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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mubarak delega poderes a Suleiman, mas não renuncia


13 minutos atrás

CAIRO (AFP) - O presidente egípcio, Hosni Mubarak, delegou nesta quinta-feira poderes ao vice-presidente e propôs reformas constitucionais, mas não renunciou, enfurecendo os manifestantes que esperavam sua saída do poder.


Para esclarecer algumas confusões com a tradução do discurso, o embaixador egípcio nos Estados Unidos explicou, em seguida, que o vice-presidente egípcio Omar Suleiman tornou-se "presidente de fato" do Egito.

"O presidente disse claramente que estava transferindo toda a sua autoridade para o vice-presidente", afirmou o embaixador Sameh Shoukry à CNN.

"O presidente Mubarak transferiu os poderes da presidência ao seu vice, que agora assume toda a autoridade presidencial, então podemos dizer que Mubarak é o presidente "de direito", e o vice-presidente é o presidente de fato", explicou.

O discurso de Mubarak foi recebido com gritos furiosos de "Abaixo, abaixo" entre mais de 200.000 pessoas que lotavam a praça Tahrir, no centro do Cairo, no 17º dia de protestos para exigir a renúncia do presidente.

Muitos manifestantes pediram uma greve geral imediata e se dirigiram ao exército, que mobilizou um grande número de tropas e tanques em torno do protesto: "Exército egípcio, a escolha é agora, o regime ou o povo!".

A esperança era a de que Mubarak fosse renunciar imediatamente, depois que a cúpula militar anunciou horas mais cedo que iria garantir a segurança do país e defenderia as demandas "legítimas" da população.

Mas, no final de seu discurso, Mubarak permaneceu como presidente do país.

Ao delegar poderes ao vice-presidente e ex-chefe da inteligência Omar Suleiman, Mubarak afirmou que ele permaneceria o líder através de um processo de transição até setembro e, um dia, morreria no Egito.

"Decidi delegar poderes ao vice-presidente com base na Constituição", disse o aparentemente fragilizado Mubarak, com uma voz rouca.

"Estou consciente dos perigos desta encruzilhada... e isso nos força a priorizar os altos interesses da nação."

Ele continuou o discurso com um aparente ataque aos Estados Unidos e a outros países que o pressionaram para acelerar a transição para a democracia, afirmando: "nunca me curvei a ingerências externas".

"Sempre preservei a paz e trabalhei pelo Egito e por sua estabilidade."

O discurso não agradou aos manifestantes, que nas últimas duas semanas pediram o fim do regime Mubarak em grandes protestos que abalaram o país mais populoso entre os países árabes.

Ao discursar pela televisão logo após Mubarak, o vice-presidente Omar Suleiman pediu aos manifestantes que fossem para casa ou voltassem para o trabalho.

Mas, enquanto começavam a deixar pacificamente a praça Tahrir, os gritos de aumentavam. "Estamos indo para o palácio, mártires aos milhões!".

Mais cedo, a praça foi inundada por uma atmosfera de carnaval, com centenas de milhares de egípcios reunidos para celebrar o que eles acreditavam ser o último discurso de um regime de três décadas de Mubarak.

Quando eles perceberam que o presidente se recusava a renunciar, o humor mudou e a ira aflorou.

A multidão gritava "Nem Mubarak, nem Suleiman!", enquanto uma mulher idosa dizia: "O homem velho não vai deixar o poder".

O funcionário de um supermercado Rahman Gamal, de 30 anos, disse: "Omar Suleiman e Mubarak são o mesmo. Eles são os dois lados da mesma moeda. Nossa primeira exigência é que ele deixe o poder. Se ele não sair, eu também não saio".

"Ele ainda fala conosco como se fôssemos tolos", disse Ali Hassan, outro manifestante. "Ele é um general derrotado no campo de batalha que não vai recuar antes de causar o maior número de vítimas que puder".

Centenas de manifestantes ocupam a praça desde o dia 28 de janeiro, pedindo uma reforma democrática e o fim do regime de Mubarak. Eles levantaram um enorme acampamento, cercado por um cordão de tropas e tanques.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que o mundo estava assistindo ao "desenrolar da História" e disse que a América fará tudo o que puder para garantir uma transição verdadeira para a democracia.

