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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Milícia planeja assassinar deputado Marcelo Freixo, dizem documentos


Publicada em 30/10/2011 às 23h12m

Cássio Bruno (cassio.bruno@oglobo.com.br)

Marcelo Freixo: ameaças após CPI das Milícias / Foto: Fábio Guimarães

RIO - A Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar, o Ministério Público e o Disque-Denúncia registraram, em pouco mais de um mês, sete denúncias de que várias milícias estão preparando o assassinato do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Presidente da CPI das Milícias, que, em 2008, provocou o indiciamento de 225 pessoas, entre políticos, policiais militares e civis e bombeiros - boa parte do grupo está presa -, Freixo vai deixar o Brasil na terça-feira, com a família, a convite da Anistia Internacional.

REPÓRTER DE CRIME: Na terra em que o político que faz o certo vira alvo do errados

O parlamentar vai para a Europa, mas o país de destino e o tempo de permanência no exterior estão sendo mantidos sob sigilo. Em reportagem publicada ontem, O GLOBO revelou a atuação de milicianos em pelo menos 11 estados , segundo dados fornecidos por Ministérios Públicos e Ouvidorias de Polícia.

Em alguns casos, como o da Bahia, as milícias agem com as mesmas características das do Rio em bairros de Salvador. Elas exploram o transporte alternativo e a distribuição de serviços de internet, de TV a cabo e de gás. Há suspeita também da participação de políticos.

Em entrevista ao GLOBO, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu o problema das milícias. Já a corregedora Nacional de Justiça, a ministra Eliana Calmon, afirmou à reportagem que milicianos estão por trás da maioria dos casos de violência contra os magistrados brasileiros. Por isso, ela iniciou uma força-tarefa nos 27 estados para tentar identificar e punir grupos paramilitares.

- A Anistia ficou preocupada com a minha segurança devido ao acirramento das denúncias feitas contra mim. A Patrícia foi ameaçada e, na época, todos diziam que ninguém iria matá-la. Mesmo assim, mataram - disse Freixo referindo-se à juíza Patrícia Accioli, executada a tiros por milicianos na porta de casa, em Niterói, na Região Metropolitana, mês passado.

Maioria das denúncias é de milícias de Zona Oeste e Ilha

As informações sobre os planos de execução de Freixo envolvem, na sua maioria, milicianos da Zona Oeste do Rio e da Ilha do Governador. Em uma delas, do último dia 13, enviado à Coordenadoria Institucional de Segurança da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), um grupo de 50 milicianos fortemente armados se reuniu em um conjunto habitacional de Campo Grande para planejar o assassinato de Freixo. No mesmo dia, um outro bando do bairro de Cosmos chegou a fazer churrasco para tramar a morte do deputado.

No dia 3 deste mês, outro caso envolveu um policial do 18 Batalhão da Polícia Militar, em Jacarepaguá, acusado de pertencer a uma milícia. O PM atuaria no bairro Gardênia Azul, até então dominada pelo ex-vereador do Rio Cristiano Girão, denunciado pela CPI das Milícias, condenado e preso. O GLOBO mostrou, no último dia 10, a articulação para assassinar Freixo. Um ex-policial foragido do presídio da PM receberia cerca de R$ 400 mil para matar o parlamentar.

Parlamentar entregará dossiê ao governo do estado

Em 28 de setembro, mais um relato sobre a intenção de praticar um atentado contra Freixo. Um grupo paramilitar, liderado por um policial lotado na unidade do Grupamento de Policiamento em Áreas Ambientais (Gpae), se reuniu na Cidade de Deus com o objetivo de acertar os detalhes.

- Vou deixar o país, mas não é um recuo. Não é um arrependimento por ter denunciado as milícias. Vou voltar e continuar a luta contra os milicianos - ressalta Freixo, pré-candidato a prefeito nas eleições de 2012.

Atualmente, o deputado só anda escoltado por seguranças. A quantidade, porém, não é revelada por ele. Freixo utiliza ainda um carro blindado para os seus deslocamentos na cidade. Hoje, o parlamentar pretende entregar um dossiê detalhando todas ameaças sofridas à Secretaria Estadual de Segurança Pública e ao Ministério Público, além de pedir providências.

- O emocional da minha família está abalado. A milícia é um problema de todo o país. Trata-se de uma máfia que já matou uma juíza e não medirá esforços para matar um deputado. Até agora não recebi qualquer informação sobre as investigações da Secretaria de Segurança - afirmou Freixo.

Procurada pelo GLOBO, a Secretaria estadual de Segurança Pública não quis comentar as denúncias contra Freixo e a saída dele do país.

Concluída em dezembro de 2008, o trabalho da CPI das Milícias revelou o domínio territorial de grupos paramilitares. Um dos focos das investigações foi em Campo Grande, onde os irmãos Natalino e Gerônimo Guimarães, respectivamente, ex-deputado estadual e ex-vereador, chefiavam a maior milícia da região.

A CPI, associada aos inquéritos abertos pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), resultaram nas prisões dos políticos e dos milicianos.

