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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Galos de briga têm status de atleta na sede do Pan

O aviso na entrada impede o porte de armas de fogo e objetos cortantes. Do lado de dentro, em meio a um policiamento ostensivo, apostadores da briga de galo, alguns de chapéu e botina, se misturam com jovens de salto alto, interessadas em acompanhar o show da cantora Jenni Rivera. Na arena das 'Fiestas de Octubre' de Guadalajara, sede dos Jogos Pan-americanos, os galos de briga, proibidos no Brasil, têm status de atleta.
A rinha é uma tradição no México e costuma integrar o programa das festas populares. Aos finais de semana, a mesma arena que recebe as brigas de galo das 20 horas à meia noite se transforma rapidamente em palco para apresentações musicais em Guadalajara. Antes da exibição dos cantores, no entanto, o palco é dominado pelas aves de combate.
Os galos começam a ser treinados para a rinha com aproximadamente dois anos de idade. Para fortalecimento físico, são obrigados a voar e correr. Em seguida, com as esporas protegidas, começam os enfrentamentos entre si. Cerca de um mês de preparação é suficiente para deixar a ave pronta para o primeiro combate real, que também pode ser o último.
O espaço das Fiestas de Octubre de Guadalajara oferece comidas típicas e jogos infantis, mas o 'Torneo de Gallos' é uma das principais atrações. Diariamente, dois criadores diferentes disputam uma série de melhor de nove confrontos. Para distinguir cada 'equipe' e facilitar as apostas, uma ave leva uma fita vermelha amarrada à pata e a outra, uma verde.
Os galos de briga são levados à arena pelos chamados 'soltadores'. Responsáveis por liberar as aves para o combate, eles entram com os animais no colo, como se fossem bebês de bochechas rosadas e fraldas limpas. Enquanto senhores engravatados recolhem as apostas, em uma cena que lembra os antigos pregões da bolsa de valores, os galos são equipados com uma navalha de uma polegada na espora esquerda.
Com a proximidade da luta, os soltadores começam a atiçar as aves, que são pesadas antes de cada duelo, como os lutadores de boxe, por exemplo. Além dos animais que disputarão o combate, um terceiro galo é levado à arena com a única finalidade de enervar os outros dois. Segurados pelos rabos, eles são aproximados e tentam se engalfinhar.
Antes do começo do combate, os dois soltadores ficam frente à frente, segurando seus respectivos galos na altura do peito, dão alguns passos para trás e os liberam. Imediatamente, os animais partem para o duelo. As regras variam de acordo com o tipo de luta e a arma utilizada, mas, basicamente, vence a ave que sobreviver ou que fizer o adversário fugir. Se o galo tocar o solo com o bico, também perde.Além dos dois soltadores, a única pessoa no palco é o 'juiz de arena' que, assim como no boxe, abre contagem em determinadas situações. Quando os galos ficam no chão e param de lutar, o árbitro autoriza os soltadores a reposicioná-los. Eles examinam os ferimentos dos animais e, para tentar reanimá-los, assopram seus bicos e dão estirões nos pescoços. Os combates acompanhados pela GE.net duraram poucos minutos.
No intervalo entre cada luta, um dos engravatados assume o microfone e comanda um bingo com o público até o próximo combate ser iniciado, enquanto seus colegas circulam pelas arquibancadas em busca de apostas. O dinheiro passa de mão em mão vigiado por policiais e por uma equipe de segurança particular. Um dos membros da segurança, inclusive, tentou impedir as fotos da reportagem.
D. MENDONÇA PRESO POR RINHA
Em outubro de 2004, o publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha política de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República dois anos antes, foi preso em flagrante no Rio de Janeiro durante uma rinha de galos.
A operação, organizada pela Polícia Federal, buscava reprimir as rinhas em um clube em Jacarepaguá. Além do publicitário, mais 200 pessoas estavam no local, onde havia três arenas para as rinhas e viveiros. Nesta ação, a polícia recolheu cerca de 100 animais, alguns deles machucados.
Após passar uma noite na delegacia, o publicitário pagou a fiança de R$ 1 mil para deixar a prisão. À época, Duda defendeu-se afirmando que este era seu passatempo. 'O Brasil inteiro sabe que esse é meu hobby. Não estou fazendo nada de errado e ponto final', justificou.
Apesar da tradição, a briga de galo vem sendo questionada em alguns estados mexicanos. Unidos na Seção Nacional dos Criadores de Aves de Combate (SNCAC), fundada no ano de 1973, e na Comissão Mexicana de Promoção Galística (CMPG), os adeptos da atividade fazem esforços para evitar que ela seja vetada por leis de proteção aos animais.
No estado de Querétaro, a briga de galos corre risco. No último dia 17 de outubro, Gilberto Figueroa Velazquez, representante da CMPG, e Efrain Rabago Echegoyen, presidente da SNCAC, chegaram a se reunir com os deputados Marcos Aguilar e Marco Antonio Aguilera, que integram a comissão responsável por elaborar a Lei de Proteção aos Animais da região.
Em Guadalajara, apenas o galeiro Lupillio Rios, 33 anos, aceitou conceder entrevista. Com poucas palavras, ele tratou de defender a atividade, apesar de as aves sobreviverem, no máximo, a cerca de oito combates. 'Nas brigas de galo, você ganha ou perde como em tudo na vida. Quem tem dinheiro, aposta. Quem não tem, não aposta. Cada um tem seus gostos. É uma tradição no México e ninguém vai conseguir mudar isso', disse, enquanto limpava com um lenço a calça jeans suja de sangue dos animais.







