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domingo, 13 de julho de 2008

Dantas espionou juízes paulistas, afirma PF


Banqueiro teria contratado coronel do exército de Israel para a missão; um dos alvos seria De Sanctis

Fausto Macedo, Marcelo Godoy e Rodrigo Pereira


O banqueiro Daniel Dantas é acusado pela Polícia Federal de ter contratado um coronel do exército israelense para espionar juízes federais da primeira instância de São Paulo. Entre os alvos estariam o juiz Fausto Martin De Sanctis, o mesmo que decretou por duas vezes a prisão do banqueiro e duas vezes teve a decisão derrubada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O juiz foi alertado pelos policiais que preparavam a Operação Satiagraha. O grupo teria também monitorado os passos do delegado Protógenes Queiroz, que comanda as investigações.

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O advogado Nélio Machado, que defende Dantas, negou a iniciativa e disse que a acusação é fruto da cabeça dos desafetos do banqueiro. O que sustenta a suspeita dos delegados federais é uma conversa telefônica entre um funcionário do Grupo Opportunity e a diretora jurídica do grupo, Danielle Silbergleid Ninnio. O diálogo ocorreu em 25 de maio, às 10h59, um mês depois de Dantas tomar conhecimento de que a PF preparava uma operação.

O funcionário pergunta qual o nome: ''É Abner da Kroll?'' Danielle responde que não, que é ''Avner''. Os agentes dizem que se trata do coronel da reserva do exército de Israel Avner Shemeh. Ex-funcionário da Kroll do Brasil, o militar foi acusado de espionar desafetos de Dantas e integrantes do governo Lula a mando do banqueiro, conforme apurado na Operação Chacal, em 2004. Ele está sendo processado na 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

A outra prova usada pelos federais é um e-mail em que duas funcionárias do Opportunity, no Rio, trocaram no dia 6 de junho sobre uma reunião com Shemeh. A contratação do coronel faria parte do esforço do banqueiro e dos outros supostos integrantes da quadrilha de tentar neutralizar o procedimento sigiloso que apurava as atividades do Banco Opportunity.

Segundo o delegado Protógenes, o grupo teria usado advogados com ''estreita amizade com magistrados federais para angariar informações privilegiadas''. Por causa do ''insucesso dessa articulação'', a PF passou a suspeitar que o banqueiro tenha procurado Shemeh para executar a tarefa de descobrir o que havia contra ele na Justiça Federal.

''Shemeh é contatado para implementar espionagem (que é sua especialidade) e investigação ilegal contra magistrados federais da cidade de São Paulo'', diz relatório da inteligência da PF. Isso ocorreu na mesma época em que o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) entrou em contato com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, em busca de informações sigilosas sobre o caso, em 29 de maio. Carvalho se comprometeu a passar os dados mantidos pela PF.

Ao saber da informação de que era um alvo do banqueiro, o juiz De Sanctis requisitou à PF que fizesse uma varredura em seu gabinete em busca de possíveis grampos ou escutas ambientais. Mas, segundo apurou o Estado, até anteontem a diligência não havia sido executada. De Sanctis diz aos colegas de tribunal que, apesar disso, não se preocupa e costuma concluir suas conversas dizendo: ''Confio em Deus.''

Outro magistrado que poderia estar na mira dos espiões é Silvia Maria Rocha, titular da 2ª Vara Federal, também especializada no combate às organizações criminosas que praticam delitos financeiros, como lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Até então, o grupo de Dantas não sabia em que Vara Criminal estava o processo contra o banqueiro, como revela um diálogo de 7 de maio. Às 15h30, o publicitário Guilherme Sodré, apontado como um dos lobistas de Dantas, conversa com o executivo Humberto Braz, responsável, segundo a PF, pelas ações de espionagem do Opportunity. Sodré conta que a apuração ''provavelmente está na sexta gaveta (6ª Vara Criminal, a de De Sanctis)''. Três horas depois, os dois voltam a se falar. Desta vez, Sodré dá um conselho a Braz: ''Então é ter todos os cuidados necessários... não expor o paciente (Dantas)... não andar com muito papel (documentos)...''

Além dos juízes, agentes da PF produziram três relatórios nos quais acusam a suposta quadrilha liderada por Dantas de ter monitorado o delegado Protógenes.

De acordo com relatório assinado pela delegada Karina Murakami Souza, da PF, os homens de Dantas passaram a seguir Protógenes, ''especialmente em seus deslocamentos territoriais''. A prova de que a suposta quadrilha estaria vigiando os passos da autoridade federal são áudios de conversas dos acusados e e-mails que os investigados trocaram nos dias que antecederam a operação.

''Tudo isso mostra a que nível chegou a organização criminosa na proteção de seus interesses espúrios e que somente uma ação efetiva da polícia, do Ministério Público e do Judiciário poderá pôr fim às ilegalidades praticadas'', concluiu a delegada.

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