Disque-Denúncia

Deputado Marcelo Freixo denuncia plano de atentado contra ele e Beltrame

Informação veio do Disque-Denúncia. Ex-presidente da CPI das Milícias e secretário de Segurança Pública estão na mira de grupo paramilitar

Rafael Lemos
O deputado Marcelo Freixo (Psol) preside a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o tráfico de armas, munições e explosivos no estado do Rio de Janeiro

O deputado Marcelo Freixo (Psol) preside a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o tráfico de armas, munições e explosivos no estado do Rio de Janeiro (Mauro Pimentel / Alerj)

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) foi informado na noite de terça-feira que uma milícia de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, planeja um atentado contra ele e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. A ação, que aconteceria ainda esta semana, veio à tona através do Disque-Denúncia. Só no mês de outubro, esta já é a sexta ameaça a Freixo, que presidiu a CPI das Milícias e é pré-candidato à prefeitura do Rio.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança diz desconhecer a denúncia, mas não nega sua existência. Essa postura provoca indignação no deputado, que teme ter o mesmo destino da juíza Patrícia Acioli (assassinada em 11 de agosto). "Se desconhecem, é porque não estão tomando providência. Nessas horas, penso quantas ameaças a juíza recebeu antes de acontecer o que aconteceu. E eles não fizeram nada. É inadimissível. Temos uma máfia instalada planejando atentados. Estão esperando o quê?", reclama Freixo, que chegou a cancelar compromissos após a denúncia.

Freixo alerta para o perigo da inércia da Secretaria de Segurança diante das constantes denúncias de ameaça contra sua vida. "Sempre que recebo uma denúncia, todos os órgãos de segurança recebem também. Nunca ninguém me procurou. Nunca me chamaram para uma reunião. Nunca é tomada qualquer providência. É disso que venho me queixando. Algumas denúncias são bem detalhadas e mereceriam sim uma ação da polícia", queixa-se o deputado.

As ameaças de morte tornaram-se rotina para Freixo a partir de 2007, quando presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Na época, 226 pessoas foram indiciadas, entre políticos, bombeiros e policiais civis e militares. Depois do assassinato da juíza Patrícia Acioli, as denúncias ganharam uma nova dimensão para Freixo.

No último mês, um documento reservado da Polícia Militar revelava um plano para matar Freixo, que estaria sendo elabaorado pelo ex-cabo da PM Carlos Ary Ribeiro, o Carlão, que fugiu do BEP (Batalhão Especial Prisional) em setembro.



Após ameaças, OAB sedia ato em defesa da vida de Marcelo Freixo

Rio - A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sedia na tarde desta segunda-feira um ato público de caráter suprapartidário em defesa da vida do deputado estadual Marcelo Freixo. O parlamentar presidiu, na Alerj, a CPI das Milícias, que indiciou 225 pessoas entre policiais civis e militares, bombeiros e políticos e, por isso, corre risco de morte.

Segundo a OAB, "a defesa de Freixo é uma questão que extrapola limites partidários e diz respeito a todos os democratas. É inaceitável que o banditismo tome conta da política".

O evento conta com a presença do ator Wagner Moura e do diretor José Padilha, protagonista e diretor do "Tropa de Elite", respectivamente. O sequência do "Tropa de Elite 2: o inimigo agora é outro" falava sobre o crescimento das milícias nas comunidades do Rio.

Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Deputado Marcelo Freixo presidiu a CPI das Milícias | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia

"Espero que a gente saia daqui com algo concreto, para que a gente possa combater essa atrocidade (as ameaças). Um país que não valoriza o direito à vida, que não respeita os direitos humanos, não merece o meu respeito", afimou o ator baiano, cuja fala foi reproduzida no Twitter do Freixo.

O deputado estadual afirmou nesta segunda-feira que apesar das ameaças recebidas, não vai recuar. O ex-PM Carlos Ary Ribeiro, o Carlão, que fugiu do Batalhão Especial Prisional (BEP), em setembro, estaria articulando um plano para executar o parlamentar, que presidiu a CPI das Milícias.

"Esse problema de subir em favelas não é só meu. Mas é um desafio. Já passei por isso na última campanha e tive que deixar de visitar comunidades dominadas por milicianos. Mas agora será diferente. Terei que ter um planejamento, mas vou enfrentar e fazer o que tem que ser feito. Temos que assumir essa fragilidade e enfrentá-la", disse Freixo.

No Twitter, o deputado agradeceu o apoio dos internautas. "Agradeço todas as manifestações de apoio e carinho, as ameaças são resultado do meu trabalho. Não vou recuar".

Ligado a um grupo paramilitar da Zona Oeste, Carlão receberia R$ 400 mil para matar Marcelo Freixo. Após a denúncia, o parlamentar revelou que recebeu reforço na segurança e que está mudando a rotina.

"Recebi a informação na sexta-feira do Serviço de Inteligência da PM. As ameaças aumentaram muito depois da morte da juíza Patrícia Acioli. Essa é uma informação que veio direto da Polícia Militar, por isso tenho que levá-la a sério. Estou com a segurança reforçada e tomo as minhas precauções. Estou mudando a rotina e o que nos resta é aumentar o cuidado", contou.





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