O marketing e a corrupção

Camila Pereira

Montagens sobre fotos de Paulo Vitale


Pagamento e "recompensa"
Como é acertada a diferença entre os valores
dos pagamentos declarados aos marqueteiros
de campanha e os efetivamente cobrados

x - 3x = y
(x) Quantia que políticos declaram pagar a seus marqueteiros
(3x) Quantia que especialistas afirmam ser o valor real pago em campanhas
(y) Diferença entre o valor declarado e o real

COMO Y É PAGO?
1 ­ Ao longo da campanha, via caixa dois
2 ­ Depois das eleições, por meio de contas entregues ao publicitário pelo governo que ele ajudou a eleger
3 ­ Por meio do desvio de dinheiro público, em licitações fraudulentas
4 ­ No caso do PT, desconfia-se, com dinheiro vindo do exterior, de origem desconhecida
Exemplo: na campanha presidencial de 2002, Lula declarou ter pago a Duda Mendonça 7 milhões de reais. Em depoimento à CPI, Duda admitiu que, na verdade, cobrou 25 milhões por seu trabalho. Especialistas afirmam que, de fato, as campanhas custam de três a quatro vezes mais do que o valor declarado oficialmente aos tribunais eleitorais. Nesse caso, a equação ficaria assim:
7 milhões (x) ­ 25 milhões (3,5x) = ­18 milhões (y)
 
FORMA DE PAGAMENTO
1 ­ Caixa dois: Duda Mendonça declarou à CPI dos Correios ter recebido 10 milhões de reais de Marcos Valério, via caixa dois
2 ­ Com isso, restariam 8 milhões a ser pagos. Investigações mostram que esse dinheiro pode ter sido incluído nos contratos que a agência de Duda mantém no governo Lula. Desde 2003, o marqueteiro faturou 229 milhões de reais. Como a comissão desses contratos gira em torno de 20%, o publicitário ficou com 46 milhões. A conta da campanha foi paga, com lucro para o marqueteiro


NESTA REPORTAGEM
Quadro: Como o marketing transforma o candidato
Quadro: Os dez mandamentos do marketing de espetáculo
Quadro: O que pode mudar com a minirreforma eleitoral

