RIO - Ele controla uma rede de padarias no Egito. E também cuida da produção e venda de azeite de oliva e de leite. Além de água mineral. O ramo da construção também é controlado por ele, não só erigindo edifícios mas também como produtor de cimento. O transporte do país também depende, em parte, dele — já que atua ainda no ramo da gasolina. Sem contar que fatura alto com o turismo, pois administra uma grande rede hoteleira. A indústria de eletrodomésticos e produtos eletrônicos mais sofisticados também está em suas mãos; assim como a de veículos, que produz Cherokees e Wranglers, em parceria com a Jeep.
Como se não bastasse comandar todo esse aparato, o marechal Mohammed Tantawi também é, hoje, o homem mais poderoso da política no Egito, como chefe do Conselho Supremo Militar, encarregado da transição.
Além de ministro da Defesa, ele é ministro da Produção Militar — o que significa que Tantawi, 75 anos, é na prática o executivo-chefe de todo o conglomerado industrial e comercial (citado acima) que pertence às Forças Armadas. As empresas, comandadas por generais da reserva e subordinadas a Tantawi, são responsáveis por 15% do produto interno bruto (US$ 217 bilhões) do Egito.
Militar defendia Mubarak e era contra reformas no EgitoUma das grandes dúvidas, no momento, é se os militares vão abrir mão do poder e privilégios que sempre tiveram desde 1952, quando derrubaram a monarquia. Desde então, todos os quatro presidentes que o país teve foram militares. A outra questão é se Tantawi — que se manteve fervorosamente leal a Hosni Mubarak — vai, de fato, promover algo que sempre rejeitou: as reformas política e econômica.
Militares americanos, que há anos lidam com ele, sempre consideraram Tantawi um “operador perspicaz”. Mas tal virtude, nas atuais circunstâncias, em vez de tranquilizar parece preocupar mais o governo dos Estados Unidos.
Telegramas enviados a Washington pela embaixada americana no Cairo, definem Tantawi como “charmoso e cortês”. Mas, ao mesmo tempo, o apontam como “relutante a mudanças” — segundo os documentos revelados pelo WikiLeaks, indicando que o militar tem posições contrárias ao que justamente teria que promover agora, durante a transição.
“Tantawi tem sido contrário tanto à reforma econômica quanto à política, por entender que isso iria corroer o poder do governo central. Ele se preocupa de maneira suprema com a unidade nacional, manifestando-se contra iniciativas políticas, que encara como um incentivo à divisões políticas ou religiosas dentro da sociedade egípcia”, diz um documento.
E acrescenta: “Tantawi acredita que o plano de reforma econômica estimula a instabilidade social reduzindo os controles do governo sobre preços e produção”.
De acordo com a avaliação americana, também transparente nos telegramas, a própria figura de Tantawi seria um fator de divisão dentro das Forças Armadas. Oficiais de nível médio não gostam dele, desdenhando-o abertamente durante conversas nos clubes militares.
Eles dizem que ele é “incompetente e arcaico”, e que valoriza mais a lealdade do que a capacidade de seus subordinados. “Uma cultura de obediência cega impregna o ministério da Defesa, onde o único critério para promoção é a lealdade. Sua liderança não hesita em demitir oficiais que lhe parecem ‘muito competentes’ e que, portanto, representam potencialmente uma ameaça ao regime”, diz um dos documentos da embaixada dos EUA.
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