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quarta-feira, 9 de março de 2011

Mato Grosso paga R$ 1.500 de pensão a 'desbravadores' do Estado

RODRIGO VARGAS
DE CUIABÁ

Profissionais apontados como "desbravadores" de Mato Grosso recebem, desde 1998, uma pensão especial aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado.

Os beneficiários são topógrafos e agrimensores que atuaram a partir dos anos 1950 na demarcação de áreas públicas e privadas em MT.

Da lista de 17 agraciados, segundo a Secretaria da Administração, 7 recebem o benefício até hoje --outros morreram ou tiveram a pensão cancelada pela Justiça.

Cinco dos "desbravadores" têm vencimentos de R$ 1.575,57 e dois recebem R$ 1.050,35. Ao todo, as pensões custam R$ 10 mil mensais aos cofres do Estado.

Além da lei que instituiu a pensão aos 17, em 1998, a Assembleia aprovou em 2004 uma extensão do benefício a outros 31 "desbravadores". Esta, porém, foi negada pelo governo do Estado e nunca chegou a ser paga.

"Foram anos e anos de muito trabalho pelo interior do gigantesco Estado de Mato Grosso", dizia a justificativa da concessão, assinada pelo deputado José Riva (PP).

Para os deputados, o pagamento da pensão se dava pela "audácia" dos beneficiários em atuar "numa época em que só os de suas estirpes ousavam se embrenhar na selva intransponível".

'SEM GPS'

Um dos ainda beneficiados é o agrimensor e espeleólogo (estudioso da formação e constituição de cavernas) Ramis Bucair, 77.

Presidente de uma sociedade dedicada a preservar a memória do marechal Cândido Rondon, Bucair diz que o benefício "não é um favor".

"Todos os que estão nesta lista mereciam muito mais", afirma. "Fomos aonde ninguém queria ir. Abrimos picadas em meio à floresta, sem GPS, enfrentando todo o tipo de adversidade. Eu mesmo peguei malária 22 vezes."

Para o também agrimensor Alvanir dos Santos, 78, a pensão é "justa". "Não são valores exorbitantes", diz.

O ex-prefeito de Cuiabá Wilson Santos (PSDB) não quis fazer comentários sobre a pensão que é paga a seu pai, o agrimensor Elias Pereira dos Santos, 73. "Sou suspeito para falar de meu pai. Digo apenas que há pensões merecidas e não merecidas."

A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público move ações para extinguir pagamentos remanescentes aos "desbravadores".

"Não há uma profissão mais importante que as outras. Do médico ao profissional de limpeza, todos contribuem para o Estado", diz o promotor Gustavo Dantas.

Segundo ele, trajetórias individuais singulares podem ser reconhecidas pelo Estado, mas sob a forma de honrarias: comendas, nomes de ruas e prédios públicos.

"Uma pensão nesses termos é uma cortesia com o chapéu alheio."


Editoria de Arte/Folhapress








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