NESTA EDIÇÃO
Quase parando
O cerco dos lobistas a Palocci
Nos últimos quinze anos, os custos das campanhas eleitorais brasileiras aumentaram em proporção extraordinária. Hoje, elas não só figuram entre as mais caras do mundo, como ultrapassam em muito os gastos com eleições na mais portentosa democracia e economia do planeta, a americana. As raízes desse fenômeno repousam na fragilidade dos partidos e nas características do sistema eleitoral. Aos primeiros, falta conteúdo programático. Quanto ao sistema eleitoral, ele joga em terceiro plano o debate de propostas. As falhas e distorções de ambos estimulam a exploração da imagem individual dos candidatos, jogando inclusive políticos de uma mesma agremiação uns contra os outros. Abre-se, então, o caminho para a hipervalorização da propaganda, orquestrada por marqueteiros pagos a preço de ouro. Não raro, trata-se de uma propaganda peculiaríssima, a que se faz nas campanhas – baseada exatamente no oposto do que receitam os melhores manuais de publicidade. Se são escassos os atributos pessoais do candidato (o produto), inventam-se qualidades para ele. Se seu capital de idéias é muito limitado, cria-se um modo de ampliá-lo de tal forma que a tacanhez se torne grandiosidade. Foi assim que o marketing emprestou um coração a Maluf. Foi assim que o marketing emprestou um intelecto e um plano de governo a Lula – duas qualidades fictícias que, somadas à realidade da Carta ao Povo Brasileiro, na qual o petista deu uma guinada ideológica em direção à racionalidade, lhe garantiram a vitória nas urnas.
As razões da explosão dos custos eleitorais estão claras há algum tempo para os cientistas políticos, mas suas conseqüências só recentemente começaram a ficar evidentes. A principal delas: por causa de seus gastos exacerbados, as campanhas brasileiras se transformaram numa poderosa mola propulsora da corrupção no país. O ciclo de degeneração tem início no momento em que são feitas as doações aos candidatos. Nos Estados Unidos, a maior parte das contribuições vem de indivíduos, e não de empresas. No Brasil, é o contrário. Em 1998, cada candidato a deputado federal teve, em média, apenas doze doadores individuais – na maior parte deles, seus parentes. O resto do dinheiro veio de pessoas jurídicas. Como grande parte das empresas impõe o anonimato como condição para as doações (seja para escapar do imposto de renda, seja para proteger-se de acusações sobre possíveis privilégios no futuro governo), o resultado, para os partidos, é a formação de um vultoso caixa dois. É consenso entre especialistas que os valores declarados pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) representam não mais do que um terço daquilo que de fato é torrado nas campanhas. Os outros dois terços permanecem sob o manto da ilegalidade – ou, para usar um eufemismo delubiano, entram no cofre dos partidos como "recursos não contabilizados". Ora, sendo o dinheiro "não contabilizado", o que significa "invisível" aos olhos da lei, seus controladores se sentem naturalmente mais à vontade para usá-lo da forma que bem entenderem.

Joedson Alves/AE
O REI DO ESPETÁCULO
Duda Mendonça em gravação de filme para campanha de Lula: sorrisos, superproduções e personal stylist

"A compra de outros partidos, para a formação de alianças, é um exemplo disso", afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor político Gaudêncio Torquato. Mais: como lembra o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Minnesota (EUA), David Samuels, estudioso das campanhas brasileiras, os recursos em dinheiro que entram como caixa dois nos partidos fatalmente têm de sair do caixa dois dos doadores. "E o dinheiro proveniente de caixa dois dificilmente é um dinheiro limpo", diz Samuels. Ou seja, para consegui-lo, as empresas doadoras valem-se freqüentemente de meios ilegais, ainda que, na mais pueril das hipóteses, essas ilegalidades se limitem à sonegação de impostos. Portanto, à diferença do que sugeriu Lula em entrevista recente, ao fazer uso de caixa dois na última campanha presidencial, o PT não está simplesmente "fazendo o que todos os partidos fazem". Está também contribuindo para a perpetuação da falcatrua em escala industrial.
Há outra forte razão para que a exacerbação dos gastos de campanha seja um fator determinante para o aumento da corrupção no país. Em depoimento à CPI do Mensalão, o empresário Marcos Valério declarou que "todas as empresas de publicidade do Brasil que atendem aos governos se relacionam com eles politicamente". Em sua própria tradução: "Quem fez a campanha do presidente no passado atendeu às melhores contas do governo no passado", disse. Valério pode não ter autoridade moral para acusar ninguém, mas já provou ser um especialista em assuntos do submundo eleitoral – e o que ele diz, nesse caso, afirmam especialistas, é a mais pura expressão da verdade. "A celebração dos chamados contratos de risco é uma prática cada vez mais comum entre marqueteiros e candidatos", afirma o cientista político Rubens Figueiredo. Esses contratos (verbais, é claro) funcionam da seguinte forma: como o candidato não tem dinheiro suficiente para bancar a campanha milionária bolada pelo marqueteiro, este cobra apenas uma parte do custo durante a realização do trabalho. O restante dos gastos, bem como o lucro do publicitário, é pago depois, em caso de vitória do candidato – quando, então, o profissional é agraciado com gordas contas de publicidade no governo. Ou seja, a propaganda do candidato vencedor é paga com dinheiro público. O risco desses contratos, evidentemente, está em perder a eleição, quando o político não dispõe de verbas governamentais para remunerar o marqueteiro.

