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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Prêmio de US$1 milhão para ajudar a combater doenças





Seg, 14 Fev, 06h32

Acompanhar o inexorável avanço da esclerose lateral amiotrófica, a doença neuromuscular fatal mais conhecida como doença de Lou Gehrig ou ALS (da sigla em inglês), sempre foi uma ciência inexata _ uma questão de monitorar fraquezas e fadigas, realizando medições aproximadas sobre a força de vários músculos.


Essa imprecisão atrapalhou a busca por medicamentos que pudessem desacelerar ou bloquear o progresso da doença.

Mas agora um neurologista do Centro Médico Beth Israel, aqui de Boston, recebeu um prêmio de US$1 milhão _ o maior valor jamais pago por se atingir um desafio específico em pesquisas médicas _ por desenvolver uma forma confiável de quantificar as pequenas mudanças musculares que sinalizam a degeneração progressiva.

O vencedor, Dr.

Seward Rutkove, mostrou que seu método poderia cortar pela metade os custos de ensaios clínicos que buscam remédios para a doença, segundo Melanie Leitner, diretora científica do Prize4Life, grupo sem fins lucrativos que criou a competição.

O método não oferece um alvo no corpo para onde direcionar os remédios, nem ajudará os médicos com o diagnóstico.

Mas a Dra.

Merit Cudkowicz, professora de neurologia do Hospital Geral de Massachusetts e presidente do Consórcio de ALS Northeast, comparou a descoberta de Rutkove à forma como a ressonância magnética acelerou o desenvolvimento de medicamentos contra esclerose múltipla.

"É possível usar isso como uma ferramenta para testar remédios e ver se eles afetarão a sobrevivência", disse ela, acrescentando: "O prêmio definitivo é encontrar um remédio que funcione contra a ALS".

Rutkove, de 46 anos, que trata de pacientes com doenças neuromusculares há 16 anos, se aproveitou da forma como nossas fibras musculares alteram as correntes elétricas.

Com um dispositivo portátil ligado a eletrodos sobre a pele do paciente, um médico pode enviar correntes elétricas indolores a um músculo específico _ e medir a voltagem resultante.

Conforme a ALS se espalha, os neurônios motores morrem, causando atrofia muscular.

Os músculos em deterioração se comportam de maneira diferente dos saudáveis, resistindo mais à corrente.

Em estudos com humanos e ratos, Rutkove mostrou que essas variações eram intimamente vinculadas à progressão e à duração de sobrevivência da doença.

"Não se pode dizer que é uma tecnologia imaginativa", disse ele, "mas realmente acredito que ajudará muitas pessoas".

Rutkove pensou em estudar medicina quando, ainda criança, viu seu avô tendo um ataque epilético.

A cada ano, são diagnosticados 5 mil novos casos de ALS nos Estados Unidos, segundo o Instituto Nacional de Saúde.

Apesar de décadas de ensaios clínicos, o diagnóstico continua sendo uma sentença de morte.

A doença paralisa e sufoca os pacientes enquanto suas mentes permanecem intactas.

Alguns pacientes vivem por décadas _ o físico Stephen Hawking é o mais conhecido _, mas a maioria sobrevive de três a cinco anos após o aparecimento dos sintomas.

O riluzol, o único medicamento para ALS aprovado pela FDA (agência que regulamenta alimentos e remédios nos EUA), custa cerca de US$ 10 mil por ano _ e geralmente estende a vida em apenas alguns meses.

O alto custo dos ensaios clínicos limita a capacidade das companhias farmacêuticas de testar potenciais tratamentos.

Pesquisadores precisam recrutar centenas de pacientes, e conduzir ensaios que duram até dois anos, simplesmente para eliminar um medicamento da corrida.

"Um executivo nos disse: 'Pelo custo de um remédio para ALS, eu consigo desenvolver dois remédios contra esclerose múltipla; então obviamente eu opto pela segunda opção'", escreveu Avi Kremer, fundador do Prize4Life, de 35 anos.

Kremer, que é portador da doença (recebeu o diagnóstico em 2004, quando ainda era aluno da Escola de Administração de Harvard), não consegue falar ou digitar.

Ele fez essa declaração durante uma videoconferência via Skype, de seu apartamento em Haifa, usando um sensor que lê sua testa enquanto ele levanta as sobrancelhas.

O Dr.

Doug Kerr, diretor-associado de neurologia experimental da Biogen Idec, que está trabalhando num remédio para ALS, afirmou que métodos mais sensíveis de teste "nos permitirão testar mais medicamentos, mais pacientes, e chegar mais rapidamente à resposta".

Ele chamou o método de Rutkove de "uma poderosa nova peça ao armamento de estudo da ALS".

Pesquisadores dizem que prêmio de US$ 1 milhão, que será entregue a Rutkove em junho, em Nova York, é o mais já pago pela solução de um desafio fixo da pesquisa médica _ já que o Nobel e o Lasker são oferecidos em retrospectiva, e não em resposta a um desafio.

Esse tipo de prêmio não é novidade.

No século 18, um desafio similar trouxe solução ao famoso problema de Newton _ de como determinar longitudes no mar: um relojoeiro, chamado John Harrison, venceu a competição ao inventar o cronômetro marinho.

E o voo sem paradas sobre o Atlântico, de Charles Lindbergh, surgiu de uma competição, o Prêmio Orteig, no valor de US$ 25 mil.

Agora, esse tipo de desafio está voltando à moda.

Em dezembro, o Congresso americano aprovou uma lei autorizando agências federais a usar competições premiadas como complemento a financiamentos e contratos.

Competições podem atrair novos olhos a velhos problemas; entre os competidores do Prize4Life estava um dermatologista de Buffalo, que buscava um biomarcador para ALS após perceber que pacientes com a doença não desenvolviam escaras (feridas decorrentes do excesso de tempo deitado).

Porém, o perigo de uma competição com prêmio é que "escolhas erradas podem levar as pessoas na direção errada, ou a um beco sem saída de pesquisa e desenvolvimento", disse Paul Wilson, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia.

Wilson estudou o potencial do uso de um prêmio para estimular o desenvolvimento de uma ferramenta de diagnóstico de tuberculose, barata e simples o bastante para ser usada na África rural.

Rutkove disse que seu trabalho já vinha sendo realizado, apoiado por financiamentos públicos, antes que ele ouvisse falar no prêmio.

Entretanto, ele acrescentou que o desafio mudou seu foco para a redução de custos nos ensaios clínicos, e acabou acelerando sua análise.

O encanto de uma competição premiada é que ela consegue iniciar uma corrida por algo que está pouco além do alcance.

"Não é muito diferente do presidente Kennedy nos desafiando a colocar um homem na Lua", disse Dwayne Spradlin, presidente da InnoCentive, empresa que ajudou a promover o concurso do Prize4Life.

Para os pacientes de ALS como Kremer, é claro, o maior desafio continua: sobreviver.

c.

2011 New York Times News Service


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