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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Trânsito mata em média 4,3 pessoas por dia em São Paulo


Em 2007, exatas 1.566 pessoas morreram no trânsito, um aumento de 5,3% em relação ao ano anterior

Diego Zanchetta e Rodrigo Brancatelli, de O Estado de S. Paulo


SÃO PAULO - Todos os dias, de segunda a segunda, mês a mês, o trânsito de São Paulo mata em média 4,3 pessoas e fere com alguma gravidade pelo menos outras 72. Uma "epidemia" que, na cidade, faz mais vítimas fatais que aids, insuficiência cardíaca, miocardiopatias, insuficiência renal, doenças de sangue e tuberculose e é quase idêntica às mortes por doenças do sistema nervoso ou mesmo homicídios. São 2 pedestres, 1,3 motociclista, 0,8 condutor/passageiro e 0,2 ciclista mortos. Todos os dias.

Em 2007, exatas 1.566 pessoas perderam a vida no trânsito paulistano, um aumento de 5,3% em relação a 2006. Foram 736 pedestres, 281 motoristas e passageiros, 466 motociclistas e 83 ciclistas - para efeito de comparação, 4 mil soldados americanos morreram na guerra do Iraque ao longo de cinco anos de combate. Em todo o Reino Unido, morrem 8 pessoas por dia, por causa do trânsito. Em Nova York, 0,7.

Comparando 2006 com 2007, os motociclistas foram os mais penalizados, com um aumento no número de mortes na casa dos 22,5%. Já comparando o período entre 2004 e o ano passado, são os ciclistas que colecionam recordes. As mortes saltaram de 51 para 83, acréscimo de 62,7%.

Os dados fazem parte de um levantamento da Secretaria de Transportes, obtido com exclusividade pelo Estado, com base em laudos do Instituto Médico-Legal, boletins de ocorrência da Secretaria de Segurança Pública e relatórios de investigação de acidentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de 2007. É uma das mais completas radiografias já publicadas sobre quem morre, como morre, onde morre, quando morre e por quê. Esses dados e as informações referentes a 2008 não foram divulgados oficialmente porque, segundo um funcionário do órgão, "não são favoráveis".

Quem se recusa a divulgar os dados, porém, se esquece de que tais números poderiam ajudar a discutir projetos para melhorar os índices e criar programas para conscientizar a população. Se esquece que tais estatísticas frias e didáticas significam na verdade histórias de acidentes trágicos, vidas interrompidas bruscamente, sonhos desfeitos. Como os de Luciano Romão, de 27 anos, que havia acabado de concluir o 1º semestre da faculdade de Administração e comprar um apartamento no Campo Limpo. Na noite de 5 de julho de 2007, morreu atropelado por um Voyage que passou no sinal vermelho.

Ou os de Fernanda Cristina Pignataro, de 19 anos, que sonhava tanto em virar jogadora profissional de futebol que já planejava se mudar para os Estados Unidos. No dia 4 de agosto de 2007, às 7h45, ela ia para o trabalho de moto quando um carro a fechou. Ela tentou desviar para a esquerda, mas seu capacete enganchou num caminhão que vinha em sentido contrário. Também morreu na hora. Já o ajudante-geral Francisco Marques da Silva, de 16 anos, acenava para seu amigo do outro lado da rua quando uma lotação o atropelou no dia 1º de fevereiro do ano passado na Avenida Raimundo Pereira da Magalhães, em Pirituba. Três números a mais nas estatísticas, três exemplos de histórias interrompidas pelo trânsito de São Paulo.

"Esconder os dados é simplesmente omissão e fere a democracia", diz Horácio Figueira, consultor de trânsito da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet). "Isso precisa estar na internet. Temos de discutir mais essa guerra que acontece diariamente em São Paulo. Temos de mostrar para a sociedade que quem mata e morre no trânsito não são os marcianos, somos nós, eu, você, o pedestre que não olha o farol, o motociclista apressado, o condutor no celular."

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