Egberto Nogueira
O NÚMERO 2
Marqueteiro de FHC, Nizan Guanaes já usou até slogan de cerveja para vender candidato
Nos Estados Unidos, o fato de existirem dois partidos fortes, o Democrata e o Republicano, com posições e propostas claras a respeito dos assuntos que interessam aos americanos – como o controle de armas, o aborto e a aplicação do orçamento –, faz com que o debate de idéias prevaleça sobre a exploração da imagem individual do candidato. No Brasil, na ausência de siglas com força equivalente, resta aos aspirantes a cargos públicos promover a si mesmos. "Em um país onde as siglas são fracas, o voto passa a ser muito mais personalista do que partidário", afirma Torquato. Essa situação – somada à existência de um horário eleitoral gratuito que dura 45 dias e prevê inserções de até vinte minutos para alguns candidatos – produziu um fenômeno que, no Brasil, surgiu no governo Collor e atingiu o paroxismo na era Lula: o marketing do espetáculo, aquele em que 30% do orçamento de campanha é consumido na produção de filmes de propaganda para TV, o personal stylist ocupa lugar de honra na equipe, os discursos do candidato flutuam ao sabor das pesquisas de opinião e o político é anunciado como se fosse uma marca de cerveja. Um exemplo literal da situação foi protagonizado na campanha presidencial de 2002 pelo publicitário Nizan Guanaes, bruxo das campanhas que elegeram Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998. Ao assessorar a então pré-candidata Roseana Sarney (PFL), Nizan pegou carona em uma famosa propaganda de cerveja e "vendeu" Roseana como a candidata "número 1".
Os políticos sempre tiveram seus truques para edulcorar a própria imagem junto ao eleitorado. Getúlio Vargas se apresentava como o "pai dos pobres". Jânio Quadros "almoçava" bananas no palanque. A diferença é que o marketing moderno – terceirizado, profissionalizado e elevado aos limites da ficção – não só passou a forjar nos candidatos qualidades que eles, mais tarde, provarão não ter (veja quadro) como extrapolou as fronteiras das campanhas para invadir o território do governo. Durante boa parte de seu curto mandato, o ex-presidente Fernando Collor acreditou que se sustentaria à base de vôos em aviões de caça e outras pirotecnias de igual calibre. Lula foi além ao basear programas de governo em campanhas publicitárias desprovidas de recheio – o Fome Zero é o seu exemplo mais famoso. "Primeiro, o governo achou um slogan, para só depois pensar de que modo poderia colocar o projeto em prática", afirma o professor Torquato. Como não conseguiu, o resultado é que, pirandellianamente, o Fome Zero se tornou um símbolo à procura de uma realização.

