Guido Mantega ri nas horas graves, faz gracinha com assuntos delicados, dá declarações políticas em debates técnicos. É o primeiro homem-forte fraco a comandar (sic) a economia brasileira.
Ao chamar os jornalistas de ignorantes, e por tabela a opinião pública, ao criar a metáfora jocosa do cofrinho, o ministro café-com-leite revelou que, definitivamente, não sabe o que fala.
Mantega estava falando da criação do Fundo Soberano do Brasil, FSB, mais uma sigla inócua no abecedário de abstrações do governo federal. Parecia estar colocando em pé um Ovo de Colombo (OC), ao anunciar que “o superávit primário excedente” será depositado nessa nova poupança.
Mantega, Mercadante e companhia têm idéias incríveis sobre o que fazer com o superávit primário – esse instituto que um dia todos eles chamaram de chantagem neoliberal.
Uma dessas jóias é o tal superávit primário anticíclico (SPA), que consiste basicamente em reduzir o percentual economizado quando o país está crescendo menos. Como o superávit serve para abater a dívida, equivale a dizer: eu te pago se eu tiver dinheiro.
Agora o ministro café-com-leite inventou o superávit primário excedente (SPE), por si só um aborto da natureza, já que o superávit primário não excede nada. Ao contrário, é excedido pelo déficit nominal, o qual abate gradualmente. No momento em que o superávit primário criar um excedente, deixará de ser primário.
O governo cansou de apurar resultados acima da meta de superávit primário, e nunca achou que esse dinheiro era “uma sobra” – como agora diz Mantega –, pelo simples fato de que há uma dívida de 1 trilhão de reais para pagar.
O lançamento desse fundo soberano, no tom solene e arrogante do ministro da Fazenda, poderia ser substituído por um aviso de um funcionário de segundo escalão: “o governo vai comprar uns dólares no mercado”. É só isso.
Trata-se, evidentemente, de mais uma pantomima contábil da burocracia governamental, aquela que empurra previsão de investimento da Petrobras para dentro do ilusionismo do PAC, que cria um fundo de infra-estrutura com dinheiro imaginário da iniciativa privada, que usa previsão antiga de investimento do BNDES para anunciar a “nova política industrial”. Ou seja, é mais um fundo sem fundo (FSF) para a literatura econômica nacional.
E como o cofrinho do ministro não tem fundo, o dinheiro nunca acaba – vai se multiplicando a cada nova sigla.
PS: Vem aí o Banco do Sul, proposto por Hugo Chávez e avalizado por Lula. De fato, um país rico precisa buscar um lugar seguro para aplicar seu superávit excedente. Até porque jogar dinheiro fora é pecado.
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