"O que está absolutamente claro é que estamos testemunhando o desenrolar da História. Este é um momento em transformação que está ocorrendo porque as pessoas do Egito pedem mudanças", acrescentou.

"O momento da mudança no Egito é agora", afirmou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, após o discurso de Mubarak, lamentando que o presidente egípcio "não tenha aberto caminho para reformas mais rápidas e profundas".

O presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, advogou pela formação de um novo governo que inclua "todas as forças democráticas" e instou o exército a seguir desempenhando "um papel construtivo".

Mais cedo, milhares de trabalhadores egípcios que fazem greve nacionalmente se juntaram à manifestação, enquanto um protesto em massa está marcado para a sexta-feira, no que poderá ser o maior até agora.

Uma fonte da segurança confirmou informações divulgadas pelos sindicatos de que milhares de trabalhadores do setor público aderiram à greve na cidade de Alexandria, em Suez, e em todas as cidades da costa norte do país e no Mar Vermelho.

O líder sindical Kamal Abbas afirmou que desde que os protestos começaram, em 25 de janeiro, exigindo a queda de Mubarak, "começamos a ouvir rumores de que membros do governo tinham bilhões de dólares em suas contas pessoais".

"Muitos trabalhadores acreditam que é hora e levantar e exigir seus direitos."

Trabalhadores da maior fábrica do Egito - a indústria têxtil Misr Spinning and Weaving, que emprega 24.000 pessoas no Delta do Nilo - trancaram os prédios da companhia e se reuniram em massa em frente aos escritórios administrativos.



Discurso de Mubarak enfurece manifestantes no Cairo

Qui, 10 Fev, 08h06

Manifestantes reunidos na Praça Tahrir, no centro do Cairo, ficaram enfurecidos com o discurso à nação proferido na noite de hoje pelo presidente do Egito, Hosni Mubarak. No pronunciamento, Mubarak anunciou que delegaria poderes ao vice-presidente Omar Suleiman, mas que não renunciaria ao cargo de presidente do país, frustrando as expectativas da multidão reunida na praça.

Muitos dos manifestantes conclamavam o Exército a se unir ao povo na revolta. Centenas de pessoas tiraram os sapatos e os atiraram no telão que transmitiu ao vivo o pronunciamento de Mubarak. Atirar os sapatos é considerado um grave insulto nos países árabes. "Derrubem Mubarak", gritavam alguns participantes. Outros defendiam uma greve geral e exigiam que o Exército participasse de um levante contra o regime: "Militares, a escolha é agora: o regime ou o povo!"

Antes do discurso, a atmosfera na praça era festiva em meio à expectativa de que Mubarak pudesse renunciar à presidência. Dezenas de milhares de pessoas estavam reunidas no momento do discurso. "Nem Mubarak nem Suleiman", entoaram manifestantes, depois de Mubarak ter dito que poderes seriam delegados ao vice-presidente.

"Omar Suleiman e Mubarak são farinha do mesmo saco. São as duas faces da mesma moeda. Nossa exigência é que ele (Mubarak) vá embora. Se ele não for, vou eu", disse o manifestante Rahman Gamal, de 30 anos, funcionário de um supermercado local.

Milhares de manifestantes estão acampados na Praça Tahrir desde a última semana de janeiro. Eles exigem reformas democráticas, o fim do estado de emergência em vigor há 30 anos e o fim do regime liderado por Mubarak.

Constituição

Em seu discurso, o presidente do Egito, além de delegar poderes a seu vice-presidente, ordenou a elaboração de emendas à Constituição do país. Com isso, Mubarak retém o status de presidente e garante ao regime controle sobre o processo de reformas.

Mubarak informou ter recorrido a um dispositivo constitucional que permite ao presidente transferir poderes quando este encontra-se "temporariamente" impossibilitado de exercer suas funções, mas sem que isso signifique renúncia ao cargo. Com isso, Mubarak reforçou em seu discurso que continuará sendo o presidente do país até que um líder eleito esteja apto a assumir. As eleições no Egito são esperadas para setembro. As informações são da Dow Jones.



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