Joedson Alves/AE
ISSO TAMBÉM É PUBLICIDADE
Marcos Valério: "Quem fez a campanha do presidente no passado atendeu às melhores contas do governo"
O uso do marketing do espetáculo não é uma prerrogativa nacional. Especialistas situam seu nascimento na campanha que elegeu o presidente americano John Kennedy, em 1960. Mais precisamente no debate em que o futuro presidente – aprumado, bem assessorado e maquiado – massacrou seu adversário, o carrancudo, suado e malbarbeado Richard Nixon (veja o quadro abaixo). Outro exemplo americano de uso do condão publicitário, dessa vez nem tão bem-sucedido assim, se deu em 1968, na campanha do também candidato à Presidência George Wallace. Àquele tempo, opositores insinuavam que Wallace não se notabilizava por seus dotes intelectuais. Diante disso, seus assessores tiveram a estapafúrdia idéia de sugerir-lhe que, num comício televisionado, usasse um par de óculos de grau, a fim de "sofisticar" sua imagem. Wallace acatou a sugestão pela metade: afastado do público por um vidro de proteção, resolveu usar apenas a armação dos óculos, dispensando suas lentes. Foi desmascarado quando, ao sentir um cisco perturbando a visão, levou instintivamente o dedo ao olho – por cima das lentes inexistentes. O vexame foi parar nos jornais e, obviamente, não contribuiu em nada para a imagem do candidato, derrotado por Nixon.
A crise política que o governo enfrenta hoje tem como um dos panos de fundo a campanha eleitoral que o alçou ao poder. É preciso lembrar, no entanto, que, mesmo com sua dinâmica viciada, suas distorções e seus exageros, as campanhas não são "a causa" da crise, como pretendem alguns petistas. O modo como se elegem hoje os candidatos, afinal de contas, por equivocado que possa ser, não tem nenhuma relação com o projeto do PT de colonizar o aparelho do Estado, tentar censurar a imprensa, amordaçar o Judiciário e cooptar parlamentares à base de métodos heterodoxos, como o mensalão – essas, sim, as causas da crise. Ao atrair os holofotes para o tema das campanhas, ela fez com que parlamentares improvisassem uma reforma eleitoral que, se votada e aprovada pela Câmara até o dia 30 de setembro, entrará em vigor já nas eleições de 2006. Ainda que inclua mudanças importantes, sobretudo por forçar o barateamento do custo das eleições (veja quadro), a reforma está longe de resolver o problema fundamental que as campanhas encobrem: o uso recorrente do caixa dois pelos partidos. O financiamento público de campanha costuma ser apontado como a melhor panacéia para esse mal. No Brasil, ele já vigora parcialmente por meio do horário eleitoral gratuito e do Fundo Partidário – dinheiro proveniente das multas aplicadas pela Justiça Eleitoral que é distribuído aos partidos para sua manutenção e uso nas campanhas. O financiamento público também já existe em outro sentido, por meio do assalto ao Estado. Por baixo do lençol, muitos políticos eleitos tratam de tirar do poder público parte do dinheiro que gastaram na campanha. Financiam-se com o dinheiro do contribuinte. A implantação integral do financiamento público, afirma Samuels, não eliminaria a existência do caixa dois – pelo contrário: "Nos moldes do sistema eleitoral brasileiro, ele poderia encorajar a corrupção". Isso porque, segundo o especialista, os altos custos das campanhas continuariam a exigir recursos extras e, diante da inexistência de um "caixa um", as empresas que hoje fazem ao menos parte das doações de maneira legal acabariam por fazê-las de forma totalmente ilegal, ou seja, por meio de caixa dois. Foi exatamente o que aconteceu no México. Em 1996, para acabar com as doações ilegais de campanha e quebrar a hegemonia do corrupto Partido Revolucionário Institucional (PRI) – encastelado no poder havia sete décadas –, o país adotou o financiamento público de campanha. O governo passou a bancar 80% do custo das eleições e permitir aos partidos o recebimento apenas de contribuições individuais – as empresas foram proibidas de doar. Quatro anos depois, o PRI foi derrotado e Vicente Fox, do Partido da Ação Nacional (PAN ), ganhou as eleições – para logo em seguida se ver no epicentro de um escândalo eleitoral. A oposição o acusou de ter recebido, ilegalmente, 15 milhões de dólares de empresas. Ou seja, proibidas de fazer doações pelo caixa um, as empresas fizeram o óbvio: recorreram ao caixa dois.
O fim do uso do caixa dois nas campanhas – e da corrupção que ele gera – demanda mais do que uma reforma tributária improvisada. Ele só seria possível se o caixa dois fosse eliminado também da vida das empresas. Para tanto, é preciso levar adiante uma reforma tributária que diminua o peso dos impostos na economia do país e desestimule a sonegação. Seria necessário, ainda, que os mecanismos de fiscalização e punição de quem recorre a esse expediente fossem mais rígidos. Mais: é impossível baratear realmente o custo das campanhas sem uma redefinição do sistema de representação proporcional dos partidos. Como funciona hoje, além de possibilitar que candidatos inexpressivos peguem "carona" em um campeão de votos da mesma legenda, o sistema atua como mais um encarecedor de campanhas. Ao obrigar os postulantes a cargos no Legislativo a competir com seus próprios colegas de sigla – mais os adversários de outros partidos –, ele faz com que os candidatos, novamente, apostem na diferenciação do perfil individual em detrimento de uma plataforma partidária – para alegria dos marqueteiros e seus bolsos sôfregos. Não se trata aqui de demonizar a propaganda. Ela tem por função, repita-se, realçar as qualidades e propostas do candidato (o produto) – além de legítimo, isso é fundamental para ajudar o eleitor a definir o seu voto. O que ocorre hoje, também se repita, é que, no lugar de ressaltar atributos, o marketing à moda de publicitários como Duda Mendonça se presta tão-somente a escamotear os defeitos do candidato e forjar-lhe qualidades. E cobra caro por isso. Resultado: além de azeitar a máquina da corrupção, ele acaba produzindo "políticos sabão em pó", que se liquefazem em espuma ao primeiro jato de realidade. O pior é que, na maioria das vezes, tais produtos não podem ser devolvidos à prateleira antes do tempo. É preciso esperar pelas próximas eleições. Mas tudo bem: com todos os problemas, "a democracia é um sistema que, se não garante a escolha dos melhores, impede que os piores se perpetuem no poder". A frase é do filósofo de língua inglesa Karl Popper.

