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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Punição à mão armada de Deus

João carlos Sampaio



Sessão especial hoje, na Sala Walter da Silveira, traz de volta o filme brasileiro Batismo de Sangue, do cineasta mineiro Helvécio Ratton. A fita se inspira no livro escrito pelo religioso Frei Betto, contando as experiências que ele e seus colegas sofreram nas mãos da ditadura militar por defenderem o direito à liberdade.

A trama dá conta da história verídica de cinco jovens frades dominicanos que se indispuseram com o governo brasileiro dos tempos da ditadura. Inspirados pela ideologia cristã, eles construíram sua própria leitura das palavras sagradas, que interpretava a postura de opressão do regime como uma violência que atingia, inclusive, os princípios religiosos.

Numa atitude corajosa e apaixonada, bem à feição dos gestos comuns à juventude, eles resolveram apoiar a iniciativa da luta armada contra a ditadura.

Acabaram encarando a dureza das perseguições políticas no final dos anos 1960. Ao abrigar, num convento, membros da revolta liderada pelo militante Carlos Marighella, o grupo de frades se tornou cúmplice da ação e pagou caro pela iniciativa.

O próprio Frei Betto é vivido na fita pelo ator Daniel de Oliveira, mas não é a figura central da trama. O foco se desloca para o personagem do Frei Tito, encarnado por Caio Blat. Este frade, que acabou exilado na França, foi o mais atingido pela experiência das torturas sofridas nos porões da ditadura. Ele nunca conseguiu se livrar da lembrança traumática dos carrascos e se suicidou, após vivenciar um processo de enlouquecimento.

O filme conta a trajetória de todos os membros do grupo. Mostra Frei Betto (Oliveira) indo ao Sul do País para ajudar ativistas a atravessar a fronteira. Narra como Frei Fernando (o ator Léo Quintão) e Frei Ivo (o ator Odilon Esteves) foram capturados e mostra todos eles juntos, inclusive Tito, já no cárcere.

O elenco central traz ainda o ator Cássio Gabus Mendes, que vive o Delegado Fleury, e também Ângelo Antonio (de Dois Filhos de Francisco), que interpreta o Frei Oswaldo.

FILMOGRAFIA – Este é o quinto longa-metragem de Helvécio Ratton, que fez grande bilheteria com o infantil O Menino Maluquinho (1995). Ele é autor também de Amor & Cia (1999), comédia farsesca inspirada na obra de Eça de Queiroz. A filmografia do diretor inclui ainda Uma Onda no Ar (2002), ficção engajada na valorização das rádios comunitárias como instrumento democrático.

Apesar da louvável idéia de transpor a incrível história dos dominicanos para a tela grande, Ratton, que é co-autor do roteiro, não consegue transmitir a paixão que o tema desperta e apresenta um filme burocrático, com jeito de relatório. Tudo que emociona nesta fita tem mais a ver com aquilo que ela descreve e não exatamente com a eficiência da encenação.

Batismo de Sangue peca na cadência e se sai mal nas soluções narrativas. A montagem não harmoniza a história de um jeito mais palatável à fruição do espectador. Os méritos da fita são as boas atuações do elenco e a possibilidade de dar mais publicidade a uma das muitas passagens nefastas da recente história do País.

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26/10/2008 free counters

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