O promotores que investigam os crimes de pedofilia em Catanduva já perderam as esperanças de ver atrás das grades quatro dos oito suspeitos de integrar a suposta rede de crimes sexuais, incluindo a “banda rica”, o médico Wagner Rodrigo Brida Gonçalves e o empresário José Emanuel Volpon Diogo. Tudo por conta das graves falhas cometidas pelas delegadas Rosana Vanni e Maria Cecília de Castro Sanches, da Delegacia de Defesa da Mulher. Maria Cecília indiciou apenas o borracheiro José Barra Nova de Melo, ignorando a informação, dita por uma das 12 crianças ouvidas em depoimento, de que havia pelo menos mais um abusador. Ela também teria deixado de apurar quem eram os outros dois suspeitos que aparecem em uma fotografia anexada no inquérito. Foi preciso a instauração de uma nova investigação, por determinação da Justiça, para que a polícia descobrisse a identidade deles: André Luiz Centurion e Eduardo Augusto Arquino. A CPI disse na quinta-feira que as provas contra eles são frágeis.
Em 20 de fevereiro, Rosana avisou com antecedência o advogado do médico de que iria até a casa dele apreender a CPU (equipamento que armazena dados do computador). Quando ela chegou, o estabilizador e o monitor estavam ligados, mas a CPU já havia sumido. A delegada admitiu à CPI que errou. “Provas contundentes seriam as materiais. E pela demora em tomar providências após as denúncias das mães e pela atitude da doutora Rosana com relação à CPU, a gente sabe que, se tinha alguma coisa (de prova), já foi destruída. Agora, só por azar deles (suspeitos) conseguiremos recuperar alguma coisa”, disse Noemi Corrêa, que cuida das investigações. Outros promotores que trabalham nas investigações também estão pessimistas quanto à condenação do médico e o empresário. “Só se Deus nos ajudar a encontrar provas para comprovar a participação desses suspeitos nos crimes, caso contrário eles vão sair ilesos”, disse um deles. No dia da Operação Fênix, o promotor João Santa Terra havia dito que “o depoimento das crianças eram muitos ricos em detalhes, o que reforçava a suspeição contra os investigados.”
O Tribunal de Justiça chegou a informar que 30 crianças haviam reconhecido fotograficamente os quatro suspeitos. Mas para o senador Romeu Tuma (PTB-SP), relator da CPI, a prova material é que poderia dar forças às denúncias porque “o depoimento é a prostituta das provas.” Em razão do erro, que considera gravíssimo, a comissão vai representar contra a delegada na Corregedoria da Polícia Civil, que tem dois procedimentos abertos para apurar o caso. Noemi tem opinião parecida. “Sou realista. Nós estamos trabalhando, mas isso não significa que, lá na frente, teremos êxito em condenar os culpados. Estamos tentando salvar alguma coisa, (depois) das besteiras que foram feitas.” A promotora afirma perceber que que a defesa vai usar de “todos os subterfúgios legais, éticos e antiéticos, que puderem” para livrar o clientes da acusação Ela também afirmou, sem dar detalhes, que esses advogados querem que ela e a juíza Sueli Juarez Alonso sejam afastadas das investigações. O desânimo também atingiu a CPI da Pedofilia. O presidente da comissão, Magno Malta (PR-ES), afirmou que a atitude das delegadas vai resultar na impunidade dos culpados. Para ele, as delegadas foram condescendentes com os suspeios, já que facilitaram os trabalhos da defesa. “O primeiro inquérito foi mal feito e o segundo pior.”
Perícia
A pá de cal nas esperanças dos promotores veio com a análise do material apreendido na casa do médico. Os filmes e DVDs não incriminam o suspeito. De acordo com informações obtidas com exclusividade pelo Diário, o material recolhido pelos promotores do Gaeco refere-se apenas a jogos de videogame, não tendo qualquer relação com pornografia infantil. A única prova material são fotografias de saquinhos de sorvetes juju com bebida alcoólica no congelador da casa de Gonçalves. Os produtos não foram apreendidos pela delegada Rosana. Para o MP, essa prova pode ser a única que complique a situação do médico. Isso porque as crianças violentadas relatam que ingeriam líquidos e passavam mal. “Pode ser esses ‘jujus’ que elas chupavam”, dise o promotor. Um notebook que foi entregue pelo advogado do médico para a delegada Rosana ainda é periciado no Instituto de Criminalística (IC). O resultado deve ser divulgado nesta semana.
Outro lado
A delegada Rosana não quis se manifestar ontem sobre as acusações da CPI e do Ministério Público. “Não tenho nada a declarar”, afirmou por telefone. Maria Cecília não foi localizada. O advogado José Luís Oliveira Lima nega envolvimento do médico no caso. “Vou conseguir provar a inocência do meu cliente.” Com relação ao sumiço da CPU, o advogado disse que o equipamento havia sido enviado para conserto no dia da blitz policial. Os advogados dos demais suspeitos não foram localizados.
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