Fotos Neco Varella/Ag. O Globo e Dave Weaver/AP



A primeira vitória do marketing
AP
CONFRONTO HISTÓRICO
Kennedy (à dir.) versus Nixon: na televisão, o democrata explorou até o suor do rival
O avanço do marketing sobre o terreno da política tem um marco zero: 26 de setembro de 1960. Nesse dia, pela primeira vez na história americana, dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos – o democrata John F. Kennedy e o republicano Richard Nixon – participaram de um debate transmitido pela televisão. O resultado do confronto, e as inúmeras teorias criadas para explicar o sucesso de um e o fracasso do outro aos olhos dos telespectadores, é um tratado da lógica marqueteira. As imagens de um Kennedy jovial, bronzeado e sorridente em contraste com um Nixon suado, mal barbeado e abatido são consideradas até hoje o melhor exemplo de como uma boa estratégia de marketing pode determinar o destino de uma candidatura.
Enquanto a equipe de Nixon tratou o debate como apenas mais um evento na campanha, os assessores de Kennedy criaram um arsenal de artimanhas destinadas a humilhar o adversário. Os democratas sabiam que Nixon se recuperava de uma lesão no joelho e sofria de hiper-hidrose, disfunção que faz a pessoa suar além do normal. De posse dessas informações, fizeram questão de que os candidatos ficassem de pé durante todo o debate e pediram que a temperatura do estúdio fosse aumentada. Quando Nixon começou a passar seguidamente as mãos pela testa, para enxugar o suor, os marqueteiros de Kennedy irromperam na sala de edição e insistiram para que o diretor de imagens focalizasse os candidatos em close. O resultado marcou o início do reinado da imagem nas campanhas. Enquanto as pessoas que assistiram ao debate pela televisão viram em Kennedy o vencedor, os que acompanharam o confronto pelo rádio consideraram Nixon melhor. Kennedy ganhou a disputa eleitoral por uma pequena margem de votos.
Em A History of the American People (Uma História do Povo Americano), o historiador inglês Paul Johnson diz que a trajetória de Kennedy, coroada com uma milionária campanha que o levou à Casa Branca, mostra "até que ponto o dinheiro pavimentou o caminho da política americana a partir da segunda metade do século XX". É verdade que Kennedy tinha grandes qualidades, não era um candidato "sabão em pó". Mas também é verdade que, a partir de sua eleição, marketing, dinheiro e política estreitaram seus laços.
Marcelo Carneiro

Com reportagem de Juliana Linhares,
André Rizek e Fábio Portela 





Duda Mendonça voltou a faturar no fim do governo Lula

Publicada em 16/07/2011 às 20h04m
Sérgio Roxo (sergio.roxo@sp.oglobo.com.br)

SÃO PAULO - Réu no processo do mensalão, o publicitário Duda Mendonça aumentou o seu faturamento em contratos com o governo federal no fim da gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT). Após atravessar uma baixa no período seguinte ao escândalo, a empresa do marqueteiro recebeu 135% a mais no biênio 2009-2010 em comparação com os dois anos anteriores (2007-2008).
No último dia 7, a Procuradoria Geral da República, ao apresentar as alegações finais do processo do mensalão, pediu a condenação de Duda e de sua sócia, Zilmar Fernandes, a penas de 229 a 941 anos de prisão por lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Após escândalo, Saúde virou principal cliente de Duda
Após ser envolvido no maior escândalo da gestão Lula, Duda deixou de prestar serviço para a Presidência, mas viu aumentar o dinheiro recebido por contratos com o Ministério da Saúde. Em 2005, quando era o principal publicitário do governo, faturou R$ 51,9 milhões (em valores atualizados pela inflação) da União, segundo informações disponíveis no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU). Dessa quantia, cerca de 75% eram referentes a compromissos diretos com a Presidência. O restante saíra de campanhas realizadas para a pasta da Saúde. Trabalhos para estatais não estão incluídos.
Leia a íntegra na edição digital do GLOBO (exclusivo para assinantes)

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Publicitário Duda Mendonça disse que dinheiro ilegal pagou a campanha de Lula à Presidência do Brasil

Origem: Wikinotícias, a fonte de notícias livre.

