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domingo, 10 de agosto de 2008

Ficha suja (do eleitor)


Sex, 08/08/08
por gmfiuza |

Nova indignação na praça. O Supremo liberou a candidatura a cargos eletivos dos cidadãos que respondem a processo na Justiça. Isso é Brasil! O triunfo da impunidade! A festa do colarinho branco! etc etc etc.

Um dado curioso: uma trincheira importante da picaretagem nacional está hoje justamente nos franco-atiradores que processam para ver no que dá.

Há por aí um contingente grande de gente boa (ou supostamente boa), jornalistas, pesquisadores, editores de livros, economistas, respondendo a processo na Justiça. E outra trincheira importante, a da leviandade, tem muitos adeptos entre os juízes de primeira instância.

Some-se um franco-atirador de má-fé com um julgador sôfrego e tem-se, tranqüilamente, a condenação de um cidadão de bem. Está cheio de casos assim por aí.

Se o Supremo aprovasse o tão reclamado embargo da ficha suja, imaginem a quantidade de armações entre políticos espertos e juízes compráveis para torpedear candidaturas legítimas.

Não seria difícil. A sociedade poderia até escolher pagar esse preço. Na dúvida, se alguns bebês fossem jogados fora junto com a água do banho, pelo menos se teria a garantia de que a água suja foi toda embora.

Mas não seria mais fácil fazer um esforço para votar direito?

Esses acessos de virtude dos brasileiros estão cada vez mais preguiçosos. A estupidez da sociedade é sempre perdoada. Os homens lá em cima é que têm que criar leis para constranger o estúpido.

Vamos ver se aparece algum virtuoso com coragem para propor a ficha suja do eleitor.

Nos municípios onde Paulo Maluf tiver sido o mais votado, ninguém vota nas próximas eleições. Nas zonas eleitorais que tiverem registrado mais de 10% dos votos para Eurico Miranda, ninguém mais entra. E assim por diante.

Chega de inocência impune.

Sobre o masoquismo

Qui, 07/08/08
por gmfiuza |

A imensa maioria dos comentaristas deste espaço é de torcedores do PT. Simpatizantes, provavelmente. Mas acima de tudo torcedores. Defendem um partido político como se defende um clube de futebol.

O Lula tem mais títulos (opa!) que o Fernando Henrique! Aquele gol atribuído aos tucanos foi feito pelo Itamar! Foi injusto o resultado que mandou José Dirceu para a segunda divisão!

O curioso é que no momento em que é reconhecido aqui um traço importante de estadista do presidente Lula, os comentaristas se retraem. Sua excitação parece ter ido tomar uma chuveirada fria no vestiário.

Seria um comportamento típico de quem não quer debater idéias, só quer patrulhar. E se não há ninguém na rua questionando o evangelho petista, a patrulha cochila, ociosa.

Mas não pode ser isso. Seria tacanho demais. A alternativa que resta é supor que esses bravos torcedores do PT têm a síndrome do botafoguense: a excitação máxima só pode ser alcançada quando seu time perde.

Mas isto não é uma reprimenda. A glória do sofrimento também é sagrada.

A Argentina é longe daqui

Ter, 05/08/08
por gmfiuza |

Brasil e Argentina nasceram grudados, como disse Lula. Felizmente, já se desgrudaram e hoje navegam cada um para um lado. Pelo menos no mapa político. Em parte, graças a Lula.

O presidente brasileiro é um símbolo popular, e já se perdeu diversas vezes entre a afirmação desse simbolismo e o puro populismo. Mas nunca submeteu o Brasil à irresponsabilidade que os Kirchner, o casal teatral, tiveram com os argentinos.

Olhando hoje para os vizinhos, descontada a compaixão, os brasileiros podem se sentir aliviados. A fanfarronice populista de Nestor e Cristina não tem paralelo por aqui. É um contraste lamentável, mas serve para delimitar as críticas que se pode fazer a Lula.

Aquele vento rosado de crescimento nacional-voluntarista, dando banana para os credores, transformou os Kirchner em fenômeno continental. Finalmente, surgia um governante de esquerda peitudo e competente.

Estava na cara – e este espaço, em sua encarnação anterior, não foi o único a apontar – que aquilo era mais uma aventura do populismo crônico argentino. E não ia acabar bem.

Com sua festejada política de juros de mentira, tarifas de mentira e calotes de verdade, a Argentina tem hoje uma das maiores inflações do mundo. Seu governo está caindo pelas tabelas, e lá vem o filme da crise econômica argentina – que sempre nasce das trapalhadas políticas.

Esse vento rosado cansou de ser exaltado por aqui, notadamente no partido do presidente. Lula não caiu nesse conto. E não foi ouvindo Dilmas, Mantegas, Amorins, Genros, Pochmans e companhia.

Não caiu por esperteza, ou por sensibilidade política, ou por desconfiança, ou por amor à pele, não importa. Por acaso, não foi.

O mal-estar de Lula com Cristina Kirchner e Hugo Chávez em Buenos Aires é, sem dúvida, um motivo de bem-estar para os brasileiros em relação a seu presidente


Milícia Federal

Seg, 04/08/08
por gmfiuza |

Enquanto Lula não cria o Ministério do Vai dar M…, conforme proposto por Chico Buarque, vamos fazendo a nossa parte.

Era óbvio, era evidente, que essa sanha depuradora da Polícia Federal, com seus mandados de prisão a torto e a direito, algemas, holofotes e operações redentoras com nome de novela ia dar… Bem, vocês sabem.

Aí está. Todos os brasileiros estão grampeados pela PF. Notícia tranqüilizadora. Finalmente, vai acabar a impunidade.

Aquele diálogo telefônico que você teve com seu filho sobre a mesada dele (“Te dou uma parte hoje. O resto você recebe em 15 dias, se cumprir o que combinamos”) já pode virar escândalo no “Jornal Nacional”.

A Polícia Federal está antenada com as mais modernas tendências do crime nas grandes cidades. Para combater a crueldade dos bandidos, surgem as milícias. Policiais à paisana prendem, arrebentam, matam e assumem o controle informal sobre o ir-e-vir do cidadão. Em nome da paz.

A Polícia Federal grampeou a população brasileira. O país saúda sua milícia governamental.

PS: O deputado Chico Alencar, candidato do PSOL a prefeito do Rio, conseguiu relativizar a censura imposta à sua equipe por traficantes armados: “Isso aqui é só o varejo. A gente sabe que os barões não estão na favela”.

É bonito ver a esquerda passando a mão na cabeça do crime organizado em nome da justiça social.

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  • Guilherme Fiuza

    Jornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também o livro 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área. Este espaço é uma janela para os grandes temas da atualidade, com alguma informação e muita opinião.


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