Feira do Cânhamo abriu esta sexta-feira no Mercado Ferreira Borges
«Mais profissional do que a marcha», a ideia da feira surgiu a Carla Fernandes no verão do ano passado quando conversava com uma amiga espanhola. As duas visitaram várias feiras pela Europa, em países como a Espanha, a Holanda e a Suíça, onde convidaram a grande parte dos expositores presentes no Mercado Ferreira Borges.
A responsável pela feira explicou ao PortugalDiário que o uso do cânhamo como matéria-prima remonta ao tempo dos Descobrimentos. A planta era usada no fabrico das velas dos navios portugueses, já que se trata de «uma matéria-prima muito resistente».
Portugal não explora as propriedades da planta do cânhamo
É com base neste uso secular que Carla Fernandes defende que o cânhamo poderia dinamizar a indústria têxtil em Portugal, já que «temos um bom solo para cultivar a cannabis». Além disso, «o cânhamo é excelente para revitalizar solos» acrescentou a responsável, referindo-se aos hectares de terreno devastados por incêndios.
Também usado como matéria-prima na produção de cosméticos, o cânhamo é, para Carla Fernandes, «o novo aloé vera». Apesar de em Portugal não haver nenhuma empresa dedicada a este mercado, já existem várias marcas de cosméticos à base de cannabis na Europa.
Apesar de haver já diversos produtos à base de cânhamo disponíveis no nosso país, «tudo o que é comercializado é importado» porque o «o mercado português não explora muito as capacidades desta planta» referiu Carla Fernandes em conversa com o PortugalDiário.
Para além dos stands, a feira organizou ainda várias conferências. Esta sexta-feira são discutidas as propriedades terapêuticas do cânhamo, e no sábado o tema da proibição da cannabis.
«Um conceito mais antigo do que o álcool»
O PortugalDiário falou com o conferencista inglês Andy Cornwell, da organização Cannabis Education Thrust que sublinhou a grande hipocrisia e ignorância que ainda existe, como o grande entrave para o uso da cannabis no campo terapêutico. «Enquanto os governos não resolverem o problema do fornecimento não conseguem resolver o problema das drogas», que continua a ser dominado pelo mercado negro.
Andy Cornwell, que também é advogado, disse que as provas do uso medicinal da cannabis remontam até centenas de anos atrás, já que a planta costumava ser legal. «O que se pede é uma re-legalização», uma vez que estamos a falar de «um conceito mais antigo que o álcool», afirmou.
Segundo o especialista, o cânhamo é eficaz no tratamento da esclerose múltipla, das dores de cabeça, das dores menstruais, dos espasmos musculares e até de problemas do foro psiquiátrico. No entanto, Cornwell sublinha que deve ser «o tipo certo de cannabis usado com o método certo». «A imagem estereotipada é fumar um charro, mas nós tentamos educar as pessoas para um uso informado», disse o advogado, que referindo-se ao uso dos vaporizadores, de cremes e pomadas e até da incorporação da cannabis na alimentação.
No dia da abertura da feira, Carla Fernandes não tinha ainda uma estimativa do número de visitantes que poderia receber, mas espera uma grande afluência para o fim-de-semana. A possibilidade de fazer uma edição da feira em Lisboa ainda este ano «depende do impacto», a responsável considera que «como o mercado ainda é muito pequeno talvez não se justifique». Sphere: Related Content
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