Duda Mendonça decidiu comparecer espontaneamente para falar na CPI dos Correios do Brasil. Foto: Valter Campanato/ABr.
11 de agosto de 2005
BrasilDuda Mendonça, o publicitário responsável pela campanha do Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o custo da campanha de 2002 para a Presidência foi pago com dinheiro ilegal, oriundo de fundos não declarados (caixa 2) e de paraísos fiscais. A campanha de Lula e outras campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) foram pagas com dinheiro ilegal, disse Duda.
As declarações de Duda ocorreram em Brasília durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga denúncias de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Estava presente à reunião, a sócia de Duda, Zilmar Fernandes da Silveira. Duda Mendonça compareceu à reunião espontaneamente, sem ter sido previamente convocado. Ele deu a entender que agiu assim porque viu que sua reputação pessoal e profissional começavam a ser atingidas.
O publicitário que há dias negava não ter recebido dinheiro do empresário Marcos Valério —suspeito de ser operador do suposto esquema de compra de votos de parlamentares brasileiros conhecido como mensalão— voltou atrás e admitiu a participação do empresário e do tesoureiro do PT Delúbio Soares no pagamento de seus serviços. Duda disse que seu trabalho para as campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Presidente foram legais e que só aceitou o suposto pagamento ilegal porque não havia outra alternativa para receber o dinheiro referente à dívida do partido pelas campanhas.
Segundo Duda, sua empresa de propaganda recebeu pagamentos em dinheiro do empresário Marcos Valério e de contas de banco no exterior, de países como as Bahamas, considerado "paraíso fiscal" por causa das leis locais que facilitam a sonegação.
A sócia de Duda Mendonça, Zilmar Fernandes, disse que por volta de 2003 Marcos Valério procurou-a e sugeriu a abertura de uma conta bancária no exterior, porque disse que estava difícil fazer o pagamento da dívida do PT. Duda disse que foi ao Banco Boston e que foi aberta uma empresa nas Bahamas chamada Dusseldorf.
Duda contou que o empresário Marcos Valério foi autorizado pelo tesoureiro do PT Delúbio Soares a fazer o pagamento da dívida que tinha o PT com a sua agência de publicidade. O publicitário apresentou para a CPI dos Correios vários faxes que comprovariam a remessa de dinheiro do exterior.
O publicitário afirmou que foram depositados no exterior cerca de R$ 10 milhões. Os valores foram repassados aos poucos e chegavam através dos seguintes bancos: Florida Bank, Banco de Israel, Banco Rural Europa e Trade Link.
Duda Mendonça disse que sua empresa nunca tinha trabalhado antes com "caixa 2" e admitiu que embora pudesse ter cometido um erro fiscal, não cometeu um erro de caráter. “Eu não tinha opção. Era receber ou não receber pelo trabalho", disse Duda para justificar a sua atitude.
Duda também declarou que o PT ainda lhe deve R$ 14 milhões, pelos trabalhos de 2004, entre os quais estão as campanhas para prefeito dos candidatos do PT em Recife (João Paulo), São Paulo (Marta Suplicy), Goiânia (Pedro Wilson), Belo Horizonte (Fernando Pimentel), e Curitiba (Ângelo Vagnoni).

