasil era de 63,42%, enquanto o mesmo banco, no Reino Unido, sede da instituição, trabalhava com variação de 6,60%.



No caso do Santander, os porcentuais para o mesmo período eram de 55,74% no caso brasileiro e de 10,81%, no espanhol. O Ipea apresentou ainda a diferença na atuação do Citibank, de 7,28% nos Estados Unidos contra 60,84% no Brasil. Vale destacar que a taxa básica de juros brasileira, a Selic, atualmente está em 11,25% ao ano.

De acordo com o levantamento, para empréstimos à pessoa física, o diferencial chega a ser quase 10 vezes mais elevado no Brasil em relação ao crédito equivalente no exterior. "Para empréstimos à pessoa jurídica, a diferença de custo é menor, mas mesmo assim quatro vezes mais alta para o brasileiro", ressalta o levantamento.

Segundo técnicos do Ipea muitos consideram que os efeitos da crise financeira internacional no Brasil são uma prova da qualidade do sistema bancário brasileiro e de seus mecanismos de regulação. "De fato, quando são comparados os resultados obtidos no Brasil com os países da América do Norte, Europa Ocidental e Japão, no momento atual, essa constatação é de difícil refutação. No entanto, ao considerar dados sobre a disponibilidade de crédito barato e de atendimento da população, o cenário se torna significativamente diferente. O crédito é caro e o atendimento é precário em vastas regiões do Brasil", observam os técnicos.

A avaliação do documento é a de que, quando os efeitos mais graves da crise forem superados, o problema de acesso ao crédito será recolocado e representará, novamente, um obstáculo para atingir um padrão de crescimento econômico mais elevado. "Mesmo que a crise tenha forte componente bancário, o crédito continuará sendo a força motora mais essencial para dar sustentação ao crescimento e gerar a sua transformação num ciclo virtuoso de desenvolvimento", afirmam os técnicos do Ipea.

Enfraquecimento


Além disso, o Ipea associa a crise ao enfraquecimento dos bancos públicos no cenário internacional. O Instituto identifica um processo de "financeirização" do sistema, redução da presença das instituições financeiras públicas e concentração bancária.


"A atual turbulência internacional inscreve-se no contexto geral de fragilidades e crises especulativas geradas pela atuação da indústria bancária no mundo", informam os analistas do Ipea. Eles atribuem a perda de espaço das instituições públicas ao "predomínio da visão sobre a superioridade das forças de mercado e a ineficiência dos bancos públicos".


O Ipea verificou queda na participação dos bancos públicos no total de ativos bancários de todas as regiões do globo, de 1970 a 1990, sobretudo na América Latina (recuo de 37,5%) e no Leste Europeu (44,4%).


De 1987 a 2003, mais de 250 bancos foram privatizados no mundo. No Brasil, de acordo com dados o Banco Central (BC) analisados pelo Ipea, a participação de instituições públicas, como Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF), caiu de 51,6% do mercado, em 1993, para 29,6% em 2006.


As operações de crédito também passaram a ser feitas na maior parte por empresas privadas. Se em 1996, os bancos públicos eram responsáveis pela maior fatia dos empréstimos concedidos no País - 58,1% contra 41,9% dos privados -, em 2006, a situação inverte-se.


As instituições públicas passam a responder por 31,9% da concessão de crédito, enquanto as particulares, por 68,1%. Movimento semelhante ocorreu com os depósitos. O setor privado, que, em 1996, recebia 40,9% dos depósitos, é destino, dez anos depois, de 65,2% dos recursos. Os bancos públicos, porém, encolheram o porcentual de 59,1% para 34,8% no mesmo período.

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