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Repercussão

A se comprovar os fatos relatados pelo publicitário, o Partido dos Trabalhadores (PT) corre o risco de ter o seu registro cassado pela Justiça. Pelas leis brasileiras um partido político não pode receber dinheiro não contabilizado e não declarado à Justiça Eleitoral. Um partido também não pode receber dinheiro de uma conta no exterior do país.
O Presidente da CPI dos Correios Delcídio Amaral (PT-MS) disse que hoje a comissão recebeu uma "saraivada de informações". O relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) afirmou que o depoimento foi "revolucionário".
Para o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) está claro que uma parte da campanha de Lula à Presidência foi paga com recursos financeiros obtidos ilegalmente. Ele afirmou: O que é gravíssimo é que o partido operou uma conta no exterior, algo vedado pela legislação. O PT corre sério risco de perder seu registro.
Muitos parlamentares no Congresso e no Senado Federal começaram a comentar sobre a possibilidade de impeachment do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse:
Bastou um depoimento verdadeiro para o país ser jogado no limiar de uma crise política sem precedentes. Temos que buscar a melhor saída para o país, todas as alternativas devem ser discutidas, lamentavelmente até a do impeachment. A crise se agudizou de tal forma que é possível que se conclua que esta possa ser a melhor alternativa, embora eu não a deseje.
Vários políticos do Partido dos Trabalhadores choraram hoje no Congresso Nacional, como Walter Pinheiro (PT-BA) e Orlando Desconsi (PT-RS). Para a deputada Iara Bernardi (PT-SP) o Presidente Lula tem a obrigação de fazer um pronunciamento à população: Construímos juntos o partido com ele e, se estamos exigindo explicações do líderes do PT, Lula não pode ficar de fora.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse: Quem vendeu o presidente Lula como a mudança e a solução ética para o Brasil compromete o presidente, porque assumiu hoje pelo menos três crimes: contra a ordem tributária, contra o sistema financeiro e de lavagem de dinheiro.
O Presidente do Partido dos Trabalhadores e ex-Ministro da Educação, Tarso Genro, já tinha reconhecido o financiamento ilegal de algumas atividades do partido. Numa entrevista para o Jornal da Catalunha, Genro disse: uma visão pragmática da governabilidade nos levou a estabelecer alianças, com forças de centro-direita, que não eram transparentes. Assim se criou, com o ex-tesoureiro Delubio Soares à frente, uma estrutura informal paralela de poder que não obedecia a lógica do partido e que desta maneira financiava suas atividades. Seu alcance ainda não foi todo esclarecido. Ainda estamos verificando a profundidade do fato.
Tarso Genro explicou que o financiamento se realizava com empréstimos outorgados às empresas de Marcos Valério, e afirmou que seu partido pode levar anos para recuperar a credibilidade.
O Presidente do Senado Federal brasileiro, Senador Renan Calheiros demonstrou preocupação com as revelações do publicitário Duda Mendonça. Calheiros disse: O depoimento nos remete a um cenário pantanoso de ilegalidade, incompatível com a legislação brasileira. Sonegação fiscal, evasão, conta no exterior, são coisas que precisam ser investigadas o mais rapidamente possível. Nada pode ficar sem resposta. Ele preferiu não comentar sobre a possibilidade de impeachment para o Presidente da República.

Pronunciamento à nação

Espera-se que o Presidente Lula fale à nação em rede nacional na sexta-feira (12).
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) pede para que o Presidente fale a verdade nesse pronunciamento. Ele advertiu:
A esta altura, o presidente Lula está atingido. Dezoito deputados do PT subiram à tribuna e exigiram uma tomada de posição enérgica, alegando que não admitem o que está acontecendo. O próprio líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), garantiu que nada sabia. A hora do presidente da República falar é essa. A partir da segunda-feira as investigações da CPI tomarão outro rumo.
Contra Lula há uma suspeita sobre um empréstimo não bem explicado de R$ 28 mil que o Partido dos Trabalhadores (PT) lhe fez. A oposição suspeita de que esse empréstimo utilizou dinheiro do "caixa 2" do partido. O PT diz que o partido tem inúmeras outras fontes de recursos e que pode explicar o empréstimo.
Após a notícia de que dinheiro ilegal fôra usado na campanha de Lula ter sido divulgada por várias agência de notícia e pela internet, Duda Mendonça procurou resguardar o Presidente e disse acreditar ser possível que o dinheiro usado nas campanhas das eleições de Lula e do senador Aloízio Mercadante (PT-SP) terem sidos recursos oficiais e contabilizados.
O empresário Marcos Valério, ao tomar conhecimento de que Duda Mendonça disse que recebera dinheiro oriundo de paraísos fiscais, compareceu à reunião da CPI do Mensalão para prestar esclarecimentos. Valério disse que nunca sugeriu a Duda para que ele abrisse contas no exterior.

Multimédia

(video)
Duda admite ter recebido dinheiro ilegal (info)
O publicitário Duda Mendonça depõe para a CPI dos Correios do Brasil e diz que não teve outra alternativa a não ser aceitar dinheiro ilegal para ser pago pelos seus serviços. (1,7 MB, 01:12). Fonte: TV Câmara.
Duda cita os paraísos fiscais (info)
O publicitário Duda Mendonça depõe para a CPI dos Correios do Brasil e cita vários faxes referentes a supostas contas em instituições financeiras no exterior (1,8 MB, 01:35). Fonte: TV Câmara.
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Fontes


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26/10/2008 free counters

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